/ May 15, 2025

Baixar o preço médio pode sair caro – 14/05/2025 – De Grão em Grão

Imagine que você tem um carro bem velho e que te dá dor de cabeça e para piorar, você bate. Nada grave, mas amassou a lateral. O mecânico te diz que, por um preço salgado, consegue recuperar a lataria, mas o carro ainda continuará velho, gastando mais combustível do que deveria, e com risco de te deixar na mão. Vale a pena gastar mais para tentar consertar o que já não faz sentido, ou seria mais adequado vender pelo melhor preço?

Foi uma dúvida similar a esta que um leitor enviou esta semana: “Comprei 1.000 ações de MGLU3 em 2019. Houve um momento em que estava ganhando bastante, mas hoje a ação está 88% abaixo do preço que eu paguei. Ela custa R$9 agora. Estou pensando em triplicar o valor investido para reduzir meu preço médio e assim recuperar mais rápido. O que acha?”

Essa ideia de baixar o preço médio é uma armadilha emocional disfarçada de estratégia. A lógica parece simples: se eu comprei a R$80 e agora está R$9, se comprar mais ações a R$9, meu preço médio cai e posso sair no zero a zero com uma alta menor. Só que tem um problema grave nisso: você está decidindo o futuro com base no passado.

A pergunta que deveria guiar qualquer decisão de investimento é outra: se eu não tivesse nenhuma ação de MGLU3 hoje, eu compraria agora? Se a resposta for não, então por que colocar ainda mais dinheiro nela?

Quando insistimos em uma posição apenas porque ela está no vermelho, corremos o risco de transformar uma perda controlada em um prejuízo ainda maior. Essa prática é tão comum que tem até nome na psicologia comportamental: falácia do custo afundado. É quando não conseguimos abandonar uma escolha ruim só porque já colocamos dinheiro ou tempo nela.

É diferente, por exemplo, de situações em que o mercado inteiro caiu, mas a empresa continua sólida, lucrativa e com boas perspectivas. Em 2020, muitos investidores aproveitaram a queda generalizada para reforçar posições em companhias resilientes. Nesses casos, comprar mais pode fazer sentido. Mas isso não tem a ver com o passado da ação e sim com o futuro da empresa.

O problema é quando a única justificativa para investir mais é o desejo de “recuperar” o que foi perdido. A verdade é que o mercado não se importa com o quanto você já perdeu. E ele certamente não vai te devolver esse dinheiro só porque você está frustrado.

A tentação de ajustar o preço médio é compreensível. Afinal, ninguém gosta de ver um investimento no vermelho. Mas é justamente nesses momentos que precisamos ser mais frios. Insistir numa ação só porque ela caiu muito pode ser tão arriscado quanto insistir num carro que já deu sinais de que vai te deixar na mão.

O fato de a ação ter caído bastante não significa que não pode cair mais. Grandes quedas, quando não sustentadas por fundamentos, podem ser apenas o começo de um problema maior.

A regra continua a mesma: não coloque dinheiro bom em negócio ruim. Decida com base nas perspectivas, não no arrependimento. Seu patrimônio futuro não depende do que passou, mas do que você escolhe fazer agora.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

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