/ May 15, 2025

Cariri preserva tradições da identidade cearense – 14/05/2025 – Turismo

“Para agitar o Baixo Leblon, o Cariri”, canta Gilberto Gil em “Banda Um”, do disco homônimo, lançado em 1982. Muito antes da música, no entanto, o Cariri já ressoava na produção de artistas que encontraram, na imensidão verde da chapada do Araripe, um território de beleza bruta, onde três biomas — mata atlântica, cerrado e caatinga — se encontram, formando um retrato da biodiversidade nordestina.

O Cariri é uma região composta por pelo menos 29 cidades do Ceará e outras espalhadas entre Pernambuco e Piauí. Suas principais cidades —Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha— formam a região conhecida como Crajubar.

Em Juazeiro do Norte viveram personagens centrais do catolicismo popular: Maria de Araújo, mulher negra testemunha do milagre da hóstia que teria se transformado em sangue por 47 vezes em sua boca; e Padre Cícero, suspenso das ordens em 1892 e hoje em processo de beatificação.

Desde o século passado, milhares de romeiros peregrinam até o santuário de Padre Cícero, onde uma estátua de quase 30 metros vigia o horizonte. É possível chegar de ônibus, carro ou pelo teleférico Caminhos do Horto (R$ 30, com opção de meia entrada). Dizem que dar três voltas em sua bengala garante o alcance de uma graça.

Cerca de 20 km ao sul de Juazeiro fica Barbalha. É de lá, no Complexo Ambiental Mirante do Caldas, que se tem a melhor vista da chapada. De quarta a domingo, um outro teleférico, de 540 metros leva ao alto do mirante, envolto pela Floresta Nacional do Araripe-Apodi —a mais antiga do país, e lar do soldadinho-do-araripe, ave endêmica e ameaçada. Os ingressos custam R$ 20.

É também em Barbalha que ocorre, todo mês de junho, a Festa do Pau da Bandeira de Santo Antônio, reconhecida como patrimônio imaterial pelo Iphan. Desde 1860, a mais tradicional celebração da região mobiliza multidões de pessoas por ali. O povo vai acompanhando o corte, o transporte e o hasteamento do mastro, em cortejo com promessas ao santo casamenteiro.

A cerca de 20 minutos de carro a oeste de Juazeiro do Norte, chega-se ao Crato, também acessível por VLT e ônibus. É lá que estão três dos 14 museus da região. Instalados nas próprias casas dos mestres de cultura, eles oferecem aos visitantes acesso a um universo de objetos, obras e saberes que dão corpo à cultura sertaneja —que sofreu forte rejeição estética na capital durante décadas, mas hoje é a matriz da identidade cultural cearense.

Na casa do mestre Aniceto, por exemplo, estão instrumentos feito por ele e seus irmãos para a banda cabaçal da família, criada pelo avô deles em 1815, sob influência da ancestralidade dos índios kariri. Na Casa de Telma Saraiva, precursora na arte da fotografia pintada, há um riquíssimo acervo de fotopinturas da década de 1940 e também de negativos e câmeras utilizadas pelo pai da fotógrafa no começo do século 20.

Já na Casa da Mestra Zulene Galdino estão vestimentas e instrumentos usados em celebrações como as quadrilhas juninas, o maneiro pau (uma dança masculina da época do cangaço) e as lapinhas (encenações do nascimento de Jesus e da visita dos Reis Magos). O quintal é palco das terreiradas (como são chamadas as festas nas casas dos mestres) e abriga a horta onde Zulene cultiva suas ervas medicinais.

Além das riquezas culturais, a região também abriga tesouros geológicos, como depósitos sedimentares repletos de fósseis, que registram em detalhes a história da separação do supercontinente Gondwana, ocorrida no período jurássico, dando origem à América do Sul e à África. As rochas sedimentares também absorvem a água da chuva e as devolve ao ambiente por inúmeras fontes cristalinas no sopé da chapada, contribuindo para impedir o avanço da desertificação no semiárido.

A área foi a primeira das Américas a ser reconhecida como um geoparque pela Unesco —e agora, também é candidata a se tornar patrimônio da humanidade.

Para ver de perto os fósseis, o turista deve ir ao Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, em Santana do Cariri, a 50 km do Crato, que guarda peças tão raras como o Ubirajara jubatus. Levado para a Alemanha, o dinossauro voltou ao Brasil em 2022, em uma das maiores repatriações de fósseis da história.

Santana também é destino de peregrinação por abrigar a memória da primeira cearense beatificada pelo Vaticano, a Menina Benigna, que em breve deve ganhar um memorial com capacidade para receber até 100 mil romeiros, além de uma estátua da mártir com 26 metros de altura.

A pouco mais de 13 km, Nova Olinda abriga o ateliê de Espedito Seleiro, mestre do couro que já até assinou uma coleção de mobiliário em parceira com os Irmãos Campana —prova de que tradição e inovação podem, juntas, sustentar uma das mais representativas culturas do Nordeste.

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