Donald Trump disse que um acordo com o Irã está próximo. O que Trump diz se escreve na areia. É lavado e apagado quase a cada maré. Ainda assim, a possibilidade de que o Irã possa voltar oficialmente ao mercado de petróleo e exportar mais deu uma derrubada no preço do barril. Esse tipo de notícia interessa mais e mais à economia brasileira.
A Opep voltou a aumentar oficialmente sua produção, além até do previsto (a ênfase no “oficialmente” se deve ao fato de que uma quantidade relevante de petróleo é vendida atrás dos panos). Prevê-se desaceleração grande da economia mundial neste ano.
Assim, o preço do barril do Brent veio caindo do breve voo nos US$ 80 no início do ano para algo entre US$ 60 e US$ 65. Entendidos dizem que a queda do preço tira produtores americanos do mercado, diminui a oferta, o que talvez sustente os preços por volta de US$ 60. Note-se que os chutes sobre a cotação do barril costumam ser quase tão ruins quanto estimativas de taxa de câmbio.
O Brasil passou a ser também um país petroleiro, embora o tamanho e a relevância da produção estejam bem longe do peso que a commodity tem nas economias de países árabes ou na Rússia.
No ano passado, o valor da exportação de petróleo passou a da soja e foi o maior da lista de vendas do país para o exterior, com mais de 13% do total (deve voltar ao segundo lugar neste ano, mas disputa a ponta).
O preço do petróleo e das demais commodities sustentam as contas externas, parte da renda e dos impostos, além de incentivar investimentos. É bem relevante.
Apenas os dividendos da Petrobras e outras receitas com a exploração de recursos naturais (na maior parte petróleo) foram 5,6% da receita total anual do governo federal. Não entram nessa conta impostos com petróleo, minérios e outras commodities, para os quais não temos dados públicos mensais detalhados.
Em 2022, por exemplo, ano de recorde, quase 10% da receita do governo federal veio apenas da Petrobras (contados dividendos, royalties, participações, impostos). É enorme.
A queda do preço das commodities foi um dos grandes problemas que causaram o desastre da Grande Recessão (2014-2016). Essa tragédia decorreu principalmente do estouro do problema fiscal, da alta da taxa de juros, do fim de tabelamentos de preços de energia e ainda do grande tumulto político (deposição de Dilma Rousseff) e de secas terríveis.
Estamos longe dessa conjunção dos infernos, mas temos adiante motivos de aumento relevante de desconforto, digamos, de resto com o pavio aceso de bombas fiscais, que devem estourar a partir de 2027.
A receita com Petrobras e recursos naturais está praticamente estável faz um ano (antes, levou um tombo também porque a petroleira deixou de pagar dividendos em ritmo de liquidação da companhia, como se fazia sob Jair Bolsonaro).
O índice de preço de commodities (em dólar) em janeiro estava no nível mais alto desde fins de 2022. Começou a cair um tanto desde então. Deve cair mais. A receita do governo e a renda do país devem cair um tanto, pois. O efeito positivo na inflação não vai bastar para redução relevante da taxa de juros, alta a perder de vista.
Prevê-se que o ritmo de crescimento deve cair a zero a partir de meados do ano, o que também deve prejudicar a arrecadação. Não é uma conjunção confortável.