Não sei de vocês, mas eu fiquei sabendo outro dia da existência de uma rede chinesa de fast food que supera o McDonald’s em número de lojas e vende gelo ralado —a tão prosaica raspadinha.
E só tomei conhecimento porque o grupo Mixue anunciou que vai expandir seus tentáculos para o Brasil, na mesma semana em que uma comitiva presidencial foi à China negociar investimentos de infraestrutura com dinheiro asiático.
Admito, se fiquei surpreso é porque sou meio tapado. Não devo ter acompanhado com a devida atenção a mudança de papel chinês no cenário global do último meio século.
Sou velho o bastante para ter testemunhado o assombro do mundo com o retorno da Coca-Cola em 1978 à China —então um regime comunista fechadíssimo que começava a dar piscadelas para o Ocidente.
Claro que da primeira Coca ao carro elétrico houve uma transformação paulatina, mas 2025 vai ficar como um marco histórico nesse processo: foi quando os Estados Unidos desistiram de seduzir o mundo para serem apenas o brutamontes que sempre foram.
O delírio megalômano de Donald Trump isolou os EUA e deixou vago o posto de potência do soft power. E parece que a China se julga apta a assumir essa tarefa.
Falar em soft power chinês é meio engraçado porque o fosso cultural entre nós e eles é gigantesco, muito maior do que com os americanos. É surreal imaginar que venhamos a consumir produtos musicais ou audiovisuais da China —por outro lado, se os coreanos conseguem, por que não eles?
E tem a alimentação. Não dá para falar em uma gastronomia chinesa, são várias. Tem de tudo, até fast food de raspadinha.
Tendemos a pensar em comida chinesa como algo muito distante nos nossos hábitos, mas a real é que somos influenciados por eles há milhares de anos. A maior dessas influências está no consumo de arroz, cereal domesticado no vale do Yangtzé nove milênios atrás.
O arroz viajou com os árabes para Portugal e de lá para cá como parceiro inseparável do feijão.
A receita de arroz que segue é 100% paulistana: foi inventada na churrascaria Rodeio, nos Jardins. É o nacionalmente conhecido arroz biro-biro, assim nomeado porque a batata palha se assemelha aos cachinhos dourados de um antigo volante corintiano.
ARROZ BIRO-BIRO
Rendimento: 4 porções
Dificuldade: fácil
Tempo de preparo: 15 a 20 minutos
Ingredientes
100 g de bacon picado
1 cebola em tiras
4 ovos batidos
4 xícaras de arroz cozido soltinho
2 xícaras de batata palha
Sal e cheiro-verde a gosto
Modo de fazer
-
Refogue o bacon na própria gordura. Reserve a carne e separe um pouco da gordura para os ovos.
-
Na mesma panela, refogue a cebola até ficar ligeiramente dourada.
-
Numa frigideira, faça uma omelete baixa com os ovos. Quando esfriar, corte-a em tirinhas.
-
Junte o arroz cozido à cebola e, quando estiver quente, acrescente o bacon, os ovos e metade da batata-palha. Mexa bem, desligue o fogo, acerte o sal, adicione o cheiro-verde e mexa novamente.
-
Sirva coberto com a batata-palha restante.