O Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária) emitiu um alerta máximo aos auditores agropecuários que atuam em 20 municípios do Rio Grande do Sul localizados na região de Montenegro, onde foi confirmado o primeiro foco da gripe aviária no país.
Segundo informações obtidas pela Folha, a comunicação foi disparada pelo Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal do Mapa, por volta das 09h00 desta sexta-feira (16), aos auditores fiscais federais agropecuários de municípios gaúchos como Erechim, Serafina Corrêa, Miraguaí, Lajeado, Tapejara, Marau, Trindade do Sul, Farroupilha, Garibaldi, São Sebastião do Caí, Caxias do Sul, Westfália e Passo Fundo.
Em algumas dessas localidades, o alerta foi repassado para auditores que atuam diretamente em plantas de empresas como BRF, JBS e Seara, entre outras. O alerta tem caráter urgente e informativo, devido à confirmação do foco de influenza aviária, e pede que os auditores redobrem a atenção sobre os protocolos sanitários da região.
“No presente momento ainda não temos conhecimento das coordenadas da propriedade foco [localidade específica em Montenegro, onde o caso foi confirmado], mas em breve será divulgado de forma oficial pelo Mapa”, afirma o Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal.
O órgão explica, ainda, que novos procedimentos devem ser tomados em breve. “Considerando as implicações do fato solicitamos dar ciência no presente e informamos que o Dipoa [Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal] está elaborando ofício circular com as orientações acerca dos procedimentos a serem adotados”.
Até a publicação deste documento, a divisão do Mapa sugere “manter máxima atenção às atividades de rotina da inspeção de aves, em especial à inspeção ante mortem [exame clínico das aves vivas antes do abate] e certificação sanitária dos produtos”.
China e União Europeia já confirmaram a suspensão da importação de frango do Brasil por 60 dias. O Mapa não confirmou, até o momento, a informação de que faria uma suspensão generalizada da exportação de frango.
Os auditores atuam como um braço técnico e operacional do governo federal em unidades privadas de produção. Na prática, o alerta do governo pretende impedir a entrada de aves suspeitas ou doentes no processo de abate, contaminando a produção. O protocolo também visa garantir a rastreabilidade sanitária, caso surjam sintomas ou suspeitas em outras regiões.
Embora o caso tenha sido identificado no município de Montenegro, demais regiões com alta densidade de granjas e frigoríficos avícolas devem ser alertadas para evitar propagação. Montenegro, que integra a região metropolitana de Porto Alegre, tem cerca de 65 mil habitantes.
O primeiro caso de gripe aviária do país em granjas comerciais tira do Brasil o privilégio de ser o único grande produtor mundial livre da doença. Os reflexos dessa ocorrência serão muitos.
Um relatório produzido nesta semana pelo Ministério da Agricultura apontou que o atual modelo de criação de aves no Brasil é vulnerável a sérios problemas de saúde animal. O texto também destaca riscos sanitários e ambientais que podem facilitar o surgimento e a disseminação de doenças, como a gripe aviária.
A Folha teve acesso ao documento, que acaba de ser concluído pelo Departamento de Saúde Animal da Secretaria de Defesa Agropecuária do ministério. O relatório mostra que, atualmente, existe um vácuo legal provocado pela falta de uma norma nacional que aponte regras sobre o bem-estar de aves na produção, o que seria um campo fértil para a influenza aviária.