/ May 18, 2025

Gripe aviária ofuscou união da Marfrig com BRF – 18/05/2025 – Marcos de Vasconcellos

É, no mínimo, irônico que justamente no dia em que amanhecemos com a notícia da bilionária fusão entre duas das maiores produtoras de proteína animal do Brasil, a morte de uma galinha tenha jogado água no chope de investidores, voltando a encher o mercado de incertezas.

Na noite de quinta-feira (15), a Marfrig, segunda maior produtora de bovinos do mundo (atrás somente da JBS), anunciou sua união total com a BRF, terceira maior produtora de frango do mundo (e segunda do Brasil, também atrás da JBS). Horas depois, na manhã de sexta-feira (16), o Ministério da Agricultura e Pecuária confirmou primeiro foco de gripe aviária em granja comercial no Brasil.

Antes das 9h, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, disse à imprensa que a China, responsável por comprar 10% do frango brasileiro, anunciou a suspensão das importações por conta do risco sanitário. A União Europeia, destino de 4,5% das exportações, seguiu pelo mesmo caminho. As especulações sobre os efeitos apagaram, em grande parte, o brilho da negociação divulgada horas antes.

A fusão, que dará origem à MBRF Global Foods, nasce com números chamativos: sinergias que podem gerar R$ 805 milhões por ano, com, por exemplo, aproveitamento da logística compartilhada e centralização da cadeia de suprimentos. Além da presença das marcas em 117 países.

A união já era esperada desde 2022, quando a Marfrig assumiu o posto de controladora da BRF. Advogados que acompanham o caso dizem que a aprovação pelas autoridades é quase certa, uma vez que se trata apenas de um rearranjo societário de empresas que já compõem o mesmo grupo econômico.

Ainda assim, seus termos chacoalharam as ações. Enquanto os papéis da primeira dispararam em uma alta de mais de 22% em um único dia, os da segunda passaram a maior parte da sexta-feira no vermelho, reféns da gripe aviária, chegando ao fim do pregão com uma leve alta, de 0,78%.

O investidor atento, que leu o Formulário de Referência da BRF, disponível na CVM, sabe que os riscos sanitários e de barreiras comerciais estão entre os principais pontos a atingirem o valor das ações. Especialmente em um ambiente de juros altos e margens apertadas, fica difícil criar novos caminhos ou esperar soluções.

A crise das galinhas soma-se ao cenário financeiro difícil enfrentado pelos produtores rurais. O balanço do Banco do Brasil veio para lembrar que o crédito rural virou dor de cabeça: a inadimplência do agro saltou para 3,04%, quase o dobro do ano anterior, e o banco foi obrigado a reforçar provisões, suspender projeções e ver suas ações despencarem 12% em um dia. O ciclo de margens apertadas, custos financeiros elevados e dependência de crédito bancário ameaça até os campeões de produtividade.

Agora, com a gripe aviária em granjas comerciais, além do risco financeiro, o agro enfrenta risco sanitário. Até mesmo os preços do milho começam a dar sinais ruins, pois, além de todo o cálculo de safras e estoques, entrou na conta a possibilidade de redução na produção de frangos e, assim, na necessidade de alimento para eles.

Eventos como esse lembram que aceitar a complexidade do mundo ajuda mais seus investimentos do que esperar a dica quente com a bola da vez. Normalmente, essa vem furada.


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