Assumir o controle do patrimônio dos pais costuma vir sem aviso. Um dia os pais estão no comando; no outro, uma cirurgia, um susto ou uma fragilidade de saúde muda tudo. É como pilotar um avião em pleno voo, com pouco tempo de treinamento. O avião não é seu, mas agora é você quem precisa garantir que ele chegue com segurança até o destino. Sem errar demais e sem parar para treinar e aprender.
Foi exatamente isto que um leitor compartilhou comigo: o desafio de cuidar do patrimônio da mãe de 79 anos, recém-operada, com gastos mensais altos com cuidadoras e fisioterapia, e uma diferença crescente entre renda e despesas.
Hoje, ela recebe cerca de R$ 7.000 por mês entre aposentadoria e aluguel, mas os gastos com saúde já adicionam R$ 12 mil às despesas. O complemento precisa vir do patrimônio acumulado —algo em torno de R$ 1,43 milhão, dividido entre R$ 300 mil na poupança, R$ 260 mil no Tesouro Direto (60% Selic e 40% IPCA 2029) e R$ 870 mil em previdência privada (VGBL).
Antes de alterar o patrimônio, é necessário um questionamento. Podemos contar com a renda mensal líquida necessária? Por quanto tempo e em que condições?
Considere que a expectativa de vida dela seja de mais 13 anos, ou seja, até os 92 anos. Se assumirmos juros reais, acima da inflação, líquidos de IR de 4,5% ao ano, o filho pode contar com uma renda mensal de R$ 12 mil. Portanto, em linha com o necessário hoje. Lembro, se assumirmos essa renda, ao fim de 13 anos, a mãe não terá nenhum patrimônio financeiro.
Seu desafio é buscar investimentos de baixo risco e com retorno acima de IPCA+6% ao ano bruto de IR. Atualmente, isso não é difícil.
Aqui há duas alternativas. Correr risco ou travar todo o percurso e não se preocupar. Voltando à analogia do avião, o filho pode apertar o botão do piloto automático ou tentar ter ganhos ou benefícios de impostos. Não há resposta certa.
O piloto automático seria dividir todo o patrimônio entre os títulos Tesouro Educa+ 2026, 2031 e 2035. Assim, ele contaria com uma renda real de cinco anos que supera sua meta até sua mãe completar 92 anos.
A segunda alternativa e mais arriscada é tentar gerir o recurso. Nesse caso, duas medidas são urgentes. O primeiro passo é evidente: resgatar a poupança. Embora líquida, rende pouco e não justifica mais sua permanência. CDBs de bancos médios, mantendo o limite da garantia do FGC, rendendo acima dos títulos públicos e de prazos escalonados de 1 a 5 anos, são boas alternativas.
O segundo ponto exige mais atenção. Os fundos de previdência que ele possui deixam a desejar. Gosto da alternativa de previdência como forma de evitar inventário, mas é preciso escolher bem os fundos. Ele deve trocar todos por outros de renda fixa com boa rentabilidade e de baixo risco.
Esse caso não é raro. Ele revela um dilema silencioso que muitas famílias vivem: filhos que assumem o papel de gestores dos pais sem terem acumulado experiência suficiente, e pais que, apesar de terem algum patrimônio, não o deixaram preparado para enfrentar uma fase de maior vulnerabilidade. Revisar onde o dinheiro está aplicado, ajustar os riscos e criar uma estratégia de liquidez pode ser a diferença entre um cuidado improvisado e um cuidado planejado.