Elon Musk afirmou nesta terça-feira (20) estar comprometido em permanecer como CEO da Tesla por mais cinco anos. A declaração teve como objetivo abrandar preocupações sobre o equilíbrio entre seu papel na montadora e seu envolvimento na administração Trump, onde ele tem supervisionado um esforço massivo de redução de custos em toda a burocracia federal.
Musk gastou quase US$ 300 milhões (R$ 1,7 bilhão pela cotação atual) para apoiar a campanha presidencial de Donald Trump e outros republicanos no ano passado e disse também planejar reduzir significativamente seus gastos políticos no futuro.
Após a posse de Trump em janeiro, Musk rapidamente emergiu como uma força poderosa na Casa Branca: hiper-visível, descaradamente audacioso e livre de normas tradicionais.
Ele liderou o chamado Doge (Departamento de Eficiência Governamental), que supervisionou o esforço para eliminar milhares de empregos e cancelar bilhões de dólares em contratos e subsídios, incluindo a grande maioria da ajuda externa dos Estados Unidos de uma maneira frequentemente caótica.
Mas suas visões políticas desencadearam ondas de protestos contra a Tesla nos EUA e na Europa, levando a uma queda nas vendas da montadora. Alguns investidores também estavam preocupados com a falta de tempo que ele tem dedicado à Tesla.
Buscando aliviar algumas dessas preocupações, Musk disse aos investidores no mês passado que reduziria seu tempo com o Doge para um ou dois dias por semana a partir de maio.
As opiniões públicas sobre Musk nos Estados Unidos estão nitidamente divididas ao longo de linhas partidárias, com a maioria dos republicanos dizendo que têm uma visão favorável do magnata da tecnologia e uma parcela esmagadora de democratas dizendo o oposto, de acordo com pesquisas Reuters/Ipsos. No geral, 58% dos entrevistados em uma pesquisa realizada entre 12 e 13 de maio disseram ter uma visão desfavorável de Musk, em comparação com 39% que tinham uma visão favorável dele.
Uma pessoa com conhecimento dos esforços de Musk na administração Trump o descreveu à Reuters em abril como “exausto e exasperado”, especialmente pela reação negativa contra suas empresas.
Na terça-feira, Musk disse que ter “controle razoável” da Tesla era o fator mais importante para permanecer como CEO.
Ele disse no ano passado que se sentia desconfortável em fazer crescer a Tesla como líder em IA e robótica sem ter 25% do controle de votos na empresa.
O bilionário iniciou seu apelo para tentar restaurar seu pacote de remuneração recorde de US$ 56 bilhões (R$ 317,50 bilhões) em março, alegando que um juiz de instância inferior cometeu múltiplos erros legais ao rescindir a compensação.
As ações da Tesla haviam subido brevemente 3,3% com os comentários, mas depois reduziram os ganhos para negociar em alta de cerca de 1%. As ações caíram cerca de 20% este ano desde a posse de Trump em 20 de janeiro, depois de inicialmente dispararem com o otimismo de que a administração abriria o caminho regulatório para a implantação de robotáxis, que Musk apontou como o principal impulsionador do valor de mercado da Tesla.
No início deste mês, a presidente da Tesla, Robyn Denholm, negou uma reportagem do Wall Street Journal que dizia que membros do conselho haviam entrado em contato com várias empresas de recrutamento executivo para encontrar um substituto para Musk.
Musk disse no evento que a Tesla já havia revertido as vendas, e a demanda estava forte em regiões fora da Europa, onde a empresa enfrentou protestos por suas visões políticas e endosso a Trump.
“Em termos de gastos políticos, vou fazer muito menos no futuro”, disse Musk em um fórum econômico no Qatar nesta terça-feira. “Acho que já fiz o suficiente.”
Se Musk, a pessoa mais rica do mundo, cumprir seu plano de reduzir gastos políticos, isso poderia custar a Trump e ao Partido Republicano seu maior doador.
O bilionário, no entanto, não fechou completamente a porta para gastos com política no futuro.
“Se eu vir uma razão para fazer gastos políticos no futuro, eu o farei”, disse Musk.
Seu principal grupo de gastos políticos, America PAC, recusou-se a comentar.
No ano passado, Musk canalizou centenas de milhões de dólares para super PACs alinhados aos republicanos, financiando operações em estados decisivos e campanhas de mídia que ajudaram a amplificar a mensagem de Trump.
Ele também gastou mais de US$ 20 milhões (R$ 113,3 milhões) nesta primavera para apoiar o candidato conservador em uma disputa pela Suprema Corte de Wisconsin, ajudando a transformá-la na disputa judicial mais cara da história dos EUA. Mas seu dinheiro não conseguiu virar o jogo, já que a candidata liberal venceu facilmente em uma eleição vista como um referendo antecipado sobre o segundo mandato de Trump.
A retirada de Musk ameaça privar os republicanos não apenas de um grande doador, mas também da infraestrutura e do alcance que seu dinheiro tornou possível. O partido pode ter que se apoiar mais em mega-doadores tradicionais e intensificar a arrecadação de fundos de base antes das eleições congressuais do próximo ano.
