/ May 20, 2025

Reino Unido e UE costuram novo pacto pós-Brexit – 20/05/2025 – Mercado

Sir Keir Starmer [primeiro-ministro do Reino Unido] disse querer superar as disputas tóxicas do Brexit, mas a mensagem claramente não chegou a Boris Johnson, arquiteto da saída britânica da União Europeia. Para Johnson, Starmer se mostrou “o coxo algemado mastigador de bolas de laranja de Bruxelas”.

Apesar da reação negativa de Johnson e outros eurocéticos ao acordo de “reformulação histórica” com a UE, o premiê britânico e seus assessores garantem que conduziram uma negociação bem-sucedida, que deixou o Reino Unido mais seguro e em melhor posição.

O pacto, apresentado nesta segunda-feira (19), foi resultado de meses de negociações sigilosas, à medida que britânicos e europeus buscavam contornar obstáculos políticos e reparar as relações pós-Brexit em meio à nova era de insegurança global impulsionada pela volta de Donald Trump à Casa Branca.

O acordo, que cobre temas que vão da defesa à pesca, foi fechado por autoridades britânicas e europeias na madrugada de segunda, pouco antes da chegada dos líderes do bloco a Lancaster House, em Londres, para assiná-lo.

Autoridades britânicas disseram que a maratona noturna de negociações não foi apenas encenação. “Foi por um triz”, disse um representante, citando o duque de Wellington. Nenhum dos lados saiu com tudo o que queria.

Deputados do Partido Trabalhista, liderado por Starmer, reclamaram que o premiê não preparou o terreno para o anúncio do acordo, abrindo espaço para que Nigel Farage (Reform UK) e Kemi Badenoch (líder conservadora) classificassem o pacto como um ato de “rendição”.

Aliados de Starmer, no entanto, afirmaram que divulgar qualquer detalhe com antecedência teria enfraquecido a posição britânica nas negociações. “Houve um pedido específico para que não falássemos sobre o tema e não comprometêssemos nossa posição”, disse uma fonte.

Durante meses, Starmer e ministros repetiram que não havia planos para um acordo de mobilidade jovem—o que permitiu que os negociadores britânicos apresentassem essa concessão como uma “vitória” para a UE.

Agora, os dois lados se comprometeram a trabalhar por um esquema que facilite que jovens do Reino Unido e da UE possam viver e trabalhar em seus respectivos territórios.

O problema político para Starmer é que isso o fez parecer que havia cedido em um tema sensível —apelidado pelos conservadores de “livre circulação de jovens”— em um momento de preocupação pública com os altos níveis de imigração.

A UE também ficou insatisfeita. Bruxelas queria um programa generoso e aberto, e não a versão britânica, com cotas e prazos limitados. Londres também recusou, até o momento, a exigência da UE de que estudantes europeus em universidades britânicas paguem as mesmas mensalidades reduzidas cobradas de alunos locais.

A etapa final das negociações começou em 6 de maio, quando o ministro britânico para Relações com a Europa, Nick Thomas-Symonds, admitiu pela primeira vez ao Financial Times que o Reino Unido poderia aceitar um esquema de mobilidade “inteligente e controlado”.

“Foi um sinal importante”, disse um diplomata europeu. A declaração indicava que Londres estava pronta para entrar na fase decisiva das conversas —inclusive no tema delicado da pesca.

O acordo de Johnson com a UE previa acesso de pescadores europeus às águas britânicas até 2026, com renegociação anual a partir de então.

França, Países Baixos e outros membros da UE exigiram que esse acesso fosse tornado permanente e rejeitaram a proposta de Londres de estender o atual modelo por apenas quatro anos.

“Havia um forte sentimento nas capitais de que estávamos cedendo demais aos britânicos sem obter quase nada em troca”, disse outro diplomata europeu.

O presidente francês Emmanuel Macron deixou claro que, se Londres quisesse um acordo veterinário para reduzir burocracias nas exportações britânicas de alimentos para o mercado europeu, então a França exigiria o mesmo período de acesso para seus barcos nas águas do Reino Unido.

Macron expressou essas preocupações a Starmer durante uma viagem de trem a Kiev, em 10 de maio, para reuniões separadas com o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy, segundo fontes britânicas. A delegação do Reino Unido também destacou que o serviço de bordo era melhor no vagão francês do trem.

Mas quando, na quarta-feira, a Comissão Europeia apresentou aos embaixadores do bloco um rascunho de acordo alinhado à visão britânica —com compromissos mais fracos sobre mobilidade jovem e nenhuma ligação entre acesso à pesca e o pacto veterinário— as conversas quase ruíram.

“Houve muita indignação”, disse um diplomata da UE. “O Reino Unido pediu essa reformulação e não quis nos dar nada em troca.”

A imprensa de Bruxelas repercutiu as críticas de diplomatas europeus, que acusaram Londres de má-fé e alertaram que o acordo poderia naufragar.

Durante as negociações do Brexit que levaram ao acordo de Johnson, o então principal negociador da UE, Michel Barnier, insistia que o Reino Unido deveria estar totalmente dentro ou fora do bloco.

Mas um funcionário da UE, comentando a posição britânica na nova rodada pós-Brexit —que permitirá ao Reino Unido voltar ao mercado europeu de energia— afirmou: “Isso é o clássico cherry picking [escolher só o que convém], e nós aceitamos”.

Ellam, em coordenação com Thomas-Symonds e o chefe de gabinete de Starmer, Morgan McSweeney, aceitou a proposta europeia, argumentando que um acordo veterinário permanente também ajudaria a reduzir a burocracia para pescadores britânicos que vendem para o mercado europeu.

As conversas finais no domingo foram feitas por videoconferência. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e sua equipe —incluindo o chefe de gabinete Björn Seibert— estavam em Roma, na cerimônia de entronização do Papa Leão 14. O acordo foi fechado quando chegaram a Londres, mais tarde naquela noite.

“Na prática, estava tudo resolvido às 22h30”, disse um funcionário britânico. Starmer, que acompanhava o desfecho de perto, deu o aval final. Mas britânicos e europeus ainda discutiram detalhes — até sobre a posição de vírgulas no texto — até a madrugada de segunda-feira.

Pouco depois, Starmer recebia von der Leyen em Lancaster House, onde ela declarou estar se iniciando um “novo capítulo” na relação entre Reino Unido e União Europeia.

Mas há ceticismo entre diplomatas europeus sobre quanto desse capítulo será realmente escrito. Um deles disse que os eurocéticos britânicos ainda dominam o debate interno e apontou o fracasso em finalizar o acordo de mobilidade jovem.

“O Partido Trabalhista é fraco demais para enfrentar os fantasmas do Brexit —e sacrificou os jovens por isso”, concluiu.

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