A escalada na disputa pelo mercado de delivery brasileiro dá um novo passo nesta semana com uma ação da 99Food para tentar fidelizar os motociclistas entregadores.
A 99 –que se prepara para trazer de volta ao Brasil o seu serviço de delivery de refeições depois de uma pausa de dois anos– anunciou nesta terça-feira (20) que vai pagar um valor mínimo de R$ 250 para quem fizer, no mesmo dia, 15 viagens com transporte de passageiros ou entrega de objetos e mais 5 viagens para delivery de comida.
Apesar das idas e vindas que enfrenta na Justiça contra o esforço do prefeito Ricardo Nunes para barrar o transporte de passageiros por motocicletas via aplicativo na capital paulista, segundo a empresa, o serviço da 99Moto funciona em outras mais de 3.300 cidades brasileiras.
Se cumprir as 20 corridas por dia no aplicativo da 99Food, dificilmente o entregador poderá trabalhar para outro concorrente. Com a fidelização, a remuneração ficará em torno dos R$ 12,50 por viagem, segundo a empresa.
Na opinião de Gilberto Almeida, presidente do Sindimoto-SP (sindicado de motoboys e motoentregadores do estado de São Paulo), a medida pode incentivar os trabalhadores a elevarem a velocidade no trânsito, piorando as estatísticas de acidentes.
“O ideal seria fazer um regramento, com acordo coletivo, que desse mais segurança ao trabalhador, sem estipular missão ou quantidade de entrega para fazer leilão no trânsito”, diz Almeida.
Na última greve, realizada no mês passado, os trabalhadores pediam a criação de uma taxa mínima de R$ 10 por entrega, o aumento do valor pago por quilômetro rodado de R$ 1,50 para R$ 2,50, a limitação do raio de atuação das bicicletas a até três quilômetros e o pagamento integral pelos pedidos agrupados.
O cadastro da 99Fodd para os motociclistas foi aberto nesta terça (20). A medida não vale para bicicletas.
O início das operações da 99Food no Brasil está previsto para as próximas semanas.
A empresa também promete investir R$ 50 milhões em cinco anos para instalar pontos de apoio nas principais cidades onde vai operar, com banheiros, áreas de descanso e água para os trabalhadores.
Luis Felipe Gamper, diretor sênior de logística da 99, diz que o programa de remuneração para 20 entregas diárias não é uma promoção temporária e que a ideia é mantê-lo sem prazo para acabar.
A ação é mais um capítulo de uma série de movimentações que vêm acontecendo no mercado de delivery brasileiro nas últimas semanas.
Desde que a 99Food anunciou a volta ao país com redução nas tarifas cobradas dos restaurantes, o Rappi também se comprometeu a cortar suas taxas de intermediação. A gigante chinesa Meituan anunciou o lançamento do seu serviço de entrega de refeições Keeta no Brasil para os próximos meses, e o iFood fez uma parceria com a Uber para integrar os aplicativos na tentativa de atrair novos clientes.
Entre as ações de interesse dos trabalhadores, antes da iniciativa da 99Food, o iFood anunciou um reajuste que eleva de R$ 6,50 para R$ 7 a taxa mínima paga a cada pedido no caso dos ciclistas e para R$ 7,50 nas entregas de carro ou moto. O Rappi afirma que seu reajuste, que ainda não foi anunciado, será superior ao do iFood.