O dólar abriu rondando a estabilidade nesta quarta-feira (21), com os investidores de olho nas negociações comerciais dos Estados Unidos e no impasse sobre a legislação tributária do presidente Donald Trump no Congresso americano.
Às 10h21, o dólar caía 0,07%, a R$ 5,663. Na terça, a moeda americana fechou em alta de 0,23%, cotado a R$ 5,667, e a Bolsa fechou em um novo recorde histórico, em valorização de 0,33%, a 140.109 pontos.
No mesmo horário, a Bolsa perdia 0,38%, a 139.575 pontos, após fechar na véspera acima dos 140 mil pontos pela primeira vez, tendo como pano de fundo nesta sessão o avanço de commodities como o minério de ferro e o petróleo, mas queda dos futuros acionários norte-americanos.
Em dia de agenda esvaziada, os investidores também se voltaram às tratativas comerciais do governo Trump e à dívida do governo norte-americano.
Existe uma expectativa por novos acordos tarifários do presidente Donald Trump com outros parceiros do país durante esta semana.
As próximas “duas ou três semanas” guardam novas definições sobre as sobretaxas de importação, segundo afirmou Trump na sexta-feira passada (16). Ele disse ainda que o secretário do Tesouro, Scott Bessent, e o secretário de Comércio, Howard Lutnick, “enviarão cartas essencialmente informando às pessoas” o que “elas pagarão para fazer negócios nos Estados Unidos”.
“Acho que vamos ser muito justos. Mas não é possível atender a todos que querem nos ver”, disse o presidente, acrescentando que são “150 países que querem fazer um acordo”. Ele não disse quantas, ou quais, nações receberiam cartas.
A sinalização indica um recuo do republicano em relação à postura combativa adotada no início do mês de abril, quando anunciou tarifas “recíprocas” aos parceiros comerciais dos Estados Unidos. O tarifaço despertou temores de uma recessão global por causa dos impactos nos fluxos internacionais, o que, por sua vez, instalou pânico nos mercados.
Com o derretimento de índices acionários em Wall Street, queda firme do dólar e, sobretudo, perda de credibilidade no Tesouro dos EUA, Trump suspendeu o tarifaço por 90 dias. A ideia era comprar tempo para negociar com os parceiros afetados.
Por ora, há negociações em andamento com economias como Japão, Coreia do Sul, Índia e União Europeia. Trump recentemente firmou um acordo comercial com o Reino Unido e uma trégua tarifária temporária com a China para ganhar mais tempo para as negociações.
O tarifaço foi imposto sob a justificativa de equilibrar o déficit público dos Estados Unidos. No entanto, há uma legislação tributária proposta por Trump que, caso aprovada, pode acrescentar trilhões de dólares à dívida do governo.
O presidente foi ao Capitólio nesta terça em busca de um consenso quanto ao projeto orçamentário, que não é unanimidade entre os republicanos. Várias alas do partido na Câmara dos Deputados têm expressado insatisfação com a legislação e ainda podem bloquear sua aprovação na Casa.
Trump reconheceu essas preocupações, mas previu que o projeto acabará sendo aprovado. “Não é uma questão de resistência. Temos um partido tremendamente unido”, disse Trump a repórteres ao chegar no Capitólio.
O projeto de lei prevê uma extensão nos cortes de impostos implementados por Trump em 2017, que foram sua principal conquista legislativa no primeiro mandato, e também acrescentaria isenções fiscais sobre a renda proveniente de gorjetas e de horas extras, que fizeram parte de suas promessas de campanha.
Analistas independentes dizem que a medida pode acrescentar de US$ 3 trilhões a US$ 5 trilhões (R$ 17 a R$ 28 trilhões) à dívida de US$ 36,2 trilhões (R$ 205 trilhões) do governo federal.
“Com receios fiscais na economia americana, vimos os juros de 10 anos dos EUA avançarem ao longo do dia e uma maior aversão ao risco. Tipicamente, essa maior aversão afeta de maneira desproporcional os países emergentes, apesar de o movimento hoje ter sido mais comedido, mesmo para os emergentes”, pondera André Valério, economista-sênior do Inter.
Ainda, na sexta, a agência de classificação de risco Moody’s rebaixou a nota de crédito soberano dos EUA. Ao diminuir de Aaa (máxima) para Aa1, a Moody’s afirmou que espera que os déficits federais aumentem para quase 9% do PIB (Produto Interno Bruto) até 2035, em comparação com 6,4% no ano passado, devido ao aumento dos pagamentos de juros sobre a dívida, gastos com direitos adquiridos e uma “geração de receita relativamente baixa”.
Esse rebaixamento acirrou preocupações com o cenário fiscal da maior economia do mundo, levando agentes financeiros a se desfazerem de algumas posições compradas no dólar e nos treasuries, os títulos ligados ao Tesouro dos EUA.
“A preocupação de que o governo norte-americano e o Congresso não vão buscar reequilibrar suas contas fiscais tem trazido uma certa fuga de ativos norte-americanos, e isso ontem beneficiou praticamente todos os ativos arriscados”, avalia Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.
Na cena doméstica, o foco esteve voltado à política do BC (Banco Central). O presidente da autarquia, Gabriel Galípolo, afirmou que o Copom (Comitê de Política Monetária) dependerá de novos dados sobre a atividade econômica e a inflação para decidir o que fará com os juros nas próximas reuniões.
“Faz sentido que os juros fiquem em um patamar restritivo por mais tempo. Agora o momento é de pensar como vamos reagir, e não o que vamos fazer.”
Já na cena corporativa, as ações do setor de educação recuaram em bloco, com analistas e investidores ainda calculando os potenciais reflexos do novo marco regulatório para o ensino a distância (EaD) no país nas companhias do setor. Cogna recuou 7,79% e YDUQS caiu 50,7%. Fora do Ibovespa, Anima cdeu 8,39% e Ser Educacional subiu 2,44%.
O destaque positivo ficou com empresas ligadas à agropecuária. JBS subiu 4,79%, com votação de acionistas sobre a dupla listagem de ações ainda mais perto, enquanto Marfrig subiu 4,31%, BRF, 2,44%, e Minerva, 0,58%.
Vale ficou estável, com valorização de 0,05%, e as ações preferenciais e ordinárias da Petrobras tiveram leves avanços de 0,37% e 0,14%, respectivamente.