O explosivo aumento da fila de espera por benefícios do INSS é mais uma dor de cabeça para o presidente Lula em meio à tentativa do governo de abafar o abalo na sua imagem provocado pela crise do esquema criminoso de desvios do dinheiro dos aposentados e pensionistas.
A fila voltou a subir sob o governo Lula e chegou a valores recordes, atingindo 2,68 milhões de pedidos em abril. É quase o dobro de 12 meses atrás. A maior fila até então tinha sido em junho de 2019, de quase 2,5 milhões de pedidos.
Os números estavam literalmente escondidos, já que desde dezembro passado o Ministério da Previdência Social não divulgava os dados, a despeito das críticas dos especialistas em finanças públicas e da imprensa.
A fila do INSS é um retrato fiel de como a Previdência Social ficou largada sob a gestão do ex-ministro Carlos Lupi e anuência do resto do Palácio.
O pedetista deixou o cargo no rastro das fraudes nos descontos associativos, mas o estrago ficou para ser consertado. Quando Lupi assumiu a pasta, a fila estava em 914 mil. Ele praticamente triplicou o seu tamanho e foi um dos ministros que mais trabalharam para barrar medidas corretivas no pacote fiscal do ano passado.
É um desleixo inaceitável com os segurados do INSS e um problema adicional para as contas públicas. O número de benefícios requeridos chegou em abril a 1,06 milhão. Mais da metade deles —536 mil— é de requerimentos do benefício por incapacidade, concedido aos segurados por motivo de doença ou acidente.
A fila representa despesa represada, que terá que ser absorvida mais cedo ou mais tarde no Orçamento do governo. O custo é sempre retroativo e a fatura vem na forma de correção monetária e juros de mora.
Sem transparência, fica sempre a suspeita, de difícil comprovação, de que o governo deixou a fila crescer para segurar a despesa no curto prazo.
A prática já foi usada por outros governos. Especialistas apontam que o buraco da Previdência pode ser muito maior e alguns falam na necessidade de correção de R$ 20 bilhões nas previsões.