Você já deve ter passado por isso: ao decidir não investir em algo, logo vem alguém e dispara — “como você está pessimista!”. Foi exatamente o que ouvi recentemente, quando me perguntaram quanto acho que um investidor moderado deveria ter em Bolsa Brasil agora. Minha resposta foi direta: zero. E, como já era de se esperar, a réplica veio afiada: “nossa, como você está pessimista!”.
Mas será mesmo?
Contesto esse adjetivo. A escolha entre ativos não deve ser guiada pela régua emocional de otimismo ou pessimismo, e sim por um cálculo racional de risco e retorno. Quando afirmo que não vejo sentido em ter Bolsa brasileira neste momento, não estou projetando um cenário catastrófico para o país ou para as empresas. Estou apenas avaliando que, hoje, a relação entre risco e retorno não é suficientemente atraente.
Quando explico isso, muitas vezes escuto: “mas Bolsa é para o longo prazo”. Concordo — e reforço: é principalmente para o longo prazo. E exatamente por isso minha análise se aprofunda. No longo prazo, o prêmio pelo risco precisa ser ainda mais claro, pois a incerteza é maior, os ciclos econômicos se sucedem e, com eles, as oportunidades e os riscos se transformam.
Aqui vale a reflexão que proponho: quanto um investidor deveria exigir como prêmio para alocar recursos em Bolsa, em vez de simplesmente comprar um título público prefixado para o mesmo prazo? Considero que um prêmio mínimo aceitável seria de 6% ao ano acima da taxa livre de risco. Mas confesso: acho isso baixo, especialmente no Brasil, onde o histórico de volatilidade é generoso e a previsibilidade, escassa.
Hoje, um título público de 10 anos prefixado paga cerca de 14% ao ano. É um retorno certo. Em 10 anos, eu sei que vou ter R$ 508 mil se colocar R$ 137 mil hoje.
Assim, se para correr risco, demando 6% a mais de juros, isso significa que, para eu me dispor a investir em Bolsa, deveria acreditar que ela teria valorização esperada próxima de 20% ao ano. É um número que, quando colocado no papel, assusta: para o Ibovespa sair dos atuais 137 mil pontos e crescer 20% ao ano, ele precisaria atingir, em 10 anos, cerca de 848 mil pontos. Você realmente acredita que isso é provável?
Eu não.
Talvez você diga: mas ele pode subir no próximo ano com uma troca de governo. Então não era para longo prazo? Era só um tiro curto?
Ou talvez você diga: mas eu não compro o Ibovespa. Muitos leitores aqui já responderam isso. Entretanto, 90% dos gestores profissionais com equipes especializadas perdem do índice. Fico pensando se esse que criticou realmente mede seus resultados ou só acredita fazer parte dos 10%. Conheço alguns dos gestores que estão nestes 10%. É uma possibilidade eles continuarem com bons resultados.
Claro, pode ser que estes gestores ou a Bolsa subam, quem sabe 15% ao ano e vençam a renda fixa. Mas o risco incorrido nesse caminho não me seduz. Para mim, risco e retorno devem caminhar juntos. E, quando a oportunidade de ganhar 14% ao ano está disponível com títulos públicos de prazos longos, líquidos e com certeza de ganho, não vejo por que assumir a montanha-russa emocional e financeira que a Bolsa brasileira representa hoje para talvez ganhar 1% a 2% a mais.
Isso não significa que eu despreze ações ou que ache que elas não têm lugar nas carteiras. Muito pelo contrário: o investimento em renda variável é, sim, essencial em determinados contextos, mas precisa ser feito com consciência, estratégia e — principalmente — com uma noção clara do prêmio que se está exigindo e do risco que se está aceitando.
Também não vale justificar no convencional: estou diversificando. Diversificar não é dividir os investimentos em qualquer coisa mesmo sem prêmio por risco.
No fim, não se trata de pessimismo, mas de lucidez. O investidor que escolhe não investir em Bolsa neste momento não está dizendo que o país não vai crescer ou que as empresas não terão lucros. Ele está apenas dizendo que, para o risco que a Bolsa representa hoje, há alternativas mais racionais e com balanço de retorno por risco mais atrativas.
E talvez o maior erro que um investidor possa cometer seja justamente esse: confundir uma decisão racional com um estado de espírito.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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