/ May 24, 2025

Aeroporto de POA: Poder público é lento, diz CEO – 24/05/2025 – Mercado

Mais de um ano após o fechamento do aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, por causa das enchentes que devastaram o estado no ano passado, as obras públicas para a prevenção de novas inundações caminham em ritmo lento. É a avaliação Andreea Pal, CEO da Fraport Brasil, concessionária que administra o terminal da capital gaúcha.

Segundo ela, a companhia mantém contato diário com as autoridades e acompanha as obras previstas pelo governo e pela prefeitura para melhoria da infraestrutura da cidade.

“Se você fizer uma pequena pesquisa, a cidade quer consertar o dique, mas a Justiça para a construção por causa das moradias ilegais que não querem sair de lá. Há uma lentidão das organizações públicas para fazer obras, mas há também essas situações jurídicas que, para mim, são bem curiosas”, afirma Pal.

Procurado pela Folha, o Dmae (Departamento Municipal de Água e Esgotos), uma autarquia municipal, disse que as obras do dique do Sarandi, na zona norte de Porto Alegre, foram paralisadas por decisão da Justiça para acolhimento de 57 famílias que vivem sobre ou junto à estrutura. De acordo com o órgão, o reassentamento é feito por meio do programa Compra Assistida, do governo federal. As intervenções serão retomadas assim que este processo for concluído, escreveu em nota.

Segundo Pal, o aeroporto já voltou ao normal, e as operações não sofrem mais restrições. A concessionária afirma que o custo para a reconstrução do aeroporto de Porto Alegre é de aproximadamente R$ 560 milhões.

No ano passado, foi aprovada uma medida cautelar que permitiu o repasse de quase R$ 424,7 milhões à concessionária, sendo R$ 362 milhões destinados à reconstrução e R$ 62,7 milhões à manutenção das atividades aeroportuárias.

“Agradecemos muito que o governo atuou exatamente seguindo o contrato de concessão. A gente conseguiu recuperar, agora estamos superando. Agora não é mais importante falar de sair da concessão. O problema foi a reconstrução.”

O fechamento do aeroporto, devido às enchentes, ocorreu há pouco mais de um ano. Como isso aconteceu?

Bom, o aeroporto fechou à tarde, não me lembro exatamente a hora, mas deve ter sido às 17h ou 18h. Nesse momento, praticamente todos os voos regulares já deixaram o aeroporto.

Ficamos aqui com um cargueiro que ficou alagado no pátio. Ainda tínhamos bastante passageiros que ficaram presos no terminal, e a gente trabalhou com caminhões de nossos bombeiros para ajudar as pessoas a saírem do aeroporto e entrar na cidade. Foi bem intensivo. Foram os primeiros dias.

Depois ficou um grupo de quase 20 funcionários que moraram por 23 dias no terminal. Desconectamos imediatamente tudo que era elétrico para evitar choques por causa de água. Conseguiram tirar um dos geradores, colocar em um nível mais alto para ter um pouco de luz, para poderem se comunicar conosco e com outras autoridades.

Nosso time, que ficou na cidade, comprava comida, água, combustível e abasteciam em um ponto que era a uns 2 km ou 3 km do aeroporto. Era um ponto onde nosso funcionário [que estava morando no aeroporto] chegava com o barco, e os outros funcionários chegavam de carro e entregavam tudo isso que foi comprado para eles. Foi assim, um pesadelo.

Qual foi o impacto financeiro para a concessionária?

A gente recebeu, via medida cautelar, um valor de R$ 424 milhões, que foi suficiente para a recuperação da infraestrutura, e ainda estamos em discussões com a agência sobre o valor de impacto no lucro operacional.

Na época, a sra. chegou a dizer que, se não recebesse esse dinheiro, a Fraport entregaria a concessão. Acha que a atuação do governo federal e da Anac foram satisfatórias?

Nosso problema em maio e em junho do ano passado foi que ficamos de frente a uma infraestrutura que estava mais de 50% destruída –e por uma causa que definitivamente foi declarada como força maior. Nessa situação, a Fraport simplesmente não tinha a possibilidade de refazer o aeroporto.

Com o dinheiro recebido, agradecemos muito que o governo atuou exatamente seguindo o contrato de concessão. A gente conseguiu recuperar, agora estamos superando. Agora não é mais importante falar de sair da concessão. O nosso problema foi a reconstrução.

Então não existe mais essa ideia de devolver a concessão?

A ideia nunca existiu. Eu tenho que corrigir, porque tudo o que aconteceu ano passado foi também um erro de comunicação de todos os lados. Da gente e também de outros.

A gente só falou: “Não conseguimos recuperar esse aeroporto porque a gente não tem essa possibilidade financeira, simplesmente. Se é para reconstruir, precisamos do dinheiro do governo.” Um aeroporto que não funciona porque está destruído, claro que você devolve a concessão. O que quer fazer com ela?

Como está a situação hoje? O aeroporto voltou totalmente ao normal?

O aeroporto foi recuperado. A operação sem limitações começou já em 6 de dezembro. A gente tinha poucas coisas para finalizar, que não impactam na operação do dia a dia, são mais [coisas] internas nossas, que já estão finalizadas ou vão finalizar neste mês.

Estamos vivendo uma recuperação bem rápida do número de passageiros. O número de lojas aumentou, abriram depois da enchente.

Infelizmente, ainda não recuperamos [o número de passageiros de] 2023, mas esperamos chegar lá agora na metade do ano. E não recuperamos 2019. Praticamente, ainda sentimos o impacto da Covid no número de passageiros e nas finanças.

Daqui para frente tem mais algum investimento a fazer para recuperação do aeroporto?

Não, para a recuperação está tudo feito.

O aeroporto vai investir em alguma obra para prevenir novas enchentes no terminal ou isso depende do governo do estado?

Cada aeroporto tem um sistema de drenagem. A microdrenagem cuida para que a pista não seja alagada em caso de chuva. E existe uma macrodrenagem, que tem o papel de tirar a água da chuva que cai no aeroporto, tirá-la do sítio aeroportuário.

No nosso caso, aqui em Porto Alegre, a gente está abaixo do nível da cidade, e a drenagem da cidade praticamente não existe. Toda a água de chuva que cai na grande parte da cidade —não toda a cidade, mas a parte que está aqui vizinha— se acumula no aeroporto. Praticamente 80% ou 90% da água que se acumula no aeroporto não é da área aeroportuária, é da cidade.

A gente sabia disso quando entramos na concessão, e construímos bacias de detenção. Para se ter uma ideia, temos uma superfície de 400 piscinas olímpicas de bacias, que capturam essa água e depois transferem e bombeiam em um ritmo mais devagar para o rio.

Com isso, praticamente, solucionamos o problema de alagamento na área aeroportuária, mas para condições normais de chuva. O que aconteceu ano passado foi completamente diferente. A água chegou de outros lugares de onde ela não deveria chegar por causa da [ineficiência de] medidas de proteção contra enchentes que essa cidade já tem.

Temos um dique aqui que, se não tivesse sido praticamente destruído por construções ilegais, deveria ter parado a água. Temos estações de bombeamento, temos uma série de medidas que, se tivessem funcionado, isso não teria acontecido.

O que deve ser feito agora é consertar tudo isso e, assim, já estaremos em uma situação muito melhor. As medidas são fora do sítio aeroportuário, não no aeroporto.

A Fraport tem acompanhado isso com o governo do Rio Grande do Sul?

A gente conversa diariamente com eles.

Se você fizer uma pequena pesquisa, a cidade quer consertar o dique, mas a Justiça para a construção por causa das moradias ilegais que não querem sair de lá. Há uma lentidão das organizações públicas para fazer obras, mas há também essas situações jurídicas que, para mim, são bem curiosas.

Então, na sua opinião, as obras estão lentas? É a burocracia que atrapalha?

Provavelmente, sim. A cidade tem um projeto, a gente está seguindo, mas, em um ano, não aconteceu tanta coisa. A gente foi muito mais rápido aqui no aeroporto.

A Fraport já presenciou enchentes dessa proporção em alguma outra concessão fora do Brasil?

Não, foi uma experiência única, e espero que fique assim.


RAIO-X | ANDREEA PAL, 64

CEO da Fraport Brasil desde 2017, atuou no gerenciamento executivo e como CFO no Northern Capital Gateway, consórcio para administração do aeroporto de Pulkovo, em São Petersburgo, Rússia. De 2009 a 2010, foi CEO da Dorsch Holding GmbH, empresa alemã de engenharia e infraestrutura. Também foi vice-presidente sênior da Fraport AG, em Frankfurt, responsável pelo portfólio global de aeroportos e outros investimentos. Anteriormente, lliderou a equipe de gestão de tecnologia e inovação, além de ocupar outras posições, na Lahmeyer AG, empresa de engenharia do setor de energia sediada em Frankfurt

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