O empresário Nelson Tanure fez uma oferta para a aquisição do controle da petroquímica Braskem, a maior companhia do segmento na América Latina. Atualmente, a empresa é controlada pela Novonor (ex-Odebrecht), que detém 38% da companhia (sendo 50,1% das ações com direito a voto), e pela Petrobras, com 36,1% da participação no negócio.
A Novonor informou à Braskem que celebrou uma obrigação de exclusividade com Tanure para a negociação dos termos e condições.
Em nota, a assessoria do empresário explicou que a proposta foi feita por meio do fundo Petroquímica Verde. Seu objetivo, diz, é contribuir com a estabilidade e o futuro da Braskem, empresa vista por ele com “enorme potencial de crescimento”.
“Nosso compromisso é com o longo prazo, com a indústria nacional e com a construção de uma Braskem ainda mais forte, inovadora e alinhada aos desafios da nova economia. Seus fundadores, a família Odebrecht, a conduziram ao longo de mais de 20 anos e a alçaram à posição de sexta maior petroquímica do mundo. Nós acreditamos que ela tem potencial para alcançar a quarta posição. E o que é mais importante: pode se tornar a primeira petroquímica verde”, disse Tanure em nota.
A aquisição será feita pela transferência das ações que hoje pertencem à Novonor. Nos bastidores, o que se comenta é que Tanure preservaria a companhia no quadro de acionistas, porém com uma fatia minoritária entre 3% e 5%.
Segundo o investidor, a Petrobras terá papel essencial nesse período de transição energética por uma indústria mais sustentável e disse que não há futuro promissor para a Braskem sem uma atuação conjunta, construtiva e duradoura ao lado da petroleira.
A Braskem possui praticamente todos os grandes bancos na lista de credores. Para assumir o controle da companhia, Tanure teria que negociar com Itaú, Bradesco, Santander, Banco do Brasil e BNDES, além da própria Petrobras.
O problema com os bancos foi adquirido pela Novonor nos desdobramentos da operação Lava Jato. A antiga Odebrecht teria colocado suas ações na petroquímica como garantia de R$ 15 bilhões em dívidas com as instituições financeiras —cifra superior ao valor de mercado da própria Braskem. Desde então, a Novonor tem sido pressionada a diminuir sua participação na companhia.
Tanure afirmou que o primeiro grande desafio é o acordo com os principais credores.
Com uma situação financeira complicada, a petroquímica lida com a escalada de sua dívida, afetada principalmente pela baixa nos preços da indústria global. No primeiro trimestre deste ano, a dívida líquida chegou a US$ 6,6 bilhões, alta de 25% na comparação com o mesmo período de 2024.
Após a resolução do acordo com os bancos, Tanure disse que existem três frentes importantes para resolver neste processo de negociação pelo controle da Braskem.
A primeira é encontrar uma solução definitiva para o problema ambiental em Alagoas, tido como “condição indispensável para destravar valor”. Ele se refere ao afundamento do solo causado pela exploração de sal-gema, situação que já retirou mais de 60 mil pessoas de seus lares, em Maceió, e rendeu o pagamento de R$ 17,7 bilhões em indenizações, obras de contenção e provisões adicionais.
A segunda está relacionada à trajetória de crescimento, com a transformação do polo de Camaçari (Bahia), em um centro de inovações da petroquímica verde no país, e a potencialização do polo do Rio de Janeiro, em parceria com a Petrobras, para o aproveitamento sustentável do gás do pré-sal.
Por fim, será necessária a construção de um plano para reduzir a alavancagem da Braskem e fortalecer sua estrutura de capital. Os detalhes do acordo serão fechados entre Tanure e a Novonor nas próximas semanas.
A Braskem encerrou as negociações desta sexta (23) na B3 com alta de 7,5%, negociada a R$ 10,99 —valor ligeiramente abaixo do pico do dia, quando os papeis chegaram a valer R$ 11,25. Em um ano, as ações da companhia desvalorizaram mais de 45%.
Até o fechamento do mercado nesta sexta, a petroquímica era avaliada em R$ 8,1 bilhões.
PEGA DE SURPRESA
Em fato relevante divulgado após o fechamento do mercado, a Braskem disse que procurou a Novonor após a publicação de reportagens sobre a intenção de compra de Tanure na participação da antiga Odebrecht.
A Novonor afirmou à Braskem que entre as condições para aprovação da proposta estarão o cumprimento de obrigações da Novonor com a Petrobras e a conclusão de uma negociação “satisfatória” com os bancos detentores das alienações fiduciárias das ações detidas pela Novonor
A APOSTA DE TANURE
Um dos maiores investidores do mercado brasileiro, Nelson Tanure é conhecido por apostar em empresas com dificuldades financeiras para reestrurá-las e vendê-las por um valor maior depois. O empresário adota uma linha mais arrojada nos investimentos, organizada por meio de fundos e estruturas societárias complexas.
Atualmente, ele é controlador da Prio (antiga PetroRio), detém participações na Light e na Alliança Saúde, além de ser um dos maiores acionistas da Gafisa –posto que lhe rendeu problemas com a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) em um processo sancionador por violações da legislação. No ano passado, ele foi absolvido pelo órgão.
No final do ano passado, Tanure adquiriu o controle da rede de supermercados Dia Brasil e, mais recentemente, diminuiu para menos de 5% a participação que detinha no Grupo Pão de Açúcar após uma tentativa malsucedida de controlar mais vagas no conselho da companhia.
Pelo tom da carta assinada à imprensa, a aposta de Tanure na Braskem está em torná-la um centro de produção de petroquímicos de base renovável. O processo já está em desenvolvimento na companhia e Tanure pode potencializar o negócio em escala global.
A CRISE NA BRASKEM
Na Braskem, além da crise financeira atenuada pela baixa no ciclo da indústria petroquímica mundial, a companhia ainda lida com uma grave crise de imagem, decorrente de desastres ambientais na operação de Maceió. A área afundada pela mineração de sal-gema corresponde a 20% do território de Maceió e rendeu uma série de processos na Justiça.
Envolvida diretamente na operação Lava Jato, a Braskem também firmou um acordo de leniência com autoridades do Brasil, Estados Unidos e Suíça, admitindo participação em esquemas de pagamento de propinas a políticos em troca de contratos públicos e facilidades regulatórias. Parte do acordo de leniência assinado em 2016 envolveu o pagamento de R$ 3,1 bilhões em multas.
Em 2019, a companhia ainda firmou uma acordo com a CGU (Controladoria-Geral da União) no valor de R$ 2,8 bilhões. Pelos termos celebrados, os pagamentos se encerrariam em janeiro deste ano, porém, no final do ano passado, a companhia acertou o alongamento da dívida com o pagamento de R$ 35 milhões em 2025, R$ 35 milhões em 2026, R$ 55 milhões em 2027 e parcelas de R$ 158 milhões cada em 2028, 2029 e 2030.