/ May 24, 2025

Cemitério privatizado sobe preço para bancar baixa renda – 24/05/2025 – Painel S.A.

As privatizações chegaram ao mercado funerário, mobilizando fundos de investimento e consultorias especializadas em negócios que vão desde a concessão de cemitérios públicos à compra de empresas familiares relacionadas a cerimônias, enterros e cremações.

O modelo de concessão, contudo, gera questionamentos por, em muitos casos, encarecer os serviços para a classe média, forma de subsidiar óbitos para a baixíssima renda, que não paga nada por isso. É o que afirma o empresário João Paulo Oliveira, sócio e diretor da Colina dos Ipês. Seu grupo assumiu a concessão do cemitério de Cotia (SP) em um negócio intermediado pela Volt Partners. Mesmo assim, ele defende a privatização.

Como encara críticas de mercantilização desse setor, principalmente após as privatizações?

Tenho cemitérios particulares em Suzano e Guarulhos [ambos em São Paulo] e administro uma concessão pública em Cotia. Em Suzano e Guarulhos ninguém critica pelo que faço. Em Cotia, temos esse questionamento de uma parcela da população. Dizem que estou usurpando as pessoas.

Isso devido ao aumento de preços de funerais?

Sempre dou o exemplo das rodovias. Quem não quer rodar em um asfalto bom, com segurança, telefone de SOS e iluminação à noite? Mas tem um custo para isso. No caso dos funerais, é preciso um aparato para atender as pessoas.

No caso das concessões no meu segmento, o modelo de contrapartida prevê a proteção da população mais carente, que tem direito a um serviço 100% gratuito, com todo o atendimento: caixão, transporte, arrumação, sepultamento e três anos de corpo sepultado. Preciso custear isso. Não tem como fazer a rodovia funcionar sem alguém estar pagando essa conta. O modelo de concessão ainda está sendo testado.

A concessão pode não ser o melhor caminho nesse caso?

O ramo cemiterial é muito oneroso para as cidades, por ineficiência das prefeituras. Em Cotia, por exemplo, a prefeitura operava, antes da concessão, com mais de 70 funcionários. Nós operamos o mesmo serviço com 40, porque somos especialistas e eficientes.

Como está o Brasil na comparação com outros países?

Atrasado. Existem grupos gigantescos nos EUA, com mais de 300 cemitérios. No Brasil, ainda é muito complexo formar algo dessa proporção.

Por quê?

Todo o território dos EUA funciona com livre mercado. É possível montar um cemitério como se monta uma padaria ou uma farmácia. No Brasil, cada cidade cria uma legislação. Em Guarulhos, por exemplo, não se pode mais fazer cemitério vertical. Além disso, o licenciamento de cemitérios hoje pode levar de 1 a 15 anos. É difícil colocar isso no business plan [plano de negócio].

Mas vocês estão no mercado há 20 anos. Algo deve ter evoluído.

Muita coisa. O tempo de velório é um exemplo. Antigamente, o habitual era seis horas. Hoje em dia as pessoas querem fazer cada vez em menos tempo, em duas horas. É um sintoma dos tempos modernos, de ser tudo imediato, como o Instagram. As pessoas querem passar logo pelas coisas e já ir para o próximo sentimento. Só que o luto tem que ser vivido, não é algo que você desliga uma chave e passa. Por outro lado, a aprovação da lei de planos funerários, em 2016, mudou muito a dinâmica do negócio.

Como?

Antigamente, as empresas eram familiares ou religiosas, porque não existia uma regulamentação específica. Com a criação da lei de planos funerários houve a profissionalização do segmento. Vários grupos começaram a crescer, a se solidificar e até se fundirem. Surgiram muitas empresas.

O que motivou o crescimento da busca por planos funerários nos últimos anos?

A Covid foi um grande motivador, ela trouxe a consciência para todos que qualquer um está passível de perder alguém.

Qual o faturamento anual da Colina?

Hoje não divulgamos esse número.

E a porcentagem de crescimento anual?

Crescemos nos últimos 10 anos acima de 20% ao ano.


RAIO-X

João Paulo Oliveira, 38

1987, São Paulo —Iniciou sua carreira com vendas e ensaiou uma migração para o setor de energia. Filho do fundador do Grupo Colina, tornou-se sócio e diretor de cemitérios. Possui graduação em administração pela Fundação Getúlio Vargas e MBA em Marketing pela Fundação Instituto de Administração da USP.


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