/ May 25, 2025

Por que explicamos tanto o passado, mas seguimos errando o futuro? – 24/05/2025 – De Grão em Grão

Nesta semana, um amigo que não é do mercado me pediu uma sugestão de plataforma que explicasse as razões por trás dos movimentos dos ativos agora. É um pedido recorrente — como se bastasse encontrar uma explicação para decidir o que fazer amanhã.

Seria como recorrer a um canal de meteorologia que passa horas justificando por que choveu ontem, mas se esquece de avisar se precisamos sair com o guarda-chuva amanhã. E existem vários canais como esse para o mercado financeiro.

Aqui no escritório, por exemplo, a Bloomberg Television fica ligada o dia inteiro. Sem dúvida há entrevistas muito interessantes e é importante saber outras visões para o cenário futuro. O problema é o foco maior na explicação do passado. A cada instante, há um analista, gestor ou especialista que explica por que a Bolsa está caindo naquele momento ou os juros estão subindo.

Sempre me intriga essa obsessão de tantos investidores em explicar os últimos movimentos do mercado, como se, ao decifrar o passado, pudessem enxergar com nitidez o que está por vir. Ao longo do dia recebo várias ligações e mensagens no Whatsapp questionando: por que está caindo?

Essa tendência humana tem nome: “falácia da narrativa”. Nassim Taleb descreve como nossa compulsão por construir histórias coesas para eventos aleatórios nos oferece conforto, mas pouca utilidade. Quando o Ibovespa sobe ou cai, surgem inúmeras análises que, à luz do retrovisor, fazem parecer que tudo era óbvio. Só que raramente é.

O perigo dessas explicações retroativas é que criam uma falsa sensação de controle. Daniel Kahneman, Prêmio Nobel de Economia, chamou isso de “viés retrospectivo”: a crença ilusória de que o passado era mais previsível do que realmente foi. Esse viés nos faz superestimar nossa capacidade de antecipar o futuro e, pior, induz muitos a estratégias frágeis, baseadas em certezas que não existem.

Philip Tetlock, autor do livro Superprevisões, em suas pesquisas sobre previsões, mostrou que os melhores preditores não são os que contam as melhores histórias sobre o passado, mas aqueles que aceitam a incerteza e pensam em termos de probabilidades. O bom investidor, assim como o bom meteorologista, não fala em certezas, mas em cenários possíveis.

É por isso que Howard Marks costuma dizer: “você não pode prever, mas pode se preparar”. Investir não é um exercício de adivinhação, mas de construção de portfólios que resistam bem aos diversos caminhos que o futuro pode tomar, mesmo que hoje não saibamos qual deles se realizará.

Explicar o passado é como analisar o extrato da carteira: revela onde estivemos, mas não orienta, por si só, os próximos passos. O que realmente importa é entender que o futuro é incerto, mas não incontrolável. Podemos e devemos atribuir probabilidades, estruturar cenários e tomar decisões conscientes.

Por fim, vale lembrar as palavras do físico Richard Feynman: “você não deve se enganar — e você é a pessoa mais fácil de enganar”. No mercado, essa autoilusão costuma vir disfarçada de explicações sedutoras sobre o que acabou de acontecer, quando, na verdade, deveríamos estar concentrados em como agir diante do que ainda não aconteceu.

Que tal, então, parar de procurar gurus e plataformas que prometem explicar o passado — e começar a buscar estratégias que te preparem para o futuro?

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

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