João Fonseca, 18, está em seu primeiro Roland Garros como profissional. Thiago Monteiro, 30, o outro brasileiro na chave masculina de simples, está no décimo. Quando os dois se encontraram no vestiário da quadra central, a Philippe-Chatrier, antes dos treinos de sexta-feira (23), o novato não pôde deixar de comentar com o veterano sobre o seu fascínio.
“Pô, eu não conhecia este vestiário. É muito bom!”, disse Fonseca, bem-humorado, segundo o relato do compatriota. “Estou surpreso com esse locker [armário]. É muito grande! Eu não conhecia esta parte do clube. Só conheço o outro lado, só joguei juvenil aqui.” Fonseca se referia à diferença das instalações entre as quadras principais, reservadas aos melhores do circuito, e as secundárias.
Para Monteiro, essa descontração pode ser crucial para Fonseca superar um adversário mais temível que o polonês Hubert Hurkacz (31º do ranking), rival na primeira rodada: a expectativa em torno de sua estreia no saibro parisiense.
“É desfrutar do momento, jogar solto, independente de toda a expectativa em cima dele”, disse Monteiro, questionado sobre o conselho que ele mesmo teria gostado de ouvir dez anos atrás. “Sinto que ele [Fonseca] não precisa ter essa obrigação [de ganhar]. Trazendo o nível que ele vem trazendo, sem dúvida, ele tem grande chance de fazer frente a qualquer outro jogador.”
De fato, o dever de ganhar é do polonês, dez anos mais velho e 34 posições à frente do brasileiro no ranking. “O jogo contra o Hurkacz vai ser bem difícil”, reconheceu Fonseca. “Um jogador com que eu nunca treinei, experiente no tour. Vai ser uma experiência nova. Não é a melhor superfície dele, mas, do mesmo jeito, ele já foi top 10 [foi sexto do ranking em 2024], então vai ser muito difícil.”
O confronto deve ser disputado na segunda-feira (26). O site oficial da competição ainda não divulgou o horário exato.
Perguntou-se muito sobre pressão na entrevista coletiva que Fonseca concedeu nesta sexta. O “Media Day” (dia da mídia) é um evento padrão do calendário de Roland Garros. Nele, os jogadores são obrigados a enfrentar os jornalistas. Ao mesmo tempo, livram-se de uma obrigação estressante e podem dedicar mais tempo aos treinos.
Nos últimos meses, o estafe de Fonseca tomou medidas para protegê-lo do excesso de demandas gerado por sua ascensão precoce.
“Estarem me protegendo de expectativas, de pessoas falando muito, eu acho que é muito bom”, disse o carioca à Folha. “Eu tenho a mesma visão: quanto mais eu estiver focado no meu tênis, no que eu tenho que fazer nas minhas rotinas, e não focado na mídia, nas expectativas que as pessoas falam, nas comparações, acho que o meu tênis vai melhorar e eu vou ter uma carreira mais bem-sucedida.”
Depois do Aberto dos Estados Unidos do ano passado, em que Fonseca foi eliminado na última rodada do “qualifying”, a família oficializou Gustavo Abreu como “manager” do jogador. Abreu, 50, foi colega de mercado financeiro do pai de João, Christiano (conhecido como Crico), e já vinha trabalhando informalmente com Fonseca. Ele cuida de livrar o jovem dos incessantes convites para entrevistas, palestras, vídeos com influenciadores e distrações que possam tirar seu foco. Tudo em nome, explica, do “projeto”.
Desde o ano passado, Fonseca também conta, em seu entorno, com a experiente assessora de imprensa Diana Gabanyi, que trabalhou com Gustavo Kuerten durante toda a sua carreira e atualmente também cuida da comunicação dos outros dois brasileiros na disputa de simples de Roland Garros neste ano, Thiago Monteiro e Bia Haddad.
“Não é que eu não goste de falar sobre a pressão”, concluiu Fonseca. “Só acho que tenho que evitar, não preciso ficar também pensando sobre isso o tempo inteiro, mas sim no que eu tenho que fazer: trabalhar, melhorar, evoluir.”
Na sexta (23), Fonseca treinou na quadra Simone Mathieu, a terceira principal do complexo de Roland Garros, com o grego Stefanos Tsitsipas, 20º do ranking (e ex-número 3).
Um buzinaço na avenida adjacente à quadra chegou a perturbar o treino durante alguns minutos. O barulho forte deixou intrigado o argentino Franco Davin, um dos treinadores de Fonseca. Era um protesto de taxistas franceses contra o corte de um subsídio bilionário que eles recebem pelo transporte de enfermos. Greves e Roland Garros são duas tradições nacionais francesas.