/ May 25, 2025

Apagão genético brasileiro pode aprender com a Estônia – 25/05/2025 – Ronaldo Lemos

Podemos celebrar. Os resultados da primeira pesquisa abrangente sobre o DNA brasileiro foram publicados. Nesta etapa, foi analisado o genoma de 2.723 pessoas em diversas regiões do Brasil, revelando 8,7 milhões de variantes não mapeadas.

Como o Brasil ainda engatinha na área, a presença do nosso genoma em bancos internacionais de pesquisa é ainda muito pequena. O que é uma pena: esses dados são usados para pesquisas de doenças e tratamentos, com impacto positivo na saúde no país.

Felizmente o apagão genético brasileiro começou a ser revertido. Parabéns à professora Tábita Hünemeier e à pesquisadora Lygia da Veiga Pereira, como também aos investidores que apostaram nesse trabalho desde o início, públicos e privados.

O projeto brasileiro é promissor e pode aprender lições com outro país mais adiantado: a Estônia. Estive lá para gravar a minha série Expresso Futuro, em busca de inovações e boas ideias. Se no Brasil acordamos para a importância estratégica do genoma há pouco tempo, a Estônia fez isso no ano 2000.

Foi quando o Parlamento aprovou a lei para a criação de um banco de dados genético nacional. Surgia assim o Estônia Biobank. Se os resultados iniciais brasileiros foram baseados no DNA de 2.723 pessoas, o banco da Estônia já mapeou 212 mil. Isso representa 20% da população do país e uma das mais importantes amostras globais de DNA humano.

Visitei a universidade de Tartu para entender o projeto. Seu pilar é consentimento e ética: as amostras são voluntárias, com doadores se mobilizando para contribuir por saber o benefício coletivo que o gesto traz localmente (e para a humanidade). A quantidade de comitês éticos e de supervisão é impressionante.

Outro ponto é a tecnologia de ponta. O Estonian Biobank realiza análises ômicas abrangentes, incluindo estudos de metilação do DNA e expressão gênica, que investigam como fatores genéticos e epigenéticos influenciam a saúde e o desenvolvimento de doenças.

Isso não bastasse, os dados são vinculados aos registros nacionais de saúde, como o de câncer e o de causas de morte, além de dados hospitalares. São também correlacionados com hábitos alimentares, consumo de álcool e cigarro, atividade física, histórico médico pessoal e familiar, saúde mental e assim por diante.

Essa ferramenta é poderosíssima. Os benefícios já são abundantes. Por exemplo, a Estônia reduziu a idade mínima para triagem mamográfica para as mulheres com risco aumentado de câncer de mama e diagnosticou doenças raras que dificilmente poderiam ser identificadas.

Isso não bastasse, criou um portal público e gratuito chamado “Meu Genoma”, onde é possível acessar todos os seus dados, incluindo informações de saúde e ancestralidade. Em suma, tudo que há de mais atual em genética oferecido gratuitamente como serviço público.

Na visita ao país aprendi como é fundamental tomar decisões ousadas no momento certo. A Estônia fez isso em três áreas fundamentais: saúde, tecnologia e na educação. Que essa ousadia contamine o Brasil.

Já era – Apagão genético no Brasil

Já é – Programa Genomas Brasil lançado em 2020

Já vem – Ambição de mapear o genoma de 100 mil brasileiros


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