/ May 28, 2025

Electrolux mira expansão no Brasil, mas economia preocupa – 26/05/2025 – Mercado

“Electrolux? Aquela do aspirador de pó?”

A multinacional pode vender eletrodomésticos sob oito diferentes marcas e ter faturamento anual de R$ 80 bilhões, como foi em 2024. Mas nas ruas de Estocolmo, capital sueca e sede da companhia, a menção ao seu nome remete ao produto que a tornou conhecida.

Os primeiros modelos, que chegavam a pesar mais de 14 quilos, estão em exposição no prédio da Electrolux, lembrança de quando foi fundada, em 1919.

Os projetos de Yannick Fierling, 54, ao assumir o cargo de CEO global, em 1º de janeiro de 2025, vão muito além de aspiradores de pó. Ele precisa manejar o grupo diante das incertezas tarifárias do governo de Donald Trump nos Estados Unidos e consolidar a posição na América Latina, especialmente no Brasil.

À Folha, ele disse que pode haver a necessidade de reajustar preços por causa de dois fatores econômicos.

“Tivemos um 2024 excepcional. Foi um verão muito quente [no Brasil] e isso acelerou nossas vendas em produtos como ar-condicionado e geladeira. Mas há dois fenômenos que impactam na demanda: a depreciação do real em 2024 e no início de 2025, e os juros altos. Tivemos um crescimento em 2024, mas aumentamos preço para compensar esses problemas”, afirma.

O grupo registrou aumento de vendas global de 24% no quarto trimestre do ano passado, em relação ao mesmo período de 2023. O motivo principal para a evolução foi o mercado latino-americano, que representa 25% do total.

A Electrolux investe cerca de R$ 600 milhões em uma nova fábrica em São José dos Pinhais, no Paraná. Será a sétima da empresa no Brasil e deverá ser inaugurada para a celebração de cem anos da chegada do grupo no país, em 2026. A expectativa é que empregue 2.000 pessoas.

“É nosso maior investimento na América Latina. O Brasil tem um nível alto de tarifas, mas é um mercado muito especial”, completa.

No último relatório financeiro, a Electrolux mudou sua perspectiva em 2025 de “neutra” para “de neutra a negativa” referente aos Estados Unidos. Apesar do crescimento, o cenário para a América Latina é “neutro”.

Embora diga que a imposição de tarifas por Donald Trump tem um “efeito global”, Fierling ressalta que tudo o que a Electrolux vende no país é fabricado lá, o que diminui o impacto. Recentemente, o grupo passou por um rearranjo de divisões que mostra a importância que Estados Unidos e América Latina têm. Cada um possui uma divisão diferente dentro da companhia. Europa, Ásia, África e Oceania estão do outro lado, todos sob o mesmo guarda-chuva.

“Precisamos focar no que podemos controlar. Creio que fazemos um trabalho muito importante nisso e vamos continuar investindo na América Latina”, diz o CEO global, citando que dois terços dos negócios da Electrolux estão na soma de vendas dos Estados Unidos e América Latina.

Para executivos do grupo na região, o desafio maior é torná-lo mais atrativo para o dinheiro que não tem mais os Estados Unidos como destino certo por causa da administração Trump. E nisso os juros e o câmbio no Brasil podem ser restrições.

“O dólar está em cerca de R$ 5,60 agora. Há um ano, era R$ 4,90. Isso é uma questão inflacionária que a gente tenta mitigar na eficiência. Os preços foram ajustados no ano passado e é um processo que ainda não terminou. Não aumentou tudo o que deveria aumentar”, diz Leandro Jasiocha, CEO da Electrolux para a América Latina.

“Eletrodoméstico depende de crédito e financiamento. O varejo brasileiro é muito exposto a custos financeiros ligados a taxa de juros. O dinheiro que essas empresas [de varejo] poderiam usar para fazer marketing, incrementar vendas, gastam em custos financeiros”, completa.

O principal projeto com a nova fábrica paranaense será aumentar a participação de mercado da Electrolux em eletrodomésticos portáteis, que está entre 7% e 8%. O número ideal seria se aproximar dos 30% que a companhia detém nos produtos de maior porte, como geladeiras e máquinas de lavar.

Segundo a empresa, a nova planta foi construída com materiais sustentáveis, será zero emissões de carbono e todas as unidades no país usam painéis solares. O mesmo vale para a sede em Estocolmo, onde são feitas pesquisas sobre como maximizar o uso de tecnologias que preservem o meio ambiente e reduzam custo por meio de designs mais eficientes.

O grupo obteve empréstimo 200 milhões de euros (R$ 1,28 trilhão) do Banco Europeu de Investimento para financiar novos equipamentos que promovam sustentação ambiental com o uso de novas tecnologias.

“Isso faz parte do nosso DNA. Nossas pesquisas dizem que dois em cada três usuários veem valor na sustentabilidade. Isso podem se questionado [nos Estados Unidos e Europa], mas não nos preocupa porque é parte do que nós somos”, afirma Yannick Ferling.

Trata-se de um quebra-cabeça. No geral, em diferentes mercados, a Electrolux tenta entender quanto o consumidor está disposto a pagar e se aceita gastar mais por um produto mais ecológico.

“Essa é uma questão pertinente porque, de fato, vivemos em um cenário econômico desafiador. O consumidor está mais cauteloso e sensível a preço. Mas ao mesmo tempo, vemos um interesse crescente das pessoas em viver de forma mais consciente. Nosso papel, como marca, é facilitar essa jornada”, defende Ana Peretti, VP de Marketing da Electrolux na América Latina.

Outros executivos na sede em Estocolmo concordam ser um desafio. Mas o grupo já viveu outros no passado e soube administrar. Como em 1991, quando comprou a Lehel, marca conhecida de eletrodomésticos na Hungria. Após concluído o negócio, a matriz na Suécia descobriu que sua nova empresa, antes estatal, tinha outro ativo: um zoológico.

Como esta atividade não estava entre as prioridades da Electrolux, o Jászberény Zoo foi devolvido à comunidade.

“No passado, fizemos aquisições e tivemos marcas demais [mais de 200]. Racionalizamos isso para focar nas principais. Foi uma grande decisão”, acredita o CEO global. E um dos principais produtos ainda é os aspiradores de pó.

O repórter viajou a Estocolmo a convite da Electrolux.

Notícias Recentes

Travel News

Lifestyle News

Fashion News

Copyright 2025 Expressa Noticias – Todos os direitos reservados.