Existe uma parábola bastante conhecida que resume bem o comportamento de muitos investidores. Um homem, ilhado no topo de sua casa durante uma enchente, ora a Deus pedindo socorro. Pouco tempo depois, passam um barco, depois um helicóptero e, por fim, uma balsa, todos oferecendo ajuda. Mas ele recusa cada uma, firme na crença de que um milagre divino viria salvá-lo. Quando a tragédia se consuma, ele questiona a Deus: “Por que não me salvou?”. E Deus responde: “Eu enviei um barco, um helicóptero e uma balsa”.
Essa história parece distante, mas é exatamente o que muitos investidores fazem. Passam anos lamentando os resultados, insatisfeitos com suas escolhas, dizendo: “Minha carteira não anda”, “Investi errado”, ou “Não sei se devo mudar”. Mas, sempre que surge uma nova perspectiva — um ajuste de estratégia, uma oportunidade diferente —, a resposta é invariavelmente a mesma: “Ah, não sei…”. E assim, permanecem parados, à espera de um milagre que dificilmente acontecerá.
A inércia é confortável, mas é também o maior risco. O prêmio Nobel Daniel Kahneman mostrou que o medo de perder é, para muitos, maior que o desejo de ganhar — e é exatamente esse medo que paralisa. Preferimos justificar decisões ruins, acreditando que o tempo, sozinho, resolverá tudo. Como disse Leon Festinger, criador da teoria da dissonância cognitiva, é mais fácil manter a narrativa do que mudar de rumo.
Só que o mercado não respeita quem permanece imóvel. Muitos mantêm posições perdedoras, torcendo para que se revertam sozinhas, como se o simples passar dos meses fosse suficiente. A famosa frase atribuída a Einstein resume bem esse comportamento: “Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes”.
Mudar exige esforço, estudo e ação. Não basta lamentar o passado e se queixar dos resultados. É preciso fazer diferente. Investir no que se conhece não significa, manter aquilo que se está acostumado. Significa buscar continuamente conhecimento para identificar o que pode melhorar a carteira, ajustar a estratégia e adequar-se ao cenário atual.
O mercado financeiro não recompensa quem permanece parado. Recompensa quem se adapta, quem aprende e quem age. O próximo “barco” que aparecer pode não ter buzina nem letreiro luminoso — pode vir disfarçado de uma nova ideia, uma leitura provocadora ou até mesmo daquela conversa que você insiste em adiar com um especialista de investimentos.
E você? Vai continuar esperando que as coisas mudem sozinhas — ou vai buscar o próximo barco? Quer uma nova perspectiva? Acompanhe aqueles profissionais que você acredita que chegaram lá e possuem algo a ensinar. Esteja aberto a ouvir e menos a resmungar.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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