As políticas comerciais do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, causarão impacto de longo prazo na economia global, que caminha para um período de crescimento mais lento e incertezas políticas. É o que mostra a edição de maio do relatório Chief Economists Outlook, divulgado nesta quarta-feira (28) pelo Fórum Econômico Mundial.
O documento reúne a avaliação de 67 economistas-chefes de empresas, governos e instituições multilaterais e foi elaborado com base em entrevistas feitas entre os dias 3 e 17 de abril.
Para a maior parte dos economistas consultados, as tarifas mais altas e as persistentes tensões comerciais causarão mais inflação e vão diminuir o volume de comércio global. Além disso, a persistente incerteza sobre o comércio internacional trará danos significativos à economia mundial.
Para 79% dos entrevistados, as mudanças em curso refletem uma transição estrutural de longo prazo, e não um choque temporários. Esse percentual era de 61% em novembro de 2024.
O período no qual a avaliação foi feita coincide com o agravamento da instabilidade nas relações comerciais internacionais, especialmente após o anúncio de novos pacotes tarifários pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em abril, que chegou a elevar as alíquotas de importação da China para até 145%.
Embora parte das tarifas tenha sido suspensa por 90 dias, inclusive após um acordo provisório entre EUA e China no início de maio, a instabilidade segue elevada. O nível de incerteza global é considerado “muito alto” por 82% dos economistas ouvidos —patamar acima do observado durante a pandemia de Covid-19, segundo o relatório.
Os impactos econômicos são diversos. Um terço dos entrevistados acredita que os novos pacotes tarifários dos EUA trarão prejuízo para a economia global como um todo. Outros 53% avaliam que os efeitos negativos serão sentidos tanto nos EUA quanto nos países atingidos pelas medidas.
Para 77%, as tarifas levarão a uma alta da inflação global e 89% esperam redução nos volumes de comércio.
Esse ambiente instável afeta decisões estratégicas. Segundo 87% dos economistas, as empresas devem adiar investimentos e reorganizar cadeias produtivas para reduzir exposição a tarifas. Há também a expectativa de aumento da fragmentação geoeconômica: 98% preveem que os fluxos comerciais e financeiros seguirão alinhados a blocos geopolíticos.
Perspectivas regionais
Na América Latina, 55% preveem crescimento fraco. O FMI projeta uma expansão de 2% para a região em 2025, com impacto negativo das tarifas americanas sobre países como México, que teve sua estimativa de crescimento reduzida para -0,3%. A exceção é a Argentina, que deve crescer 5,5% após uma série de reformas fiscais e estruturais.
A desaceleração é mais clara em economias desenvolvidas. Nos Estados Unidos, 77% dos economistas preveem crescimento fraco ou muito fraco em 2025. Em abril, a inflação projetada para os 12 meses seguintes era de 7,3%, a mais alta desde 1981, embora o índice acumulado em 12 meses tenha sido de 2,3% no mesmo mês. O dólar deve continuar se desvalorizando, segundo 76% dos entrevistados.
Na Europa, o cenário é menos pessimista. Apesar de 50% ainda preverem crescimento fraco, há sinais de melhora, puxados pela política fiscal expansionista adotada pela Alemanha.
O novo governo alemão flexibilizou o teto de endividamento para ampliar gastos com infraestrutura e defesa. Para 77% dos economistas, essa guinada pode acelerar o crescimento europeu. A maioria também espera mais cortes de juros pelo Banco Central Europeu, que reduziu sua taxa básica para 2,25% em abril.
Na região da Ásia-Pacífico, 61% dos entrevistados esperam crescimento moderado. O destaque vai para o sul do continente: um terço dos economistas aposta em crescimento forte ou muito forte na região liderada pela Índia, cuja economia deve crescer 6,2% neste ano, segundo o FMI. Já a China deve enfrentar dificuldades para atingir a meta oficial de 5%. Apenas 22% dos entrevistados acreditam que o país cumprirá esse objetivo.
Na África Subsaariana, 33% esperam crescimento forte, e o FMI projeta uma expansão regional de 3,8% em 2025. Na região do Oriente Médio e Norte da África, a queda dos preços do petróleo e o aperto fiscal afetam as projeções: metade dos entrevistados espera crescimento moderado.
Inteligência artificial
Outro tópico da pesquisa foi a inteligência artificial, assimilada como um fator de transformação pelos economistas, mas com impacto ambíguo sobre o crescimento. Para 81%, a tecnologia poderá adicionar entre zero e dez pontos percentuais ao PIB global até 2035. Os principais vetores de crescimento são automação de tarefas (68%), aceleração da inovação (62%) e aumento da produtividade do trabalho (49%).
Por outro lado, 47% esperam perda líquida de empregos na próxima década. Apenas 19% preveem aumento de vagas. O principal risco associado à IA, segundo 53% dos economistas, é o uso para desinformação e desestabilização social. Também há preocupação com a concentração de mercado (47%) e com a ruptura de modelos de negócio existentes (44%).
Governos e empresas são convidados a agir. Para 89% dos economistas, os países devem investir em infraestrutura de IA. A maioria também defende políticas de estímulo à adoção da tecnologia (86%), mobilidade internacional de talentos (80%) e requalificação profissional (75%).
Entre as empresas, adaptar processos internos (95%), treinar lideranças (83%) e garantir segurança de dados (89%) são prioridades destacadas.