Imagine que você está diante de três trilhas, cada uma prometendo levá-lo ao topo da montanha financeira. Você deve escolher aquela que vai te levar mais alto. O caminho do CDI, a estrada da inflação mais um prêmio de juros generoso ou a rota direta e previsível de uma taxa prefixada. Qual seguir?
Imagino que este seja o dilema que muitos enfrentam quando pensam em seus investimentos de renda fixa para os próximos 10 anos. Hoje, vamos fazer um exercício que pode te ajudar na decisão. Para este exercício, esqueça suas preferências, o medo da inflação ou a vontade de se proteger. A pergunta é simples: qual destas três trilhas vai levá-lo mais longe até 2035?
O primeiro passo para a decisão é formular um cenário. Nesse caso, vamos assumir um cenário razoavelmente otimista que considera queda nas taxas de juros.
Considere que o CDI médio em 2025 seja de 14,5% ao ano, e que ele caia suavemente 1 ponto percentual por ano até atingir 10,5% em 2029, onde permanecerá estável até 2035. Para a inflação, vamos assumir que o IPCA seja de 5,5% em 2025 e recue meio ponto a cada ano até alcançar 4% em 2028. A partir desse momento, ele segue nesse patamar.
Ressalto, construir cenário não é adivinhar o futuro, mas entender a razão pela qual você fez sua escolha.
Agora, vamos ao segundo passo. Devemos avaliar as opções diante do cenário estimado. Diante desse cenário, considere que você tem três opções:
- um título que paga IPCA + 8% ao ano;
- outro que rende 115% do CDI; e
- um prefixado a 13,8% ao ano.
Se você tivesse que escolher apenas um, qual deles você escolheria investir com o intuito de segurar até seu vencimento em 2035?
Muitos seguiriam o impulso natural e escolheriam o IPCA + 8%? Afinal, parece uma oferta irresistível: inflação mais um prêmio robusto.
Entretanto, você vai perceber como o cenário exerce uma função primordial no seu processo de escolha.
Neste terceiro passo, temos de construir uma planilha que tenha o cenário e o retorno de cada ativo no cenário. Montei este e apresento na figura abaixo.
O resultado escancara uma das maiores armadilhas do investidor pessoa física: a dificuldade em compreender os efeitos da curva de juros no longo prazo.
Muitos olham para o prêmio aparente de um título indexado à inflação como se fosse uma blindagem absoluta, esquecendo que, num ambiente de queda das taxas, os prefixados com prêmios generosos podem ser ainda mais vantajosos. Ou ainda, os pós-fixados podem ser melhores que o título IPCA se a velocidade de queda não for acelerada.
A matemática é implacável. Um investimento de R$ 10 mil em cada uma dessas opções terminaria, em 2035, com os seguintes montantes:
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R$36.939 no IPCA + 8% ao ano
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R$38.769 no título que paga 115% do CDI
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R$41.453 no prefixado a 13,8% ao ano
Quem apostou na simplicidade de acompanhar o CDI superou o indexado à inflação. E quem confiou no prefixado, venceu com folga neste cenário.
Se você está otimista com a queda dos juros, pense duas vezes antes de correr para um título IPCA + uma taxa aparentemente elevada. Ele pode ser o mais seguro contra a inflação, mas não necessariamente o mais rentável para o prazo de 10 anos e neste cenário.
Decisões financeiras exigem mais do que boas intenções ou intuições. Exigem planejamento, cenários e cálculos. Afinal, como diria Einstein, “não podemos resolver nossos problemas com o mesmo pensamento que usamos quando os criamos”.
Reforço que o objetivo aqui não é sugerir que você invista em títulos prefixados, mas orientar sobre um processo de escolha de seus investimentos de renda fixa. Lembre-se que diversificar em indexadores diferentes pode ser uma boa estratégia se você está em dúvida sobre o cenário.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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