O presidente Lula (PT) participou nesta quinta-feira (29) da cerimônia de retomada das operações do Porto de Itajaí, no litoral norte de Santa Catarina, sem a presença do governador do estado, o bolsonarista Jorginho Mello (PL), e com discurso do empresário Wesley Batista, dono da JBS.
O porto está sob gestão do governo federal desde janeiro deste ano. Já as operações no local são conduzidas pela JBS Terminais, via contrato de concessão temporária.
Os irmãos Wesley e Joesley Batista voltaram à cena política no terceiro mandato de Lula sete após estarem no centro de um escândalo político que quase custou o mandato de Michel Temer (MDB) e de fazerem delação premiada na Operação Lava Jato que atingiu o PT. O dois chegaram a se encontrar com Lula no ano passado no Palácio do Planalto.
Na cerimônia, Wesley fez um breve discurso e afirmou que “mais dois ou três meses e o porto estará operando na sua capacidade máxima”.
E ele seu irmão ficaram afastados de 2017 até o começo de 2024 do conselho de administração da JBS, quando renunciaram aos cargos por pressão do mercado em meio a investigações da Operação Lava Jato.
Em 2023, o ministro Dias Toffoli, do STF (Supremo Tribunal Federal), suspendeu os efeitos do acordo de leniência que a J&F (holding que administra os negócios da família) havia assinado com o MPF (Ministério Público Federal) em 2017. Ele atendeu a pedido dos Batista, que alegaram coação de procuradores da Lava Jato a representantes da holding.
Porto
O porto de Itajaí era administrado pelo município de mesmo nome, mas a movimentação de contêineres foi praticamente interrompida no final de 2022, dando início a um debate sobre qual modelo de concessão deveria ser adotado. A discussão se estendeu até final do ano passado, quando o governo Lula optou por assumir a administração do porto.
A federalização gerou protestos por parte do governador e do prefeito Robison Coelho, ambos do PL. A decisão do governo federal chegou a ser barrada pela Justiça, mas autorizada posteriormente.
A gestão petista anunciou nesta quinta investimentos de R$ 844 milhões em modernização e ampliação da capacidade do porto, incluindo a dragagem do canal do rio Itajaí-Açu (R$ 90 milhões).
A ausência do governador no evento desta quinta já era esperada. O governo catarinense disse à Folha que ele cumpriria uma agenda em São Lourenço do Oeste, município no oeste do estado, a 580 quilômetros de Itajaí.
Jorginho também não compareceu à primeira visita de Lula a Santa Catarina no atual mandato, em agosto do ano passado. Na ocasião, o presidente visitou Itajaí e Palhoça para acompanhar o lançamento de um novo navio da Marinha e inaugurar o Contorno Viário da Grande Florianópolis, rodovia paralela à BR-101 no estado.
A má relação entre o presidente e o governador catarinense é pública. Jorginho Mello frequentemente critica Lula em suas falas, e o presidente já reclamou da postura do governador.
As ausências dele e do prefeito foram lembradas logo no início da cerimônia, no discurso do superintendente do Porto de Itajaí, João Paulo Tavares.
“Vivemos um tempo estranho. De pessoas que trabalham pela união e pessoas que alimentam a divisão. Até hoje não conseguimos nos aproximar de forma adequada da prefeitura. Até hoje não recebemos a visita do Jorginho Mello, que ignora a importância do porto. Parece cada vez mais difícil dialogar. Mas não vamos desistir”, disse ele.
Depois, o próprio ministro Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos) subiu o tom: “Se tem um governador que está sendo ingrato com o presidente Lula é deste estado aqui”, disse ele. “Mas a verdade sempre vem. Quanto mais eles torcem contra, mais o presidente trabalha”, continuou Costa Filho.
Em abril, a Câmara de Itajaí aprovou uma moção que declara o presidente Lula “persona non grata” em Itajaí.
A ida do petista ao porto acontece em meio à chegada de um navio com 7.000 carros da BYD. A operação para retirada dos veículos é considerada complexa e segue até o fim de semana.