As negociações comerciais entre a União Europeia e os Estados Unidos seguirão conforme o planejado na próxima semana, apesar de uma decisão da Justiça americana que bloqueou a agenda tarifária do presidente Donald Trump.

Segundo autoridades europeias, o encontro entre o comissário de Comércio da UE, Maroš Šefčovič, e representantes dos EUA ocorrerá durante a reunião ministerial da OCDE, em Paris. A corte de comércio internacional dos EUA considerou ilegal o programa de tarifas batizado por Trump de “dia da libertação”, anunciado em 2 de abril, que incluía uma tarifa base de 10%.

Apesar da decisão judicial, tarifas setoriais de 25% sobre importações europeias de carros, aço e alumínio continuam em vigor.

O parecer da Justiça ocorre em um momento delicado. Na semana passada, após impasse com a UE, Trump anunciou uma tarifa geral de 50% sobre produtos do bloco, mas recuou após uma ligação com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

Como noticiou o Financial Times, a Comissão Europeia informou aos Estados-membros, na segunda-feira (26), que a tarifa “recíproca” de 10% provavelmente seria mantida, representando um recuo em relação à sua postura mais dura.

Segundo fontes que acompanharam a reunião, a UE também se prepara para oferecer flexibilizações regulatórias em áreas de interesse das empresas americanas. O bloco já iniciou uma ampla iniciativa para simplificar legislações e cortar burocracia.

A tarifa de 10% afeta cerca de 70% das exportações da UE aos EUA, o equivalente a € 380 bilhões (R$ 2,4 bilhões). Antes da decisão judicial, Washington insistia que essa taxa era inegociável.

Ignacio García Bercero, ex-negociador da UE e hoje no think tank Bruegel, afirmou que seria “um erro” a Europa usar a decisão judicial como justificativa para recuar das negociações. Para ele, o foco agora deve ser “fundamentalmente” nas tarifas sobre aço, alumínio e automóveis. “O restante perdeu o sentido”, disse. Bercero defende um esforço conjunto para lidar com temas como excesso de capacidade produtiva e subsídios.

Para Joost Pauwelyn, sócio da firma Cassidy Levy Kent em Bruxelas, um recuo europeu pode “paradoxalmente” piorar o conflito comercial. “Trump pode usar outras leis domésticas para fazer o mesmo. Ele vai redobrar a aposta, a UE vai relaxar, e aí as chances de acordo caem, aumentando o risco de escalada.”

Segundo Pauwelyn, a Comissão Europeia deveria aproveitar o momento de fragilidade americana para “minimizar as tarifas que ainda estão por vir”.

Já Allie Renison, ex-funcionária do governo britânico e hoje consultora da SEC Newgate, afirmou que a decisão aumentou a incerteza para os parceiros comerciais dos EUA. “Eles podem rever suas estratégias, mas continuarão buscando algum grau de previsibilidade, já que as tarifas setoriais ainda causam grande impacto no comércio.”

Um diplomata europeu envolvido nas negociações disse que a decisão deu tempo ao bloco. “Não precisamos ter pressa”, resumiu.

A Comissão Europeia não comentou a decisão judicial americana.