O New York Times fechou um acordo com a Amazon para licenciar parte de seu conteúdo editorial, marcando a primeira vez em que o jornal permite o uso de suas reportagens para treinar modelos de inteligência artificial de uma empresa de tecnologia.
O contrato autoriza o uso de resumos e trechos curtos de reportagens e receitas culinárias em produtos da Amazon, como os alto-falantes com Alexa, além de permitir que esse conteúdo seja utilizado no treinamento dos modelos proprietários de IA da empresa.
Os termos financeiros da negociação não foram divulgados.
O acordo é anunciado em um momento em que o New York Times mantém uma batalha judicial contra a OpenAI e a Microsoft. O jornal processou as duas empresas em 2023 por “violação massiva de direitos autorais”, acusando-as de utilizar milhões de artigos jornalísticos para treinar os modelos por trás do ChatGPT.
Na ação, o Times pede bilhões de dólares em indenização.
Em memorando interno enviado aos funcionários na quinta-feira (29), a CEO do jornal, Meredith Kopit Levien, afirmou que o contrato com a Amazon “está alinhado com nosso princípio histórico de que jornalismo de qualidade tem valor e deve ser remunerado”.
“Este acordo reflete nossa abordagem deliberada para garantir que nosso trabalho seja devidamente valorizado, seja por meio de parcerias comerciais ou da proteção dos nossos direitos de propriedade intelectual”, escreveu Levien.
As ações da empresa que publica o New York Times subiam mais de 3% na manhã de quinta-feira. No acumulado do ano, os papéis registram alta de 8%, superando o desempenho médio do mercado.
Empresas de mídia vêm demonstrando crescente preocupação com o uso não autorizado de seus conteúdos por modelos de inteligência artificial generativa —que conseguem produzir textos, imagens e códigos em segundos com aparência humana.
Os modelos de IA da Amazon ainda estão atrás dos sistemas mais avançados da OpenAI, mas a empresa tem focado em estratégias para reduzir custos.
A gigante do e-commerce também investiu cerca de US$ 8 bilhões (R$ 45 bilhões) na startup Anthropic, criadora dos modelos Claude, que competem diretamente com os da OpenAI. A Amazon tem lançado uma série de produtos baseados em IA, como a nova versão do assistente de voz Alexa Plus.
Nos últimos anos, outros grupos de mídia também firmaram acordos de licenciamento com a OpenAI —entre eles, News Corp, Axel Springer e o Financial Times. Esses contratos têm rendido dezenas de milhões de dólares aos veículos. No entanto, em conversas privadas, alguns executivos de mídia afirmam enxergar tais parcerias como soluções temporárias, à espera de um marco legal mais robusto para o uso de conteúdo jornalístico por IA.
A OpenAI, por sua vez, afirmou que o processo movido pelo Times “não tem fundamento” e acusou o jornal de “não contar a história completa”. Questões envolvendo direitos autorais têm se tornado um desafio para empresas como a OpenAI, cujos modelos dependem da ingestão massiva de informações disponíveis na internet.