O presidente Donald Trump se irritou com as sugestões de que Wall Street acredita que ele não está disposto a levar adiante ameaças tarifárias extremas, dizendo que seus recuos repetidos são parte de uma estratégia para impor concessões comerciais.
Trump foi questionado durante um evento no Salão Oval, nesta quarta-feira (28) para responder a relatos de uma negociação chamada “TACO”, na qual investidores aproveitam quedas do mercado após o presidente fazer ameaças tarifárias, prevendo que ele acabará cedendo e as ações se recuperarão.
A sigla significa “Trump Always Chickens Out”, uma expressão em inglês para se referir a alguém que desiste de fazer algo por medo, como “amarelar”.
“Isso se chama negociação”, disse Trump, acrescentando que intencionalmente “estabeleceria um número ridiculamente alto” e depois “o reduziria um pouco” como parte das negociações.
O termo foi criado por um colunista do Financial Times e, desde então, foi adotado por investidores que tentam navegar pelas dezenas de mudanças na política tarifária anunciadas por Trump nos primeiros meses de sua presidência.
No caso mais recente, as ações despencaram na sexta-feira depois que Trump ameaçou impor uma tarifa de 50% sobre produtos europeus a partir de 1º de junho, apenas para se recuperar depois que ele concordou em adiar as taxas por mais de um mês para permitir negociações.
A política tarifária de Trump tem sido marcada por frequentes recuos.
TARIFAS DE 145% CONTRA A CHINA
Como as taxas de 145% impostas por Trump sobre as importações chinesas geraram temores de alta nos custos dos bens de consumo e ameaçaram uma recessão, o presidente dos EUA concordou em reduzir as taxas sobre a maioria desses produtos para 30%.
A distensão anunciada em 12 de maio —acompanhada por uma retirada de Pequim— ocorreu após negociações entre as duas maiores economias do mundo e foi projetada para permitir pelo menos 90 dias para negociações adicionais.
SUSPENSÃO TEMPORÁRIA DE TARIFAS
Trump provocou turbulência no mercado e uma retração nos títulos do Tesouro americano em abril, quando impôs a dezenas de parceiros comerciais dos EUA taxas de até 50%.
A Casa Branca negou a notícia de uma possível prorrogação, e o presidente recorreu às redes sociais, incentivando os investidores a “SEREM CALMOS!”, enquanto chamava a situação de “UM ÓTIMO MOMENTO PARA COMPRAR!!”.
Horas depois, Trump anunciou que suspenderia suas tarifas mais altas, redefinindo-as para 10% por 90 dias, em uma tentativa de iniciar negociações. Em resposta, as ações registraram sua melhor alta desde 2008.
TAXA DE 25% SOBRE AUTOMÓVEIS
O anúncio de Trump, em março, de que aplicaria uma tarifa de 25% sobre automóveis e autopeças importados desencadeou um lobby furioso das montadoras, que alegaram que as taxas prejudicariam a indústria e minariam os investimentos feitos sob o acordo comercial norte-americano renegociado por Trump.
Um mês depois, Trump cedeu à pressão, efetivamente aliviando as tarifas sobre metais para a indústria automobilística, ao mesmo tempo em que oferecia uma compensação temporária para veículos fabricados nos EUA.
ISENÇÃO PARA PRODUTOS ELETRÔNICOS
Os consumidores estavam preocupados com os preços mais altos esperados para eletrônicos de consumo sob as tarifas de abril de Trump, quando o governo, em uma ação surpresa, isentou smartphones, computadores e outras tecnologias.
Autoridades do governo disseram que essas exclusões tarifárias foram projetadas para dar tempo ao Departamento de Comércio para conduzir uma investigação comercial separada visando semicondutores.
Todas essas medidas seguiram recuos anteriores de Trump em tarifas abrangentes sobre o Canadá e o México, bem como mudanças nos planos de cobrar impostos sobre pacotes de baixo custo.
A abordagem de Trump de ameaçar impor grandes impostos e usar a influência para obter concessões às vezes produziu sucesso rápido.
Por exemplo, depois que Trump prometeu uma tarifa de 50% sobre produtos da Colômbia, a menos que o país aceitasse deportados, o presidente colombiano Gustavo Petro acabou recuando, aceitando os voos de deportação.
No entanto, analistas alertaram que a tática oferece retornos decrescentes sempre que Trump reduz uma ameaça anterior, já que as contrapartes são menos propensas a considerá-la confiável desde o início.
Na quarta-feira, no Salão Oval, a pergunta de um repórter sobre o comércio de “TACO” provocou uma resposta impetuosa de Trump, que disse ser criticado com mais frequência por ser muito severo em suas ações executivas. Ele classificou a pergunta como “desagradável”.
“Eles não estariam aqui hoje negociando se eu não tivesse imposto uma tarifa de 50%”, disse Trump. “O triste é que, agora, quando eu faço um acordo com eles —algo muito mais razoável— eles vão dizer: ‘Ah, ele foi covarde. Ele foi covarde.’ Isso é inacreditável.”