Um jornalista do britânico “Financial Times” fez troça dos recuos de Donald Trump na guerra comercial: “Trump Always Chickens Out” (“Trump Sempre Arrega”, “Sempre Amarela” ou, polido e impreciso, “Sempre se Acovarda”).
A expressão pegou, transformou-se no acrônimo “TACO” e passou a denominar, de modo meio sarcástico, o que seria uma estratégia financeira (um “trade”) para lidar com idas e vindas nos impostos de importação.
Previsível, Trump reagiu. Disse que não “arrega”; que ameaçar tarifas “ridículas de altas” é tática de negociação. Hum. Mas Trump teve de se render a pressões da grande finança e da grande empresa americana logo depois do tarifaço do “Dia da Libertação”, 2 de abril. Causou tal baderna que donos do dinheiro passaram a achar que havia risco de financiar o governo dos EUA. O mercado de títulos da dívida pública americana é o grande poço da poupança financeira mundial, tido até faz pouco como grande, seguro e líquido.
Trump não tem é medo de ameaçar direitos humanos em geral, a soberania de outros países e também empresas, pressionadas a se render ao nacionalismo autoritário e demagógico do MAGA.
Marco Rubio, secretário de Estado (ministro de Relações Exteriores), anunciou oficialmente que vai vetar vistos para estrangeiros que censurem (ou “censurem”) cidadãos americanos e residentes nos EUA ou para “autoridades estrangeiras” que “exijam de plataformas tecnológicas americanas a adoção de políticas globais de moderação de conteúdo ou se envolvam em atividades de censura que ultrapassem sua autoridade e se estendam aos EUA”.
Como várias dessas “censuras” (regulação) são decididas também por parlamentos ou outras instituições estatais, Rubio ameaça guerra legal contra o mundo quase inteiro, União Europeia em particular. Ameaça muito mais do que Xandão de Moraes. É também uma defesa das “big techs”, que assim recebem em parte a paga da bajulação de Trump.
O governo dos EUA suspendeu a concessão de vistos para estudantes estrangeiros, decisão soberana, vá lá, mas vai escarafunchar a vida deles _governo e guardas de fronteira vão decidir se essas pessoas atendem aos critérios do novo “comitê de atividades antiamericanas”. Artigos científicos de gente empregada por centros de pesquisa estatal são monitorados, universidades estão com a corda no pescoço.
A polícia de imigração agora entrevista, sem aviso, crianças imigrantes a fim de vasculhar a vida das famílias. A turma chegou a insinuar que daria cabo do “habeas corpus”.
Também nesta quarta, soube-se que Trump vai proibir empresas de vender à China softwares de projetos de chips avançados. Faz poucas semanas, ameaçou quem compra equipamentos Huawei. Etc.
Neste caso, leva-se ao extremo política de Trump 1 e que foi tocada, por outros meios, pelo governo de Joe Biden, que manteve embargos trumpianos, criou novas restrições e deu subsídios enormes à indústria de ponta, tudo com o fim de manter a supremacia tecnológica e militar americana. Mais do que trumpismo, é política de establishment.
Trump vai além: ameaça guerra quente no Panamá ou alhures. Diz que vai cancelar alianças militares e econômicas se países não se submeterem a decretos ou desejos imperiais sobre comércio, regulação econômica, leis tributárias ou mesmo se seus fluxos comerciais e investimentos não forem do agrado de Trump e turma.
Sem saber como reagir, o resto do mundo nem pode rir amarelo.