Imagine que você está em uma feira livre e, no meio da multidão, um vendedor grita: “Melancia doce, sem caroço, e com casca comestível!” Você para, curioso. Mas logo pensa: será que algo assim existe mesmo? Quando tudo parece bom demais, geralmente é sinal de que tem algo errado. O mesmo vale para os investimentos.
Muitos investidores passam anos esperando pela chamada “oportunidade única” — aquela que promete alto retorno, nenhum risco e liquidez imediata. Mas esse tipo de oportunidade simplesmente não existe. Na prática, toda escolha exige abrir mão de pelo menos um desses três atributos.
Esse tripé — retorno, risco e liquidez — é a base da avaliação de qualquer ativo. Quanto mais alto o retorno esperado, maior tende a ser o risco envolvido ou menor a liquidez. Por outro lado, se a prioridade for segurança, o retorno será menor e, muitas vezes, o resgate pode ser limitado. E, se o foco for liquidez, é provável que você tenha de abrir mão dos outros dois. Investir é, antes de tudo, aprender a fazer escolhas imperfeitas — mas conscientes.
Howard Marks, fundador da Oaktree Capital, costuma lembrar que “o risco não é o que está nos modelos, mas o que está na sua cabeça”. Para ele, não existe investimento sem risco — existe investimento mal compreendido. Benjamin Graham, considerado o pai da análise fundamentalista, reforçava que o investidor inteligente não é aquele que busca retornos milagrosos, mas o que toma decisões ponderadas diante de incertezas inevitáveis. É justamente essa clareza — e não a ilusão de perfeição — que constrói resultados consistentes ao longo do tempo.
Infelizmente, essa busca pela perfeição acaba sendo o combustível de muitos golpes. São inúmeros os casos de “investimentos perfeitos”. Em 2022 estourou o caso da Braiscompany. Ela, por exemplo, atraiu milhares de investidores por anos ao prometer lucros elevados com segurança total e resgates rápidos. A fórmula parecia irresistível: elevada rentabilidade, sem risco e com liquidez. A mesma combinação impossível que deveria acender o alerta — e não atrair.
Se você escutar alguém dizendo que encontrou um investimento que dá retorno garantido, não tem risco e ainda pode ser resgatado a qualquer momento, sorria educadamente… e corra. A história financeira é generosa com quem questiona e implacável com quem apenas acredita.
Saber que o tripé é indissociável ajuda não só a evitar armadilhas, mas também a entender suas próprias decisões. Sempre que surgir uma proposta de investimento, pergunte: o que estou abrindo mão aqui? Se a resposta for “nada”, é porque o problema pode estar exatamente aí.
A melhor oportunidade não é a que brilha mais, mas a que você compreende, aceita e consegue sustentar — mesmo que envolva sacrifícios. Milagres não costumam aparecer nas feiras. E, tampouco nos investimentos.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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