O valor adicionado pela indústria brasileira ao PIB (Produto Interno Bruto) recuou 0,1% no primeiro trimestre de 2025, em relação aos três últimos meses de 2024, pior resultado para o período desde 2020, ano da pandemia.
Dentro do setor, houve queda de 1% na indústria de manufatura e 0,8% na construção. Por outro lado, as atividades industriais extrativas avançaram 2,1%, enquanto o segmento de eletricidade, gás, água e esgoto e gestão de resíduos cresceu 1,5%. O PIB teve alta de 1,4% na mesma comparação.
Na comparação anual, a indústria cresceu 2,4%, abaixo do avanço do PIB de 2,9% na mesma comparação.
O pico da atividade industrial no Brasil foi alcançado no terceiro trimestre de 2013, considerando a série histórica do IBGE iniciada em 1996. O PIB do setor nunca se recuperou da recessão iniciada no ano seguinte e ainda está cerca de 5% abaixo do verificado naquela época.
Alessandra Ribeiro, sócia e diretora de macroeconomia da consultoria Tendência, afirma que a indústria não voltou ao pico de atividade, mas segue em ritmo de recuperação na comparação anual.
“O que nos deixa mais otimistas em relação à indústria no médio prazo são os efeitos da reforma tributária. É uma reforma bem positiva em termos de redução de custos e ganho de produtividade. A reforma pode trazer realmente uma produção e uma organização de logística mais eficientes. É uma reforma estrutural importante para a indústria”, afirma a economista, destacando ainda as boas expectativas com acordos comerciais, como a negociação entre Mercosul e União Europeia.
“A queda da indústria geral foi puxada principalmente pela indústria de transformação. Cabe destacar que a indústria de transformação participa com cerca de 58% do PIB da indústria geral. O setor, altamente sensível aos juros, tem sido impactado pelo forte aperto monetário e pela permanência das condições financeiras restritivas”, afirma a Fiesp (federação das indústrias de São Paulo), em nota.
A entidade diz que o cenário externo mais adverso também impõe desafios adicionais ao setor, que pode ser impactado não apenas pela imposição de tarifas, mas também pela redução da demanda externa decorrente da desaceleração do crescimento global e pelos efeitos negativos sobre os investimentos em razão do elevado grau de incerteza internacional.
Por outro lado, as medidas do governo para estimular a atividade econômica, como a liberação de recursos do FGTS e a criação do crédito consignado privado constituem vetores altistas para o crescimento do PIB em 2025.
A Fiesp espera desaceleração do PIB nos próximos trimestres, mas diz que o forte crescimento no 1º trimestre do ano deixou um carregamento estatístico positivo para o ano de 2,2%. A federação revisou a projeção de crescimento do PIB em 2025 de 2% para 2,4%.
Para a Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro), o desempenho do setor evidencia a fragilidade da atividade industrial, com empresários do setor mantendo expectativas pessimistas há cinco meses consecutivos.
“A taxa de juros ainda elevada e a inflação persistentemente acima da meta comprometem o dinamismo do consumo e dos investimentos, afetando especialmente o setor industrial e os serviços dependentes da demanda doméstica”, afirma o economista-chefe da federação, Jonathas Goulart.
A federação diz que o cenário internacional impõe desafios adicionais e, no plano doméstico, a instabilidade política e o crescimento das despesas obrigatórias ampliam o risco fiscal, pressionam o câmbio, encarecem o crédito e comprometem a competitividade da indústria.