Embora contenha em uma ou duas quadras de seu território uma pequena extensão de Paraisópolis, o Morumbi sempre foi visto como um distrito de endinheirados. Com zoneamento restritivo e muitas ruas exclusivamente residenciais, foi escolhido por alguns privilegiados como local de verdadeiras cidadelas, como a do finado Joseph Safra, erguida em terreno de 22 mil metros quadrados em área vizinha ao Jockey Club. Por ali também, e não por acaso, o ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira erigiu seu extravagante palacete com uma pinacoteca invejável, quando a maré ainda lhe sorria.
Mas essa espécie de San Isidro, de Mayfair paulistana, decaiu, desvalorizou-se, e associar a crème de la crème ao Morumbi talvez só seja possível plenamente hoje no campo simbólico.
Pois bem, os últimos tempos viram a região voltar a atrair, ou tentar atrair, a elite paulistana, agora disposta a ocupar o que um dia seria improvável na região: apartamentos.
Segundo o Secovi-SP, sindicato das empresas do setor imobiliário do estado de São Paulo, o Morumbi é o campeão de lançamentos de imóveis de valor superior a R$ 10 milhões nos 12 meses de abril de 2024 a março de 2025. Com 197 unidades a partir desse valor lançadas, tem quase o triplo de Pinheiros e mais de 16 vezes o número do Jardim Paulista.
Só no primeiro trimestre de 2025, ainda segundo a entidade, 26% de todos os imóveis lançados no distrito ficaram na faixa de preço mais cara do estudo, a partir de R$ 2,1 milhões.
Os bacanas passaram a investir seus milhões em produtos que vendem comodidade, amenidades, associação com grifes, possibilidade de valorização e vista, já que o que vem por aí no distrito são torres que podem facilmente ultrapassar os 40 andares.
É o caso do Vista Cyrela Furnished by Armani/Casa, previsto para dezembro de 2029, projeto com toques de decoração da grife italiana e que reclama, em seu material promocional, a “ousadia de ser minimalista”. O minimalismo certamente não vale na vertical: o Vista terá duas torres, uma delas de 206 metros e mais de 50 andares, dimensões que devem fazer dele o mais alto edifício residencial da cidade quando finalizado. Há unidades com valor de metro quadrado desde R$ 27 mil.
A startup imobiliária Loft confirma que os apartamentos “maiores” (acima de 140 m2 de área total) do Morumbi tiveram salto de vendas nos dois primeiros meses de 2025: crescimento de 32,6% em relação ao mesmo período de 2024, bem acima da média da cidade, de 19%.
Fábio Takahashi, gerente de dados da Loft, chama a atenção para a valorização inferior dos imóveis negociados quando comparados à média paulistana —2,6% ante 14,6%, respectivamente. “Isso demonstra que os compradores estão conseguindo fazer bons negócios”, diz.
Não é preciso ter “degree” para saber que, em tempos de Selic no talo, há produtos de rentabilidade mais atraente do que imóveis, mas Marco Túlio Lima, sócio e CEO da imobiliária Esquema, especializada no alto padrão, vê um ano promissor para o segmento. Em recente postagem no LinkedIn, ele estimou crescimento de vendas de 10% em relação a 2024 para esses imóveis em São Paulo, destacando, entre outros motivos, o fato de o comprador possuir ativos em dólar, “o que aumenta seu potencial investimento para compras em real”.
Com terrenos na margem oeste do rio Pinheiros, a JHSF também tem novidades para os próximos anos no distrito para a turma dos muitos dígitos. Há os anexos do complexo do shopping Cidade Jardim e as residências contíguas à piscina de ondas do futuro São Paulo Surf Club.
Aqui a vista deverá ser digna de hotel turístico, não apenas por conta da piscina propriamente dita, com seus 220 metros de extensão e ondas de até 22 segundos de duração, e da praia artificial que vem de brinde, mas também em razão da vizinha ponte estaiada Octavio Frias de Oliveira. O fluxo de carros da marginal Pinheiros talvez já não orne tão bem.
Para Augusto Martins, CEO da JHSF, o distrito do Morumbi é um “território privilegiado, de fácil acesso, infraestrutura em transformação, grande potencial de valorização e conexão estratégica com os principais polos financeiros da cidade.”
Em outro ponto do Morumbi, o Jardim Guedala, a Meta, incorporadora butique da construtora Souza Lima com histórico de atuação na região, aproveitou-se do potencial construtivo da avenida Francisco Morato para idealizar o The Club, complexo de apartamentos, estúdios e escritórios com acessos independentes.
Alexandre Souza Lima, fundador e CEO da Meta, diz que a preocupação com a “alfaiataria” dos projetos imobiliários está na origem da empresa, e que, no caso do The Club, a “qualidade das amenities” merece atenção.
Nessa categoria ele inclui as lojas e os prestadores de serviços que comporão a área comercial do edifício, e cita a clínica de wellness DG, do fisioterapeuta Douglas Gil, como símbolo máximo de um certo esforço curatorial de distinção. “Além de ter excelência no que faz, a DG tem a marca, carrega a história do bairro”, diz.
De maneira pouco habitual, os features de lazer, que incluem spa, sauna, quadras de beach tennis e pickleball, não ficarão no térreo do The Club, mas acima dos andares dos estúdios e dos escritórios, para desfrute dos moradores dos apartamentos desenhados em poucas tipologias, com áreas de 166 m2 e 284 m2. Todos eles, garante Lima, com vistas desimpedidas do Morumbi.