A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) suspendeu todos os voos dos Correios dedicados ao transporte de cargas, por falhas na segurança. A informação foi antecipada pelo UOL e confirmada pela Folha.
A decisão da agência foi motivada pelo incidente com um avião que fazia o trajeto de Vitória a Guarulhos em 9 de novembro do ano passado, que pegou teve um incêndio em pleno voo, oito minutos antes de aterrissar, forçando os pilotos a fazerem um pouso de emergência. Os dois tripulantes conseguiram escapar em segurança, mas a aeronave ficou danificada.
A Total trabalha com voos fretados e tem os Correios como único cliente em transporte de cargas. Para esta finalidade, a estatal também contrata os serviços da Sideral Linhas Aéreas. As empresas foram procuradas pela Folha para se pronunciarem a respeito da decisão da Anac, mas não retornaram até o fechamento deste texto.
De acordo com as investigações do incidente em Guarulhos, a aeronave carregava uma carga de baterias de íon de lítio, usadas em equipamentos eletrônicos –como celulares, tablets e notebooks–, mas também em veículos elétricos e sistemas de energia solar fotovoltaica. As baterias de íon de lítio contêm um eletrólito líquido que pode inflamar e causar incêndio em caso de superaquecimento, danos físicos ou defeitos de fabricação.
O transporte aéreo desse tipo de produto não é proibido, mas exige cuidados adicionais –como um volume restrito de baterias, que devem permanecer separadas de outras cargas.
A decisão da Anac suspende os voos da Total e da Sideral para os Correios a partir da próxima quarta-feira (4). Mas a Folha apurou que a Total pretende tentar reverter a suspensão, entregando um documento à Anac em que se compromete a assumir a segurança operacional da carga transportada pelos Correios.
A princípio, a companhia aérea não sabe qual a natureza da carga que transporta para os Correios –que entrega os volumes em pacotes lacrados para o voo. A estatal, no entanto, precisa alertar a aérea sobre a existência de materiais perigosos. Após o incidente, as cargas dos Correios passaram a ser inspecionadas em sistemas de raio-x.
Desde abril de 2016, a Anac proibiu o transporte de baterias de íon lítio como carga em aeronaves de passageiros no Brasil. A proibição seguiu determinação da OACI (Organização de Aviação Civil Internacional), que também determinou restrições para o transporte do material em aviões cargueiros.
A proibição se baseou em testes realizados pelas três principais fabricantes de aviões (Airbus, Boeing e Embraer), que apontaram que as aeronaves não foram projetadas para combater o fogo proveniente de baterias de íon lítio. De acordo com os testes, uma única bateria danificada ou em curto-circuito é capaz de propagar combustão e comprometer as demais baterias do carregamento.