A prudência manda não trocar de cavalo no meio da travessia de um rio. E o mundo corporativo tem seguido a orientação à risca, evitando trocas nas lideranças sob a turbulência da política tarifária e comercial de Donald Trump.
A rotatividade de CEOs caiu 21% no primeiro trimestre deste ano, em comparação com o mesmo período de 2024, segundo estudo global da consultoria Russell Reynolds, com 1.822 empresas listadas nas principais bolsas de valores do mundo, obtido com exclusividade por esta coluna.
Engana-se quem acha que isso é a continuação de uma tendência. Em 2024 tivemos recorde de trocas na liderança das empresas. O que aconteceu agora é que o medo e a insegurança criados no ambiente de negócios com a drástica mudança de ventos na maior economia do mundo fez os conselhos de administração se apegarem às lideranças para atravessar a tempestade da “nova ordem econômica”.
Quando o ambiente é calmo, com previsibilidade econômica e dinheiro barato, há espaço para inovar, testar, ousar. Quando a volatilidade impede as previsões, seguir no “arroz com feijão” pode evitar muita dor de cabeça.
Se isso faz sentido para empresas listadas no S&P 500, que têm acesso a bilhões de dólares, faz ainda mais para o investidor, que lida com seu próprio patrimônio e, possivelmente, com o futuro financeiro da sua família
Falando especificamente dos investimentos em Bolsa, vivemos um bom momento nos últimos meses, com o fluxo de dinheiro estrangeiro aumentando, nos posicionando como bom candidato para alocação de dinheiro entre os emergentes.
Apesar da alta, é preciso lembrar que tivemos poucas mudanças estruturais no país e que estamos prestes a entrar em ciclo de eleições presidenciais.
Não importa para quem você torce ou em quem vota, as estatísticas apontam que corridas eleitorais são tradicionalmente ruins para a Bolsa. Investidores estrangeiros não gostam de colocar dinheiro em países que podem trocar de comando —e de rumos— em breve.
Olhando os dados desde o ano 2000, vemos que o Ibovespa, principal indicador da nossa Bolsa, tende a cair no primeiro semestre de anos eleitorais. Assim como costuma subir no primeiro semestre após a posse dos presidentes.
Nas últimas seis eleições para o governo federal, o índice só não caiu nos primeiros seis meses de 2006 (quando a reeleição de Lula era quase certa) e em 2014 (quando Dilma Rousseff também já tinha grandes chances de se reeleger). Quando o futuro é mais nebuloso, os grandes investidores preferem tirar o dinheiro de jogo e esperar.
Eles costumam esperar a posse e os primeiros ajustes do novo mandatário para voltar a distribuir suas fichas. Não por acaso, o Ibovespa só não subiu no primeiro semestre após a posse presidencial uma vez, nesse período. Foi em 2011 —o primeiro ano do primeiro mandato de Dilma.
A verdade é que vivemos uma boa onda na Bolsa brasileira nos últimos meses, mas o histórico mostra grande possibilidade de haver pelo menos uma pausa nesse bom humor no primeiro semestre do próximo ano.
Se você tratar sua carteira de investimentos como uma empresa, vai perceber que a gestão de patrimônio não é tão diferente assim da corporativa. Se ater às estratégias planejadas costuma causar menos danos do que fazer trocas sob pressão de ambientes de muita volatilidade.