/ Jul 10, 2025

Indústria do álcool reage a endurecimento de políticas – 02/06/2025 – Mercado

Grandes grupos de cerveja, vinho e destilados estão traçando novas estratégias para reagir ao endurecimento do discurso de saúde pública contra o consumo de álcool —incluindo a promoção de seus supostos benefícios sociais e a contestação de estudos que alertam para os riscos do consumo moderado.

A posição da OMS (Organização Mundial da Saúde), de que “não há nível seguro” de consumo alcoólico, aliada à queda no consumo global, levou executivos de algumas das maiores empresas do setor a defenderem ações mais incisivas, disseram eles ao Financial Times.

A contraofensiva inclui a contestação pública da diretriz da OMS e alertas sobre pesquisas supostamente imprecisas que estariam influenciando a formulação de políticas públicas. Ao mesmo tempo, campanhas publicitárias passaram a destacar os benefícios da socialização presencial promovida pelo álcool.

A CEO da Diageo, Debra Crew, afirmou que a gigante dos destilados tem dialogado com autoridades para eliminar dados imprecisos sobre os efeitos do álcool na saúde.

“Estamos conversando com governos para garantir que estejamos usando ciência de qualidade”, disse Crew ao FT, após uma atualização de resultados neste mês. “Há estudos circulando por aí que simplesmente não são precisos, então estamos tentando combater isso.”

Já o CEO da Asahi, Atsushi Katsuki, afirmou em entrevista recente que, embora não negue os riscos associados ao consumo de álcool, considera enganosa a mensagem de que “não há nível seguro”. Para ele, há “muitas evidências” de que o consumo moderado pode trazer benefícios à saúde e ao bem-estar, e que o setor “deveria fazer mais para divulgar publicamente” esses aspectos positivos.

As declarações ocorrem após o lançamento de uma campanha publicitária da Heineken que posiciona a cerveja como antídoto ao excesso de tempo de tela e à falta de interações presenciais, incluindo dados sobre quantas horas os adultos passam no celular.

Investidores temem que o setor esteja enfrentando seu “momento tabaco”, diante do aumento dos alertas das autoridades de saúde sobre os riscos do álcool. A OMS afirmou em 2023 que não existe um nível seguro de consumo e, no mesmo ano, listou a indústria de bebidas alcoólicas entre as mais prejudiciais da Europa, ao lado dos combustíveis fósseis, alimentos ultraprocessados e tabaco.

A pressão aumentou ainda mais neste ano, quando o cirurgião-geral dos EUA sugeriu que bebidas alcoólicas passem a exibir alertas sobre câncer, ampliando o cerco a um setor já impactado pela queda na demanda global, em parte devido a mudanças nos hábitos de consumo.

Segundo fontes ouvidas pelo FT, lideranças do setor têm debatido como reagir ao discurso negativo em eventos organizados por entidades como a International Alliance for Responsible Drinking, onde a postura mais rígida da OMS tem sido tema recorrente.

“O setor está perdendo a batalha no campo da comunicação… As empresas ainda não se uniram para promover os benefícios do consumo moderado”, disse um executivo de assuntos corporativos de um grande grupo de bebidas.

Outro questionou: “A indústria deveria falar diretamente com o público, dizendo que o consumo moderado é aceitável? Esse é o debate mais interessante.”

A discussão entre executivos ganha força diante da expectativa pela divulgação, ainda este ano, de novas diretrizes alimentares nos EUA —que devem recomendar um limite semanal de unidades alcoólicas— e da Assembleia Geral da ONU em setembro, que discutirá políticas globais de saúde para os próximos cinco anos, incluindo o papel do álcool.

Grupos de lobby da indústria se mobilizam para barrar regulações mais duras, mas adotam cautela para não parecer agressivos demais e acabar sendo comparados ao setor do tabaco, cuja reputação foi abalada entre as décadas de 1980 e 1990 após investir pesado em pesquisas que minimizavam os riscos do cigarro. Também temem ser excluídos do debate político, como ocorreu com os fabricantes de cigarros.

“O maior risco é a percepção pública. A mudança de opinião da sociedade pesa mais do que os desafios regulatórios”, disse um executivo do setor ao FT.

Entre as ameaças regulatórias que preocupam a indústria estão o aumento de impostos sobre bebidas alcoólicas, exigência de alertas mais visíveis nas embalagens e a adoção oficial da tese de que “não há nível seguro” de consumo.

A Irlanda já aprovou regras que, a partir do próximo ano, obrigarão todos os rótulos de bebidas alcoólicas a informar os riscos de câncer e doenças hepáticas.

Dag Rekve, especialista da OMS em álcool, drogas e comportamentos aditivos, afirmou que o foco da organização é garantir que os governos tenham acesso a políticas públicas “claras e baseadas em evidências” para reduzir os danos relacionados ao álcool, adaptadas à realidade de cada país.

Notícias Recentes

Travel News

Lifestyle News

Fashion News

Copyright 2025 Expressa Noticias – Todos os direitos reservados.