/ Jun 04, 2025

Nostalgia da Geração Z pode salvar redes de restaurantes? – 02/06/2025 – Mercado

Ao entrar em uma rede de restaurantes como Outback ou Chili’s, é como se o tempo parasse. Para parte da Geração Z, esse é justamente o atrativo.

Ana Babic Rosario, professora de marketing na Universidade de Denver, chama isso de “viagem emocional no tempo”. Em um momento de instabilidade econômica nos Estados Unidos, com risco de recessão, essa nostalgia ganha ainda mais força. “Tendemos a buscar essas lembranças porque as associamos à estabilidade”, diz. “Nossa mente tende a embelezar o passado.”

Foi assim para Bea Benares, 27, que lembra com carinho das idas ao Outback com a família, “comendo o pãozinho e sentando todo mundo junto”. Hoje, ela vê uma perda de senso de comunidade em redes de comida rápida voltadas a trabalhadores de escritório, como Sweetgreen ou Cava. “Pode parecer bobo, mas é meio triste”, diz. “Cada um come no seu canto e vai embora.”

Talvez essa saudade explique por que cerca de 10 mil jovens (a maioria na casa dos 20 anos) foram até a Randall’s Island, em Nova York, no fim do ano passado para o Chain Fest, um festival gastronômico criado pelo ator B.J. Novak (da série The Office) que serviu “versões gourmet exclusivas” de pratos clássicos de redes como Red Robin e Cracker Barrel. A edição de Los Angeles teve lista de espera com 25 mil nomes.

A nostalgia é uma oportunidade para redes que enfrentam anos de dificuldades. A dúvida, no entanto, é se a Geração Z continuará voltando após os eventos instagramáveis e os momentos virais. Atender aos jovens —muitos dos quais pedem cardápios mais criativos— é um risco que pode afastar o público tradicional: os baby boomers, que valorizam estabilidade.

Segundo dados da consultoria Datassential, em 2024, apenas 17% dos clientes de restaurantes casuais de preço médio tinham menos de 26 anos. Millennials representavam 32%. A maioria ainda é formada por boomers e membros da Geração X.

Ou seja, se os jovens vão mesmo reviver a era de ouro dessas redes, terão que frequentá-las com mais regularidade. O setor sofre há mais de uma década com mudanças nos hábitos de consumo, a ascensão dos aplicativos de entrega e o crescimento das redes de fast food casual. Outro fator é a queda nas refeições em grupo: 29% dos entrevistados em uma pesquisa de fevereiro disseram estar comendo fora com menos frequência com amigos ou família.

Entre os frequentadores do Chain Fest entrevistados pelo New York Times, muitos disseram ter boas lembranças das redes, mas não pretendem torná-las rotina.

Christy Abraham, 28, descreveu a experiência como um “passeio divertido pela memória”, que a transportou de volta à infância em Miami. Mas disse que “a nostalgia não é suficiente para me fazer virar cliente fiel” e que só vai a esses restaurantes quando está com a família.

Benares, apesar da saudade do Outback de seu bairro, fechado em 2018, nunca mais voltou. Quando quer conforto no prato, opta por redes mais recentes como Panda Express ou hamburguerias modernas.

Já Nicole Willis afirmou que, para conquistá-la de verdade, os restaurantes precisam ser “mais criativos com o cardápio” e dispostos a testar novidades. “O paladar mudou bastante”, diz.

Algumas marcas que surfaram a onda nostálgica se deram bem. O Chili’s, por exemplo, viu suas vendas crescerem mais de 31% no último trimestre em relação ao ano anterior. Vídeos virais com pessoas mergulhando palitos de mussarela em molho quente ajudaram a impulsionar o movimento. Em abril, a rede lançou comerciais estrelados por Tiffani Thiessen, estrela dos anos 1990 em Saved by the Bell, para divulgar margaritas por US$ 6 (R$ 34).

Kevin Hochman, CEO do grupo Brinker International (dono do Chili’s), disse a investidores que uma “nova geração” está redescobrindo a marca. “Estamos voltando a fazer parte da cultura”, afirmou em entrevista. As ações da empresa mais que dobraram nos últimos 12 meses.

Outras redes extintas ou adormecidas também tentam aproveitar o embalo. É o caso do Rainforest Cafe, restaurante temático tropical popular entre o fim dos anos 1990 e o início dos 2000.

Segundo Earl Milczark, vice-presidente regional da rede, jovens entre 25 e 35 anos que frequentavam o restaurante na infância agora querem reviver a experiência com seus filhos ou amigos. Um restaurante temporário da marca, montado no Empire State Building em outubro, atraiu cerca de 32 mil pessoas com pratos como Anaconda Pasta e Treetop Filet.

Para Babic Rosario, é provável que mais marcas tentem se reconectar com os jovens por meio de embalagens retrô e relançamentos de pratos clássicos. Mas ela adverte: “O público de hoje é muito diferente daquele que viveu essas experiências no passado.”

Ou seja, por mais reconfortante que seja mergulhar em cardápios extensos e decorações com redes de pesca e estátuas de caranguejo, nenhuma porção ilimitada de camarões vai ressuscitar os jantares de domingo com a avó ou o primeiro encontro antes do baile da escola. Só novos clientes, criando novas memórias entre garfadas, podem salvar o restaurante da classe média americana.

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