A chegada de mais gás do pré-sal ao continente após inauguração de complexo da Petrobras deve destravar o primeiro grande investimento em ampliação da petroquímica brasileira em ao menos 15 anos, com expectativa de geração de cinco mil empregos durante as obras.
O projeto, orçado inicialmente em US$ 700 milhões (quase R$ 4 bilhões, pela cotação atual), começa a andar em um momento de indefinição sobre o controle da companhia, com a análise de oferta do empresário Nelson Tanure para comprar ações da Novonor (ex-Odebrecht).
Em entrevista à Folha, o presidente da Braskem, Roberto Ramos, não acredita, porém, em guinada na estratégia. “Nelson Tanure disse numa entrevista que apoiava o processo de transformação pelo qual a companhia está passando.”
O investimento prevê ampliar em 50% a capacidade de produção do polo gás-químico de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, com a construção de um novo forno para processar o etano, uma molécula retirada do gás natural, ampliação da fábrica de polietileno e suprimento de água e energia, dentre outros.
O projeto estava em banho-maria desde a construção do polo, nos anos 2000, por falta de capacidade de fornecimento de etano. A Braskem espera fechar ainda em junho negociação com a Petrobras, uma de suas controladoras, contrato de fornecimento adicional do produto.
A disponibilidade surgiu após a inauguração da unidade de tratamento de gás do Complexo de Energias Boaventura, o antigo Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro), em Itaboraí (RJ), em 2024, que ampliou a oferta nacional de gás em 18 milhões de metros cúbicos por dia.
Com o aumento da produção nacional de polietileno, a Braskem espera recuperar mercado perdido para importações dos Estados Unidos. “É o melhor projeto que a gente tem”, afirmou Ramos.
A administração da companhia já autorizou R$ 238 milhões para desenvolver o projeto detalhado de engenharia, que vai definir o preço final da obra. Ramos quer levar a proposta ao conselho de administração ainda este ano.
Ele diz que quer acelerar o projeto de aprovação para aproveitar os incentivos do regime especial que garante benefícios tributários à indústria química brasileira e se extingue em 2027, com o início da vigência da reforma tributária.
O setor tenta estender o incentivo com um projeto de lei no Congresso, mas Ramos diz que a Braskem tem maneiras de financiar as obras mesmo sem sua aprovação.
“A gente precisa fazer esse projeto porque é o que mais adiciona produção com base no gás natural e nos ajuda a reduzir o volume de nafta como matéria-prima”, afirmou o executivo.
Ele assumiu a Braskem no fim de 2024 e deu início a uma estratégia que prevê a redução do uso de nafta, mais cara, seguindo tendência global de uso do gás como matéria-prima. Nesse sentido, já importa eteno líquido para sustentar 10% das operações do polo de Camaçari, na Bahia.
A ideia é chegar a 30% de etano, o que deve demandar investimento em ampliação do terminal de recebimento do insumo na Baía de Todos os Santos, semelhante a projeto inaugurado pela companhia recentemente no México.
O suprimento adicional também deve ser importado dos Estados Unidos, já que o transporte do eteno produzido pela Petrobras no Rio de Janeiro demandaria elevados investimentos em uma planta de liquefação.
Ramos disse que, se a Petrobras deixasse, comprava todo o etano disponível após a inauguração da planta de gás do Complexo Boaventura e construiria dois novos fornos em Duque de Caxias —a Petrobras, porém, tem planos para usar o resto da produção em outros químicos.
O presidente da Braskem alega que, mesmo com os preços das resinas plásticas em baixa, o investimento melhora a competitividade da empresa. E a aproveita talvez a última oferta de gás novo na região.
“Hoje concorro com produtores americanos, que exportam a produção deles para cá. Com gás, vou ter mais condições de concorrer do que tinha com nafta”, explicou. “Se eu não fizesse esse projeto, a Petrobras ia achar destino para o etano e eu não ia ter mais essa oportunidade.”
O setor petroquímico pede ao governo que aumente as tarifas sobre as importações dos Estados Unidos, alegando que os produtores daquele país estão praticando dumping nas vendas a clientes brasileiros. A expectativa é que as novas tarifas sejam anunciadas em junho.