Os consumidores de carne americanos podem não ter ouvido falar da JBS, mas é provável que já tenham experimentado seus produtos. Agora, a processadora de carne brasileira, a maior do mundo, quer que eles experimentem também suas ações.
A JBS fornece grande parte da carne bovina, suína e de aves que chega aos pratos americanos, e a dependência é mútua. Mais da metade dos US$ 77,2 bilhões em receita que obteve no ano passado veio dos Estados Unidos. Essa exposição é uma das razões pelas quais a empresa há muito tempo cobiça uma listagem de ações nos EUA.
Depois de perseguir a ideia intermitentemente por quase uma década, a empresa finalmente recebeu sinal verde dos reguladores e de seus acionistas para transferir sua principal listagem de ações do Brasil para os EUA.
A empresa acredita que a mudança ajudará suas ações, que são negociadas com um forte desconto em relação aos concorrentes americanos, a obter uma avaliação mais alta, além de dar à empresa acesso a financiamento mais barato.
As ações, no entanto, não serão palatáveis para todos. A família Batista, fundadora, através de seus veículos de investimento, é a maior acionista da JBS com uma participação de 48%. A planejada emissão de ações com supervoto, oferecidas desproporcionalmente à família Batista, poderia deixá-la com 85% dos votos.
As consultorias de acionistas ISS e Glass Lewis recomendaram que os detentores das atuais ações brasileiras da JBS votassem contra a dupla listagem —sem sucesso.
Preocupações ambientais de longa data sobre o impacto da pecuária na floresta amazônica e um escândalo de suborno que resultou em penalidades multimilionárias da Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC) contra a JBS e os irmãos Batista podem manter as ações fora dos cardápios de investidores institucionais preocupados com ESG [sigla em inglês para boas práticas ambientais, sociais e de governanças].
Mesmo sem essas peculiaridades, vender carne é um negócio difícil. Os altos preços de grãos e gado estão aumentando os custos para os frigoríficos. Uma economia difícil também significa que o escopo para repassar os custos mais altos aos consumidores tornou-se mais limitado. Embora a receita da JBS em 2024 tenha aumentado 20% desde 2021, a lucratividade é 50% menor.
Apesar da valorização das ações após a aprovação de sua listagem nos EUA, a JBS atualmente é negociada a apenas cinco vezes o valor da empresa sobre o Ebitda [lucro antes de juros, impostos, tributos, amortizações e depreciações].
Em contraste, a Tyson Foods está com um múltiplo de nove vezes, enquanto a Smithfield Foods e a Hormel Foods estão com sete e 12 vezes, respectivamente. Uma listagem nos EUA, em virtude da potencial inclusão em índices e custos de financiamento mais baixos, deve ajudar a reduzir essa diferença de avaliação.
Mesmo assim, em comparação com os rivais americanos, o mix de negócios da JBS se inclina mais para o processamento de carne bovina de baixa margem em vez de alimentos processados de maior margem. Aquisições podem ajudar. Para fechar completamente a lacuna de avaliação, o rei brasileiro da carne terá que mudar muito mais do que sua listagem na Bolsa de valores.