O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta terça-feira (3) em meio ao impasse surgido com a elevação do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) que sofre bastante no cargo, mas que em determinadas ocasiões encontra alegrias para discutir e implementar medidas que acredita serem benéficas para o país.
As declarações são dadas enquanto o ministro corre para alinhar até a tarde desta terça com o Palácio do Planalto medidas que abram espaço para uma recalibragem na elevação do IOF promovida no mês passado e também iniciativas voltadas a reformas estruturais.
Depois que o governo elevou o tributo para tentar fechar as contas do ano, parlamentares reagiram ameaçando derrubar a medida –o que forçou o Executivo a estudar outras iniciativas, sendo parte delas reformas estruturais que são de interesse da Fazenda.
“Eu sofro bastante no cargo, mas eu tenho essas alegrias de olhar uma brecha para encontrar soluções mais estruturadas. Não é um cargo simples no momento que o Brasil está vivendo”, afirmou durante evento promovido pela revista Piauí. “Não tem sido fácil para nenhum ministro da Fazenda, mas eu gosto de onde eu estou, sobretudo se nós conseguirmos chegar do outro lado da margem com um país mais organizado”.
O ministro fez as declarações durante um evento sobre a relação entre os três Poderes da República. Questionado sobre o tema e a ligação dele com a crise do IOF, Haddad disse que o desenrolar do impasse tem sido positivo devido às conversas com os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), que, relatou, procuraram alternativas para uma eventual compensação à derrubada do maior IOF e apontaram a necessidade de medidas estruturais.
“O que aconteceu de uma semana para cá foi a melhor coisa que podia ter acontecido. E nós devemos muito isso aos presidentes. Porque quando a coisa, quando a crise, eu vou chamar assim, se instalou, o papel que se esperava dos dois presidentes, institucionalmente falando, era exatamente o papel que eles cumpriram, de uma maneira muito eficaz”, disse Haddad.
O ministro afirmou que não tem a pretensão de todas as propostas da Fazenda passarem pelo Congresso de forma incólume e sem negociação ou mediação. “Mas no balanço geral de dois anos e meio já, eu acredito que nós alcançamos, e não só eu acredito, nós tivemos vários indicadores de que o Brasil está num patamar diferente do que estava dois anos atrás”, disse.
Para Haddad, os atritos institucionais não são um fenômeno exclusivo do Brasil e que o mesmo ocorre sob outros formatos há anos, devido às crises financeiras do começo da última década combinadas com a ascensão das redes sociais. Mas, para ele, Lula atravessa o período sempre buscando o diálogo institucional com os atores políticos.
Ele disse que a necessidade de ajuste nas contas públicas não é novo e existe há mais de dez anos, mas que o tipo de acerto que se busca neste governo é inédito ao poupar os mais pobres. O ministro indicou que orientação é buscar correções de mau uso no sistema tributário.
“Nunca vi o governo se dispor a fazer o ajuste sem penalizar a população mais fragilizada. Isso não aconteceu no Brasil no período dos anteriores. De falar, olha, nós vamos fazer [ajuste], mas nós vamos ver assim, quem não tá pagando imposto, quem tá tendo benefício fiscal indevido, quem tá abrigando o planejamento tributário , quem que está usando expedientes até criminosos, como os devedores contumazes, abrindo CNPJ, fechando CNPJ, quem é que está fazendo a coisa errada e que nós podemos corrigir”, disse.
“A história do Brasil é chamar os pobres para se sacrificar um século a mais. Já são cinco, quem sabe mais um? É sempre assim. E nós falamos, olha, tem muito espaço fiscal para corrigir as contas sem penalizar quem precisa. Então, é isso que está acontecendo. Os presidentes, Hugo e Alcolumbre abriram essa regra”, afirmou. “Então, do meu ponto de vista, a maneira que ele está sendo conduzida pelo Senado e Câmara, nesse momento, a questão é a melhor possível”.
O ministro também exaltou a aprovação da reforma tributária durante o governo Lula. Para ele, a iniciativa tem, em termos de importância, a mesma magnitude que o plano de estabilização da moeda.
Ele também foi questionado sobre o projeto que altera regras para as big techs e defendeu a proposta da Fazenda, ainda em análise no governo, que eleva o rigor para as companhias.