Restaurante ruim é o que não falta no mundo.
Como ocorre com qualquer outra coisa, eles superam numericamente os bons. Mas há de se diferenciar os tipos de restaurante ruim. Eles são basicamente dois.
O primeiro tipo é o restaurante ruim raiz, que é ruim por desleixo, inércia e/ou incompetência. Ele sabe que é ruim e não tenta se passar por bom –quando tenta, é uma coisa meio envergonhada, tipo uma placa anunciando a melhor pizza da rua.
Quando penso nesse tipo de restaurante, vem-me à cabeça um lugar que estive nos arredores de Córdoba, Argentina.
Voltávamos de alguma atração turística bem mais ou menos (acho que era a casa em que Che Guevara passou parte da infância) para pegar o transporte de volta para a cidade.
Era meio tarde, já passava das 14h, a fome rugindo. Só restava um restaurante aberto nas proximidades da estação. Não havia muito o que decidir.
Fomos sem expectativa, mas o restaurante superou nossa falta de expectativa. Sujo, comida demorou um século, macarrão molenga, tudo sem sal, sem tempero.
Era, contudo, um lugar honesto na sua ruindade. Não enganava ninguém e sobrevivia aos trancos e barrancos graças à falta de concorrência.
O outro tipo de restaurante ruim tenta se disfarçar de bom. É caro, presunçoso e alardeia suas alegadas qualidades de um jeito que os restaurantes bons não costumam fazer.
O cardápio desse tipo de restaurante sempre terá assinatura de alguém que se julga chef de cozinha. Mesmo que o lugar funcione num sobradinho de bairro. Mesmo que essa pessoa tenha a ajuda apenas de uma copeira que lava a alface e a louça. Não interessa: ela circulará pelo ambiente, fingindo ter algo para fazer, trajando dólmã com o nome bordado. E crocs.
A especialidade da casa será a cozinha afetiva, de raiz ou de origem, nada que possua real significado. O menu terá uma página de texto para explicar tal conceito (ou proposta, se preferir).
Passamos à descrição dos pratos. Seus nomes virão em algum idioma estrangeiro, com preferência pelo italiano e pontual ocorrência do francês. A grafia estará invariavelmente errada, com letras duplas e agás que não existem, como se o Google ainda não estivesse por aí para a checagem.
A cada prato, corresponderá um verbete de pelo menos três linhas, quiçá gerado por inteligência artificial, com expressões como “explosão de sabores” e “experiência única”, além de lorotas sobre a tradição transmitida pela bisavó. Se tiver sorte, os ingredientes estarão listados.
Por fim, a comida.
Serão receitas óbvias e obsoletas, de execução sofrível. Polpettone com alguma coisa. Ravióli de muçarela de búfala. Risoto com filé. Fonduta de Grana Padano (o parmesão nacional mais barato, na verdade), redução de balsâmico, qualquer coisa de brie com geleia de pimenta.
Picadinho de filé (alcatra) com ovo pochê (duro) no almoço executivo, pistache e Nutella nas sobremesas.
Como o Diabo mora nos detalhes, o pior estará no toque autoral do chef. Raspas de limão-siciliano no molho de tomate, óleo trufado no nhoque, pimenta rosa em cima de absolutamente tudo.
Aí virá o café de baixa qualidade, queimado mas com uma fava de cardamomo, e a conta enrolada numa xícara de ágata. Você terá comido mal, mas pelo menos vai pagar uma exorbitância.
Não se esqueça de nos avaliar no Tripadvisor.