Uma disputa sobre uma suposta espionagem corporativa envolvendo duas das startups mais quentes do Vale do Silício ganhou um novo capítulo nesta terça-feira (3), após a empresa de software de RH Deel, avaliada em US$ 12 bilhões (R$ 67,8 bilhões), afirmar que sua rival Rippling direcionou um de seus funcionários para “furtar” ativos da empresa fingindo ser um cliente.
A nova acusação surge após a Rippling ter afirmado, no início deste ano, que um funcionário seu estaria espionando para a Deel. Segundo o depoimento desse funcionário, ao ser confrontado com as acusações, ele se trancou em um banheiro e destruiu seu celular com um machado.
Em novos documentos judiciais obtidos pelo Financial Times, a Deel contra-ataca afirmando que: “A Rippling está envolvida ativamente em uma campanha cuidadosamente coordenada de espionagem, por meio da qual se infiltrou na plataforma de clientes da Deel de forma fraudulenta e furtou os ativos proprietários mais valiosos da empresa”.
O caso revelou a rivalidade cada vez mais amarga entre os dois grupos sediados em São Francisco, financiados por alguns dos principais investidores do Vale, que disputam espaço no tradicional e pouco dinâmico setor de software de gestão de força de trabalho.
Ambas as empresas unicórnio contam com o apoio de investidores de alto perfil nos Estados Unidos. Andreessen Horowitz, Altimeter Capital e General Catalyst investiram na Deel. Já a Rippling recebeu aportes do Founders Fund, Baillie Gifford e GIC, sendo avaliada em US$ 16,8 bilhões no mês passado. A Coatue investiu nas duas companhias.
A Deel procurou rejeitar as acusações iniciais da Rippling de espionagem corporativa e entrou com um processo em Delaware, alegando que a rival tenta manchar sua reputação. As acusações mais recentes foram protocoladas na manhã de terça-feira como uma emenda a esse processo.
A Deel afirma que Brett Alexander Johnson, “gerente de inteligência competitiva” da Rippling, se passou por cliente e acessou informações sobre produtos e práticas comerciais da Deel ao longo de seis meses. Essas informações teriam sido utilizadas no desenvolvimento de um dos produtos da Rippling, segundo a Deel.
A investigação da Deel “ainda está em seus estágios iniciais”, mas a empresa afirma possuir “provas inequívocas” das atividades atribuídas a Johnson.
A Deel também alega que o CEO da Rippling, Parker Conrad, incentivou as ações de Johnson com o objetivo de descobrir “os segredos pelos quais a Deel alcançou anos de lucratividade”.
A Rippling abriu originalmente um processo contra a Deel na Califórnia, em março. A Deel apresentou petições para que o caso fosse arquivado ou transferido para a Irlanda. Paralelamente, entrou com uma ação civil contra a Rippling em Delaware. As acusações mais recentes são uma emenda a esse processo.
A disputa teve início com a afirmação da Rippling, feita em março, de que a Deel teria cooptado um funcionário seu, Keith O’Brien, para furtar informações confidenciais da empresa ao longo de quatro meses.
“Os mais altos níveis da liderança da Deel estão implicados em um esquema descarado de espionagem corporativa e serão responsabilizados”, disse Alex Spiro, advogado da Rippling, na época.
Quando foi confrontado por advogados da Rippling, O’Brien se trancou em um banheiro. Em um depoimento prestado posteriormente, aberto por um tribunal irlandês, ele disse ter destruído seu celular com um machado e jogado os restos em um ralo.
O’Brien também declarou que agia sob orientação do CEO da Deel, Alex Bouaziz.
A Deel, por sua vez, sugeriu que O’Brien era, na verdade, um denunciante preocupado com as práticas da Rippling, e que teria prestado depoimento sob coação.
A Rippling não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.