A maior subsidiária da Toyota Motor recebeu uma proposta de recompra total de ações no valor de 4,7 trilhões de ienes (R$ 190 bilhões), que inclui 1 bilhão de ienes (R$ 39,3 milhões) do dinheiro pessoal do presidente Akio Toyoda. O negócio promete remodelar o maior império empresarial do Japão.

A Toyota Industries —fabricante de peças essencial para a maior montadora do mundo em volume de vendas— informou nesta terça-feira (3) que recebeu uma oferta de 16,3 mil ienes (R$ 641) por ação de uma empresa de propósito específico apoiada pela Toyota Motor e por outra companhia do amplo Grupo Toyota.

A proposta representa um desconto de 11,4% em relação ao preço de fechamento da Toyota Industries na terça-feira (18,4 mil ienes, ou R$ 724), mas ainda configura um prêmio de 23% sobre o valor anterior à divulgação do interesse na recompra de ações pela gestão, em 25 de abril.

O Grupo Toyota é formado por 18 empresas interligadas por participações acionárias cruzadas, um modelo de governança corporativa hoje em desuso e alvo de reformas no Japão. A recompra desfaz uma das maiores dessas participações cruzadas e pode servir de modelo para outras empresas japonesas.

Segundo porta-voz da Toyota Industries, o valor total da transação é de 4,7 trilhões de ienes (R$ 190 bilhões). Esse montante inclui uma participação de quase 25% atualmente detida pela Toyota Motor, avaliada em cerca de R$ 39 bilhões, que será recomprada pela Toyota Industries em uma etapa posterior.

O Grupo Toyota informou que criará uma nova holding para realizar a operação, com a Toyota Motor investindo cerca de 700 bilhões de ienes (R$ 27,5 bilhões) em ações sem direito a voto. A Toyota Fudosan —incorporadora imobiliária não listada na bolsa e presidida por Akio Toyoda— também aportará 180 bilhões de ienes (R$ 7 bilhões), além do investimento pessoal do próprio Toyoda.

Ao final da operação, a holding terá três proprietários: Toyoda, a Toyota Motor e a Toyota Fudosan, simplificando a estrutura acionária da Toyota Industries.

As fornecedoras de peças Aisin e Denso venderão suas participações na Toyota Industries, ajudando a desfazer a complexa rede de participações cruzadas. A Toyota Motor também recomprará os 9% de ações que a Toyota Industries detém atualmente na montadora.

Reguladores e a Bolsa de Valores do Japão têm pressionado as empresas a reduzirem suas participações cruzadas e os chamados “listamentos pais-e-filhos”, em que uma companhia de grande porte e sua subsidiária estão ambas listadas em Bolsa.

O conselho de administração da Toyota Industries afirmou que apoiará a proposta de recompra quando a nova holding for oficialmente criada e lançar a oferta pública de aquisição em dezembro.

Embora o negócio represente um avanço nas reformas de governança corporativa do Japão, alguns analistas alertam para a falta de transparência na avaliação dos ativos envolvidos.

“Há pouquíssima transparência sobre como os assessores financeiros chegaram ao valor justo. Normalmente há alguma explicação. Além disso, a empresa pretende mudar drasticamente seu balanço patrimonial no curto prazo ao se desfazer da maioria de suas participações cruzadas”, afirmou Travis Lundy, analista independente. “Há muitos fatores em movimento que foram mal explicados.”

Segundo a Toyota Industries, sua dívida líquida é de 1,7 trilhão ienes (R$ 67 bilhões), o que eleva o valor corporativo total para mais de 6 trilhões ienes (R$ 240 bilhões).

As três empresas do Grupo Toyota envolvidas na operação afirmaram: “Com esse fechamento de capital, a Toyota Industries pretende aprofundar a colaboração dentro do Grupo Toyota, avançar de forma dinâmica e ágil, e liderar o setor de mobilidade.”

Fundada em 1926 pelo bisavô de Akio Toyoda, Sakichi Toyoda, para produzir teares automáticos, a Toyota Industries é hoje a maior fabricante de empilhadeiras do mundo. Foi a partir de seu braço automotivo que nasceu, anos depois, a Toyota Motor.