/ Jun 06, 2025

Economia comportamental pode propiciar mais crescimento? – 04/06/2025 – Mercado

Podemos “dar empurrõezinhos” rumo a uma taxa maior de crescimento econômico? Em um discurso recente, David Halpern argumentou que deveríamos ao menos tentar. Halpern foi o fundador da BIT (Behavioural Insight Team), equipe entusiasticamente promovida pelo então primeiro-ministro britânico David Cameron, então não surpreende que ele sugira que políticas públicas informadas pela ciência comportamental possam elevar a taxa de crescimento do Reino Unido. Mas será que ele tem razão?

A política pública comportamental passou a significar duas coisas distintas. A primeira é o reconhecimento de que as pessoas nem sempre se comportam conforme o modelo simples de comportamento humano presente nos livros de economia.

Por exemplo, planos de previdência no trabalho podem ser configurados para quem opta por participar, ou para todos, exceto os que optam por sair. A distinção parece trivial, mas em um cenário real cheio de pessoas falhas, a mudança na opção padrão faz enorme diferença nas escolhas reais: se for preciso pedir para sair, muito mais funcionários ficam cobertos pelo plano do que ser for necessário solicitar a adesão.

A segunda é que novas ideias de políticas públicas devem ser rigorosamente testadas —idealmente, por meio de experimentos controlados randomizados. Não há nada de particularmente “comportamental” nessa ideia, mas tais testes frequentemente fornecem fortes evidências de que a economia comportamental deve ser levada a sério —e, por isso, os defensores dos testes randomizados costumam ser os mesmos que defendem o uso de ideias da economia comportamental.

Então, políticas mais psicologicamente realistas e rigorosamente avaliadas poderiam levar a um maior crescimento econômico? Talvez. O problema é que esse tipo de política tende a ter escopo bastante limitado.

Por exemplo, há uma década, a BIT conduziu um experimento que revelou que as pessoas faltavam menos a compromissos com o NHS (sistema público de saúde britânico) quando recebiam mensagens de texto oportunas explicando que cada ausência custava cerca de £ 160 (R$ 1.223) ao NHS.

Tomando os números da BIT ao pé da letra, tais mensagens bem direcionadas poderiam evitar mais de um milhão de faltas e economizar cerca de £ 220 milhões (R$ 1,6 bilhões) por ano. Ninguém se oporia a isso —mas economizar £ 220 milhões, ou cerca de £ 3,25 (R$ 24,8) por habitante do Reino Unido, não constitui uma estratégia de crescimento.

Uma abordagem, então, seria ampliar esse tipo de experimentação para que escolas, hospitais, polícias e prisões descubram constantemente maneiras melhores de agir, obtendo resultados melhores com menos recursos. Descobrir um “truque” novo, como essas mensagens, seria ótimo. Descobrir um por mês, melhor ainda. Um por semana —e os números do crescimento poderiam, de fato, começar a melhorar.

O ministro do Gabinete, Pat McFadden, pode ter tido isso em mente em dezembro passado, quando anunciou um pequeno fundo para apoiar uma “cultura de teste e aprendizado” no governo. Uma boa ideia, mas não nova. A aprendizagem e melhoria onipresentes, baseadas em evidências, são essenciais, mas teria sido bom ouvir McFadden explicar como sua proposta avançaria a abordagem “testar, aprender, adaptar” defendida pelo Gabinete em 2012.

Até agora, as percepções comportamentais e os experimentos rápidos têm sido geradores de soluções à procura de problemas. Se uma estratégia de crescimento é encontrar e resolver milhares de pequenos problemas, a alternativa é começar com os maiores e perguntar se a ciência comportamental pode ajudar.

No Reino Unido, esses grandes problemas incluem: baixa qualidade da educação técnica, especialmente para quem não vai à universidade; infraestrutura ruim; baixos investimentos empresariais; uma cauda longa de empresas improdutivas; e regulamentações de planejamento urbanístico excessivamente onerosas.

Uma abordagem comportamental pode oferecer alguma esperança aqui. Por exemplo, Halpern elogia o “apprenticeship levy”, termo que se refere a efetivamente impor um imposto às empresas para financiar programas de aprendizagem, mas oferece isenção fiscal àquelas que investirem o valor em seus próprios programas de capacitação.

Isso parece, e de fato é, mais complicado do que uma simples isenção fiscal para treinamento, mas foi estruturado para aproveitar nossa tendência de categorizar dinheiro de forma arbitrária conforme o uso pretendido. O termo técnico para isso é “contabilidade mental”.

O exemplo clássico é a pessoa que guarda dinheiro em potes separados para aluguel, alimentação, poupança e lazer. O apprenticeship levy explorou essa contabilidade mental ao sugerir às empresas que havia um “pote” de dinheiro para treinamento —e que, se não fosse gasto, o governo ficaria com ele. (Segundo Halpern, o Tesouro britânico ficou surpreso com a eficácia da medida.)

Uma abordagem similar poderia ser usada para incentivar investimentos em capital. Ou, aproveitando uma ideia antiga do prêmio Nobel Paul Romer, o governo poderia aprovar uma lei permitindo que setores da economia votassem por um imposto compulsório setorial para financiar P&D relevante.

A indústria de parafusos, por exemplo, poderia votar por um imposto de 1% sobre todas as empresas do setor, que financiaria projetos de pesquisa escolhidos por cada empresa, com os frutos disponíveis para todas.

A ideia de Romer é um engenhoso mecanismo econômico, mas também faz sentido psicológico: financia o bem público da inovação, enquanto dá a cada empresa a sensação de posse sobre um fundo e controle real sobre seu uso.

Mais amplamente, Halpern quer usar essa ideia dos “potes mentais” para gerar apoio a investimentos. Talvez um novo imposto, ou um corte nos gastos do dia a dia, pareça menos doloroso se os benefícios forem explicitamente destinados a investimentos para o futuro da nação.

Quanto à infraestrutura e ao planejamento urbano, não sei. Talvez o que seja necessário aqui, não seja ciência comportamental, mas liderança.

Mas, falando em liderança, Halpern sugere outra abordagem interessante: talvez o governo devesse ser um pouco mais otimista? O desempenho de uma economia vai muito além dos “espíritos animais” de Keynes, mas há evidências amplas de que eles de fato importam.

As empresas tendem a investir mais quando se sentem confiantes —e, embora parte dessa confiança dependa de fatos concretos sobre a política e a economia, outra parte é simplesmente uma questão de clima. Seria provavelmente uma boa jogada política se Keir Starmer e sua equipe começassem a soar um pouco mais otimistas sobre as perspectivas do Reino Unido. Talvez fosse uma boa jogada econômica também.

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