Visitantes da Expo eVTOL, feira organizada pela plataforma MundoGEO, se revezavam para entrar nas cabines dos eVtols (também conhecidos como carros voadores) expostos nos corredores do Expo Center Norte nesta quarta-feira (4), em São Paulo. A organização do evento espera que 10 mil pessoas passem pelo local até esta quinta (5), último dia da feira.
Pela primeira vez, a companhia brasileira Eve, da Embraer, esteve presente no evento. A empresa levou a cabine de seu eVtol para a feira, e visitantes puderam fotografar e entrar no carro voador. O modelo, no entanto, é antigo e diferente do protótipo em escala real apresentado pela companhia em maio do ano passado.
A Eve já tem 2.800 cartas de intenção de compra para seu eVtol. À Folha Luiz Valentini, diretor de tecnologia da empresa, diz que a fabricante tenta avançar em conversas com compradores interessados do Brasil e dos Estados Unidos, países onde a Eve está em trâmite com órgãos reguladores para obter certificação (documento necessário para operação comercial).
Totalmente elétrico e com um alcance de 100 quilômetros, o eVtol brasileiro é do tipo lift & cruise, ou seja, possui asas e rotores (hélices) separados para propulsão vertical e horizontal.
A Eve anunciou nesta terça-feira (3), durante o evento, que foi selecionada pela Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) para receber um investimento de até R$ 90 milhões para o desenvolvimento do projeto.
Além dos recursos do Finep, a fabricante brasileira terá que fazer um investimento próprio como contrapartida. No total, somando as duas fontes, o montante previsto para o projeto é de até R$ 191 milhões.
Além da Eve, também estava presente a startup brasileira Ave. A empresa levou seu eVtol, de 500 quilos, para o local. O modelo possui um gerador de hidrogênio verde que permite autonomia para quatro horas de voo. Ele pode ser usado de forma autônoma (sem piloto) ou de forma manual (com piloto).
Já a Gohobby expôs um carro voador do qual é revendedora no Brasil —o modelo 216-S, da chinesa EHang. O eVtol tem 1,93 metros de altura e 5,73 metros de largura e possui até um compartimento que funciona como porta-malas. A velocidade máxima chega a 130 km/h, e a distância máxima a ser percorrida pelo eVtol é de 30 quilômetros.
A fabricante paulista Moya também levou o Moya eVTOL, voltado para o transporte logístico entre armazéns.
Durante painel sobre a operação dos eVtols, conselheiro sênior do conselho de segurança da Gol, Sergio Quito, disse que os voos de carros voadores terão de ser mais baratos do que os de helicópteros, para que a operação atraia passageiros e se torne sustentável.
“A nossa pretensão é voo regular. Jamais vamos ser uma empresa de táxi aéreo. Para ter uma operação sustentável, teremos que fazer vários voos”, disse Quito.
No ano passado, no mesmo evento, Quito havia dito que um preço de US$ 100 (pouco mais de R$ 560) para viagens de 30 km era alcançável, mas não em um primeiro momento.
A Gol planeja fazer leasing (aluguel) de 150 eVtols do modelo VX4, da empresa britânica Vertical Aerospace, com possível adição de outras 100 aeronaves. A companhia aérea prevê o começo do serviço para 2029.
O VX4 possui 15 metros de envergadura (distância entre as asas) e 13 metros de comprimento. A velocidade chega a 240 km/h, e a aeronave tem capacidade para quatro passageiros, além do piloto.
A Gol planeja fazer voos entre os aeroportos de Congonhas e Guarulhos, em um tempo de até 15 minutos, e entre os terminais Santos Dumont e Galeão, no Rio de Janeiro, com um tempo de até sete minutos.
Uma pesquisa do instituto Qualibest encomendada pelo MundoGEO, organizadora da expo eVTOL, mostra que mais de 60% dos entrevistados que são das classes A e B disseram que considerariam viajar em carros voadores caso estivessem disponíveis. Nas classes C, D e E, o patamar cai para 52%.
Ainda de acordo com a pesquisa, 66% dos homens entrevistados consideram utilizar o eVtol –o patamar é de 52% entre as mulheres.
O instituto Qualibest realizou 830 entrevistas, por meio de questionário online, entre 30 de abril e 9 de maio, com pessoas de 18 anos ou mais que já viajaram de avião e de todas as regiões do país. A margem de erro é de 3,47 pontos percentuais, e o nível de confiança da pesquisa é de 95%.
Emerson Granemann, CEO da MundoGEO, diz que as classes mais abastadas andam mais de avião e que, por isso, estão mais abertas a novas tecnologias da aviação.
Segundo ele, a maior parte do país ainda não sabe bem o que são os eVtols. Conforme informações sobre os carros voadores forem disseminadas, a tendência é que haja mais aceitação pelo público em geral.
“Quando for aprovado e tiver todo o regramento posto, ele [o eVtol] vai ser um modal mais acessível. Eu acho que na medida que ele começa a se popularizar, nós poderemos ter, sim, a médio e talvez a longo prazo, uma tendência de queda no preço”, diz Granemann.
O setor de eVtols vem vivendo um momento delicado, com turbulência financeira e paralisação nos projetos de empresas como Airbus e Lilium. Um dos entraves é o alto custo para a certificação das aeronaves.
A Expo eVTOL divide o espaço no Expo Center Norte com outras feiras do setor aeroespacial, como o DroneShow e o SpaceBR Show, que apresentam novas tecnologias nos segmentos de drones e da indústria espacial.
Uma das atrações que chamou atenção dos visitantes nesta quarta foi o robô humanoide Unitree G1, apresentado pela xd4solutions. O robô utiliza inteligência artificial para executar tarefas e pode ser útil para diversas funções, como atendimento a clientes e até pulverização no campo.
O Unitree G1 é equipado com até 43 motores nas articulações, o que lhe proporciona boa flexibilidade. O robô possui uma altura de 1,27 metros e pesa aproximadamente 35 kg, e sua velocidade de caminhada atinge 2 metros por segundo.