/ Jun 06, 2025

Praia Brava quer desbancar Balneário Camboriú – 04/06/2025 – Turismo

“Há oito anos, a Praia Brava era só mato”, lembra Maria da Glória, aposentada de 78 anos. Ela é dona de uma das poucas casas ainda de pé, hoje cercada por prédios de alto padrão, hotéis de luxo e beach clubs que definem a nova paisagem da orla no município de Itajaí, em Santa Catarina.

Moradora da Praia Brava há 30 anos, Maria da Glória acompanhou de perto a transformação da região. Antes tranquila, frequentada apenas por moradores e surfistas em busca de praias mais isoladas, a área passou por um processo acelerado de valorização.

Nos últimos três anos, a valorização média dos imóveis nessa localidade supera 20% ao ano, chegando a atingir até 30%. Atualmente, o preço do metro quadrado na região gira em torno de R$ 33 mil, segundo a Brain Inteligência Estratégica.

Alguns empreendimentos já alcançam patamares semelhantes aos de Balneário Camboriú, cidade vizinha que ostenta o metro quadrado mais caro do Brasil.

Para Marcelo Brognoli, presidente do Creci-SC (Conselho Regional de Corretores de Imóveis de Santa Catarina), a valorização acelerada da Praia Brava também é resultado do aproveitamento do crescimento imobiliário da vizinha Balneário Camboriú.

“Balneário Camboriú tem um mercado imobiliário aquecido, mas espaço limitado para crescer. A Brava tem atraído um público de alta renda que busca mais tranquilidade, sem abrir mão da infraestrutura e do estilo de vida sofisticado oferecidos pela cidade mais verticalizada, que fica a apenas dois quilômetros dali”, afirma.

De acordo com Carlos Alberto Barbosa Souza, professor de arquitetura e urbanismo da Univali (Universidade do Vale do Itajaí), o interesse das construtoras na praia começou há cerca de dez anos, impulsionado pelo adensamento urbano mais planejado em Itajaí, aliado ao desenvolvimento econômico da região, que vem atraindo investidores de todo o Brasil.

O Plano Diretor de Itajaí, revisado em 2024, estabelece regras para a Praia Brava, com foco na preservação ambiental e no controle da verticalização. Ele limita a altura dos prédios próximos à orla —que, na prática, chegam a no máximo cinco andares em terrenos de frente para o mar— e exige estudos técnicos para evitar que as construções projetem sombra sobre a faixa de areia.

“O bairro é dividido em zonas específicas, cada uma com regras diferentes de uso, altura e ocupação, priorizando a integração com a paisagem. O estímulo à hotelaria e a preservação da restinga e das áreas verdes também são prioridades”, afirma João Paulo Kowalsky, secretário de Desenvolvimento Urbano e Habitação de Itajaí.

A Procave foi uma das primeiras incorporadoras a investir na região. A empresa especializada em empreendimentos imobiliários de alto padrão apostou que, como os terrenos já estavam ficando escassos em Balneário Camboriú, o caminho natural para a expansão do mercado imobiliário seria a Praia Brava.

Inaugurado em 2009, o Brava Home Resort foi um dos primeiros condomínios do tipo clube da região. Desde então, tem registrado uma valorização média de 18% ao ano. Atualmente, um apartamento de três quartos no empreendimento é anunciado por R$ 10,5 milhões, segundo Clóvis de Albuquerque Filho, diretor da Procave.

Neste ano, a incorporadora Muze anunciou um novo empreendimento na Praia Brava. O complexo residencial Tempo, que contará com o primeiro projeto no Brasil assinado pelo escritório do arquiteto britânico Norman Foster.

Reconhecido mundialmente, Foster é autor de obras como o London City Hall, em Londres, o Estádio Lusail, no Qatar, e o Apple Park, na Califórnia.

A previsão de inauguração é para o início de 2029, com o valor geral de vendas estimado em R$ 2,5 bilhões. O complexo contará com oito torres e apartamentos que podem ultrapassar a faixa dos R$ 100 milhões.

O empreendimento também será a sede do hotel Emiliano Praia Brava, o primeiro hotel seis estrelas da região, localizado de frente para o mar. O investimento é de R$ 250 milhões. A estrutura contará com 48 acomodações de 60 a 160 metros quadrados, e as diárias devem variar entre R$ 4.500 e R$ 5.000.

Para Bruno Cassola, corretor especializado em imóveis de luxo, a Praia Brava não concorre diretamente com Balneário Camboriú, que já tem demanda consolidada. O foco, segundo ele, é atrair um perfil mais seleto de milionários em busca de exclusividade. “Acredito que, em três a cinco anos, a Praia Brava será um dos principais bairros de luxo do Brasil”, afirma.

Bruno acredita que o perfil dos empreendimentos na Praia Brava deve mudar nos próximos anos. Segundo ele, o alto custo dos terrenos à beira-mar torna inviável a permanência dos beach clubs nessas áreas, já que a rentabilidade não compensa.

“A tendência é que as baladas migrem para áreas mais afastadas, onde a logística e a infraestrutura são mais favoráveis. No lugar deles, devem surgir hotéis, bistrôs, cafés, restaurantes e edifícios residenciais”, explica.

Um dos clubes mais populares da região é Warung Beach Club, tradicional espaço dedicado à música eletrônica na Praia Brava, que deve encerrar suas atividades após 23 anos de funcionamento. Segundo comunicado publicado nas redes sociais do clube, o último show de despedida anunciado até o momento está previsto para o dia 11 de julho.

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