Os custos das importações norte-americanas de aço e alumínio —usados em produtos que vão de tacos de beisebol a carros e peças de aeronaves— devem subir mais de US$ 100 bilhões (R$ 560 bilhões) depois que Donald Trump aumentou nesta semana as tarifas sobre esses metais para 50%.
Segundo estimativas da Boston Consulting Group, os novos encargos, que entraram em vigor na quarta-feira (11), resultarão em um custo adicional de US$ 52,6 bilhões (R$ 295 bilhões) por ano sobre produtos de aço e alumínio.
Com isso, o custo total esperado com as importações sobe para US$ 104 bilhões (R$ 582 bilhões)— aproximadamente o dobro dos US$ 51,4 bilhões (R$ 287 bilhões) estimados pelo mesmo grupo quando Trump introduziu uma tarifa de 25% em março.
Analistas afirmam que a complexa rede de tarifas impostas pelos EUA e as mudanças frequentes de Trump em sua política comercial dificultam prever como o comércio global desses metais será afetado e o quanto os preços subirão no mercado interno.
“Até agora, não vimos mudanças significativas nos fluxos de comércio com um aumento de 25% no preço”, disse Nicole Voigt, diretora-gerente da BCG. “A questão é: veremos isso com um aumento de 50%? Isso depende de como os preços [dos metais] se comportarão.”
Durante uma conferência do UBS nesta semana, a diretora financeira da Ford, Sherry House, afirmou que metade dos US$ 2,5 bilhões (R$ 14 bilhões) de impacto tarifário bruto previsto para 2025 vinha de peças que contêm aço e alumínio.
Esses valores ainda podem variar, dependendo das negociações tarifárias entre EUA e China. “As tarifas da China diminuem o custo das peças, enquanto as tarifas sobre alumínio e aço aumentam. A boa notícia é que um compensa o outro”, afirmou House.
Em 2023, Canadá e União Europeia foram os principais exportadores de produtos de aço e alumínio para os EUA, enquanto a China liderou nas exportações de aço e o México, nas de alumínio, segundo o Serviço de Pesquisa do Congresso dos EUA.
A Allianz Research estima que as novas tarifas possam gerar perdas de até US$ 2 bilhões (R$ 11,2 bilhões) nas exportações do setor de metais do Canadá até o final do ano, US$ 1 bilhão para o México e US$ 600 milhões para a Coreia do Sul.
Produtores de aço europeus alertaram que a tarifa de 50% representa, na prática, uma “proibição de importação” para a maior parte das 3,8 milhões de toneladas que a UE exporta anualmente para os EUA. Eles temem que grande parte do aço que antes iria para os EUA seja redirecionada para a Europa, como já ocorreu em 2018, quando as primeiras tarifas foram aplicadas.
A Comissão Europeia relatou nesta semana aumentos expressivos no volume de importações e quedas acentuadas nos preços de uma série de produtos de aço —de guitarras a robôs industriais— desde o início do ano.
Segundo a Comissão de Comércio Internacional dos EUA, as tarifas impostas durante o primeiro mandato de Trump reduziram as importações de aço e alumínio em 24% e 31%, respectivamente. No entanto, isso aumentou apenas modestamente a produção doméstica, elevando os preços médios internos em 2,4% para o aço e 1,6% para o alumínio.
Fabricantes de aço nos EUA vêm acelerando planos para ampliar a produção e preencher as lacunas deixadas pela queda nas importações, mas especialistas alertam que levará tempo até que novas usinas entrem em operação.
Philip Bell, presidente da associação americana Steel Manufacturers Association, destacou que já foram investidos “mais de US$ 20 bilhões (R$ 112 bilhões) em novas instalações de aço” desde que as tarifas foram anunciadas pela primeira vez em 2018.
Segundo a S&P Global Ratings, o aumento nos custos de aço e alumínio pode reduzir os lucros das fabricantes de bens industriais em “5% a 10% em 2025, caso não haja aumento de preços”.
Don Marleau, líder do setor de metais, bens de capital e embalagens da S&P, afirmou que, embora as empresas precisem repassar cerca de 2% em aumentos para manter os lucros, espera-se que os fabricantes absorvam parte dos custos adicionais para preservar as vendas.