Se o treinador da seleção fosse qualquer outro brasileiro, diriam que ele organizou uma forte retranca no empate por 0 a 0 com o Equador. Os sete defensores (quatro da defesa e três do meio-campo), às vezes oito com o recuo de Estêvão pela direita, bloquearam a entrada da área com eficiência. O Equador não teve uma única clara chance de gol, por causa do posicionamento e da qualidade dos defensores e da enorme deficiência dos atacantes equatorianos. Os dois titulares, Valencia, que joga no Inter, e Plata, do Flamengo, fizeram muita falta.
O estrategista Ancelotti, preocupado com o grande número de gols sofridos pela seleção nas Eliminatórias, planejou a marcação recuada para atrair o Equador e contra-atacar com os velozes Vini e Estêvão. Funcionou bem apenas a primeira parte. Faltou a mais importante. Esta é a grande transformação do futebol nos últimos anos nas grandes equipes: valorizar muito mais a beleza e os lances ofensivos do que os defensivos.
Os três meio-campistas do Brasil marcaram muito, mas não conseguiram sair da marcação, trocar passes e ter o domínio da bola. Nas poucas vezes em que Vini e Estêvão tinham a bola, não conseguiam driblar os marcadores. Richarlison, quando recebia a bola, entregava-a para o adversário.
Casemiro comandou o sistema defensivo. O estreante zagueiro Alexsandro esteve muito bem. É alto, forte e rápido e tem um bom passe. Ele e Marquinhos fizeram uma ótima dupla. Os dois laterais, que não passaram do meio-campo, também marcaram bem.
Na terça-feira, contra o Paraguai, deve ser diferente e melhor. Mesmo se Ancelotti mantiver todos os titulares, a equipe deverá ter mais a bola e criar chances de gol. Gerson e Bruno Guimarães precisam se aproximar mais dos três da frente.
Atuar com três meio-campistas, como fez o Brasil, não significa jogar com três volantes. Portugal e Espanha, que farão neste domingo (8) a final da Liga das Nações, atuam com três no meio-campo e são times que se destacam pelo ataque. Os três de cada equipe são habilidosos, possuem ótima técnica e deslizam no gramado, de uma intermediária à outra. Marcam, criam e atacam. É bonito vê-los jogar.
Está ultrapassado atuar com dois volantes apenas marcadores em linha, com um meia de ligação, camisa 10, centralizado e responsável por toda a armação das jogadas, além de dois pontas abertos, isolados, e um centroavante estático finalizador, camisa 9. Cristiano Ronaldo, que fez o gol da vitória por 2 a 1 de Portugal sobre a Alemanha, é uma merecida exceção, pois tem 40 anos e talvez seja o maior finalizador da história do futebol, o que não significa que seja o melhor jogador de todos os tempos, como ele acha que é.
Enquanto o Brasil carece de craques no meio-campo, que atuam de uma intermediária à outra, sobram esses jogadores nas seleções de Portugal e Espanha. Por outro lado, as duas seleções mostraram problemas defensivos. Nada é perfeito.
A minha esperança é que Ancelotti forme um time equilibrado, muito bom na defesa, no meio-campo e no ataque. Mais que isso, que a seleção seja o gatilho para uma transformação do futebol brasileiro, dentro e fora de campo, no gramado, na organização e na compreensão da maneira de ver o futebol moderno.