É improvável que a China afrouxe o controle sobre a exportação de terras raras necessárias para fabricar veículos elétricos, caças e microchips, apesar da ligação amigável entre o presidente Donald Trump e o líder chinês Xi Jinping na quinta-feira (5).

Os dois mandatários, falando pela primeira vez desde que Trump se tornou presidente, trocaram convites para visitas de Estado e concordaram com outra rodada de negociações comerciais de alto nível para dar seguimento à trégua alcançada em Genebra no mês passado.

O tom cordial surgiu em meio a uma série de contatos entre EUA e China na semana passada. O novo embaixador dos EUA na China, David Perdue, se reuniu com o ministro das Relações Exteriores chinês, enquanto o vice-presidente chinês, Han Zheng, recebeu uma delegação empresarial americana na quinta.

Mas houve uma discrepância nas declarações dos dois lados após a ligação Trump-Xi sobre uma das questões mais contenciosas: terras raras, necessárias para fabricar todos os tipos de tecnologias avançadas e produzidas quase que inteiramente na China.

Trump disse no Truth Social que “não deveria mais haver dúvidas sobre a complexidade dos produtos de terras raras”, mas o comunicado chinês não mencionou o assunto.

A China responde por 70% da mineração mundial de terras raras e, mais importante, mais de 90% do processamento.

Pequim impôs controles rigorosos sobre as exportações de sete terras raras em abril, depois que Trump começou a impor tarifas cada vez mais altas sobre produtos chineses. Os metais incluem térbio, usado para fabricar lâmpadas de baixo consumo, e disprósio, usado em motores de veículos elétricos.

Antes da ligação com Xi, autoridades do governo Trump acusaram Pequim de violar o acordo de Genebra para reduzir tarifas de três dígitos e barreiras não tarifárias enquanto outras negociações comerciais seguiam em curso.

Mas longe de aliviar as restrições, a China continuou a expandir e aprimorar controles de exportação sobre terras raras e outros minerais críticos, implementando novos requisitos de licenciamento e reprimindo o contrabando, de acordo com declarações oficiais chinesas e especialistas do setor.

Algumas das restrições específicas de exportação direcionadas aos Estados Unidos podem ser suspensas como parte das negociações comerciais, mas “o fortalecimento geral dos controles de exportação da China é uma mudança relativamente fundamental”, disse Liu Ying, pesquisadora da Universidade Renmin em Pequim. “Não é realista esperar que a China os suspenda completamente.”

Pequim insiste que cumpriu os compromissos de “suspender ou cancelar” as medidas retaliatórias não tarifárias às sobretaxas do “dia da libertação” de Trump em 2 de abril. A China anunciou restrições a sete terras raras e ímãs em 4 de abril, embora nunca tenha dito oficialmente que isso era retaliação.

Em vez disso, as autoridades chinesas afirmaram que os controles não visam um país específico. “Terras raras e itens relacionados têm propriedades de uso duplo óbvias e é uma prática internacional aceita impor controles de exportação sobre tais coisas”, disse o Ministério do Comércio na quinta, referindo-se às potenciais aplicações militares de produtos feitos com terras raras.

Os controles chineses sobre a exportação de tecnologia de refino são os mesmos que os controles dos EUA sobre tecnologia de microchips, disse Xia Qifan, pesquisador de minerais críticos do Instituto de Administração de Xangai, afiliado ao estado.

“Os EUA algum dia liberarão totalmente os controles sobre tecnologias de chips para a China? Eles nunca os relaxaram”, disse Xia. “Desenvolvemos nossas indústrias de terras raras a um grande custo quando os países ocidentais não queriam produzir terras raras em casa. Certamente temos o direito de proteger e gerenciar esse tipo de elemento dissuasório.”

Para acessar esses minerais, as empresas americanas agora devem solicitar licenças para exportar terras raras processadas, mas a China continua a exigir verificações demoradas antes de aprovar as exportações, independentemente do destino.

O governo chinês essencialmente “pressionou o botão de pausa” nas exportações, disse Marina Yue Zhang, professora associada da Universidade de Tecnologia de Sydney.

O chefe de comércio da União Europeia levantou preocupações sobre os controles de Pequim com o ministro do comércio chinês na quinta, depois que fornecedores europeus de autopeças disseram que as restrições da China já estavam paralisando a produção.

Há anos, a China tem tentado desenvolver um sistema de controle de exportação, semelhante às restrições dos EUA sobre tecnologia de produção de semicondutores. Agora Pequim está “usando-o ativamente como uma ferramenta de coerção”, disse Liza Tobin, diretora-gerente da Garnaut Global, uma empresa consultora de risco geopolítico focada na China.

Pequim justificou essas atualizações como necessárias para evitar que produtos fabricados na China sejam usados para fins militares que prejudiquem seus interesses. Isso inclui vendas a fabricantes de armas americanos que foram sancionados por manterem laços comerciais com Taiwan, a ilha democrática que Pequim reivindica como seu território.

“Neste momento, eles têm muita influência, estão pressionando muito e querem mais concessões”, disse Tobin. “Eles absolutamente querem enviar um sinal de que podem desligar a máquina de guerra norte-americana quando quiserem.”

A China não está errada ao dizer que as terras raras são muito utilizadas pelos fabricantes de armas, mas isso ocorre porque são um insumo básico —mas muitas vezes essencial— para uma enorme variedade de tecnologias avançadas. Das dezenas de minerais críticos considerados estrategicamente importantes para a indústria avançada, o grupo de 17 minerais conhecidos como terras raras está entre os mais procurados.

Os metais têm propriedades magnéticas e químicas incomuns que os tornam cruciais para muitas tecnologias modernas. Eles podem ser usados para produzir ímãs incrivelmente pequenos, mas fortes, necessários para fazer alto-falantes vibrarem ou turbinas eólicas gerarem eletricidade. Eles são usados em materiais que absorvem luz infravermelha para permitir visão noturna ou em lasers usados para gravar padrões em microchips.

As terras raras não são realmente raras. Elas são, na verdade, relativamente abundantes na crosta terrestre. Mas sua natureza reativa torna difícil extraí-las de aglomerados confusos de minerais misturados para criar pós metálicos puros ou ligas úteis para a indústria.

Ao longo de décadas, a China transformou sua liderança nesses procedimentos complexos em um estrangulamento.

À medida que os EUA e a Europa elevaram os padrões de proteção ambiental na década de 1990, o processo tóxico de refinamento químico dos metais se concentrou na China. Quando os governos ocidentais começaram a se preocupar com sua dependência da China para insumos industriais tão essenciais, as empresas chinesas já processavam quantidades tão vastas dos metais a preços tão baixos que as refinarias em outras partes do mundo lutavam para competir.

Esse controle sobre um gargalo crítico permanece, apesar de quase uma década de tentativas dos EUA de quebrá-lo.

Desde pelo menos 2017, os EUA têm trabalhado em diferentes administrações para afrouxar o controle da China, garantindo suprimentos de minerais críticos, incluindo terras raras, nos EUA e em todo o mundo. O Departamento de Defesa gastou US$ 439 milhões (R$ 2,4 bilhões) entre 2020 e início de 2024 apoiando esforços para expandir a produção nos Estados Unidos.

Mas esses esforços ainda são pequenos em escala comparados aos da China, e especialistas acreditam que ainda pode levar anos, se não décadas, para alcançar a liderança da China.

Mesmo que Trump tivesse sucesso em superar as enormes dificuldades práticas na extração de minérios contendo terras raras de lugares como Ucrânia e Groenlândia, esses aglomerados de terra provavelmente seriam enviados à China para serem transformados em uma forma utilizável.

Poderia levar de cinco a dez anos para os EUA e seus aliados quebrarem o domínio da China, em parte porque Pequim colocou controles de exportação cada vez mais rígidos sobre os equipamentos necessários para processar terras raras e porque as empresas chinesas produzem tanto, tão barato, que nenhuma empresa ocidental pode competir em custos, disse Zhang.

A maior vantagem da China é poder refinar os metais a um nível de pureza de 99,99%, enquanto os concorrentes internacionais frequentemente lutam para ultrapassar 99,95% —uma grande diferença para alguns usos industriais, segundo analistas.

Ao mesmo tempo, Pequim tem trabalhado arduamente para defender sua dominância.

Em dezembro de 2023, autoridades anunciaram a proibição da exportação da tecnologia de processamento usada para extrair e separar terras raras ou transformá-las em ímãs. Então, no final do ano passado, a China promulgou regulamentos para impedir que seus minerais críticos fossem vendidos a empresas que fabricam armas militares.

Embora cada movimento tenha sido cronometrado para coincidir com as restrições dos EUA à tecnologia de semicondutores, o sistema em si foi construído para durar.

Mais recentemente, Pequim tem trabalhado para obter uma imagem mais clara do que cada empresa chinesa de terras raras está fazendo e para onde está enviando seus produtos.

As autoridades supostamente começaram a solicitar mais informações sobre os clientes das empresas como parte do processo de licenciamento, tornando mais difícil para as empresas americanas dependerem de fornecedores intermediários em lugares como Japão ou Coreia do Sul.

A polícia e os funcionários da alfândega chineses lançaram uma operação especial para reprimir o contrabando de minerais críticos no início de maio, declarando que havia uma necessidade urgente de interromper o fluxo ilegal de itens sujeitos a controles de exportação.

As autoridades alertaram no mês passado que as empresas chinesas que extraem ou processam terras raras devem inserir detalhes de produção, exportação e inventário na plataforma de rastreamento do Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação. “Relatórios falsos, ocultação, omissão e outros comportamentos fraudulentos serão severamente tratados”, de acordo com um aviso oficial.