/ Jun 13, 2025

Mulheres sofrem mais na política do que homens – 10/06/2025 – Lorena Hakak

O caso anedótico do embate entre o senador Plínio Valério e a ministra Marina Silva, durante a sessão da Comissão de Infraestrutura do Senado no último dia 27, nos lembra que a violência contra a mulher na política é algo enraizado e que precisa ser combatido. Em um momento, ele afirma: “Ministra, que bom reencontrá-la. E ao olhar para a senhora, eu estou vendo uma ministra. Eu não estou falando com a mulher. Eu estou falando com a ministra.” Então ela responde: “Eu sou as duas coisas.” Logo depois, ele retruca: “Porque a mulher merece respeito, a ministra, não.” Não podemos esquecer que ele já havia declarado anteriormente que tinha vontade de enforcá-la. Que tipo de afirmações são essas? O que leva um senador da República a proferir tamanhas barbaridades contra uma colega de profissão?

As mulheres foram consideradas incapazes ou cidadãs de segunda classe por muito tempo, e essa exclusão é sentida até hoje. O direito ao voto chegou tarde. Porém, não é só a demora na conquista dos direitos que prejudica a maior participação das mulheres na política. A literatura traz evidências de que as mulheres sofrem mais intimidação e assédio do que os políticos homens, e essas atitudes afetam a representação feminina.

Casos de intimidação e assédio acontecem não só no Brasil, mas em diversos países. O estudo de 2024 de Sandra Hakansson sobre a Suécia mostra que, mesmo em um país considerado menos sexista, os custos da violência contra políticas persistem. Não só a ambição política das mulheres pode ser afetada por esse comportamento, mas também o fato de que homens e mulheres são avaliados de forma distinta, dados os padrões existentes. Esse comportamento não só reduz as chances de recrutamento efetivo, mas significa menor apoio real para as eleições e menor visibilidade. Ademais, uma vez no cargo, espera-se que as políticas sejam respeitadas por suas ideias. O que se observa é que as mulheres têm menor visibilidade, menos apoio a seus projetos e são mais interrompidas e sujeitas a comentários pessoais do que os homens.

No Brasil, um estudo recentemente publicado pela professora Paula Pereda (FEA/USP) e pelos ex-alunos da Universidade de São Paulo Fernanda Peron e Felipe Bailez traz evidências de que, infelizmente, o caso da ministra não é isolado. O estudo baseado na monografia de Fernanda tem o objetivo de entender se há diferenças na forma como as mulheres políticas são retratadas em relação aos seus colegas homens. Para investigar o viés de gênero em discursos políticos online, os autores analisaram mais de 400 mil mensagens de grupos públicos de WhatsApp. Os resultados são impressionantes. As mulheres, apesar de representarem 24% dos políticos no conjunto de dados, são mencionadas em somente 18% das mensagens. Outra diferença é que as mensagens que retratam as políticas têm maior probabilidade de destacar seus atributos pessoais (aparência física, papéis familiares ou sexualidade) do que aquelas sobre políticos homens.

Os resultados apresentados nas pesquisas científicas apenas confirmam o que já sentimos no dia a dia da política. Essas diferenças só reduzem as chances de aumentarmos a representatividade feminina na política, apesar das evidências de que prefeitas têm menor probabilidade de se envolver em irregularidades do que prefeitos e que investem mais em saúde (Gênero importa na gestão pública?). Está mais do que na hora de a sociedade aumentar a pressão política por ações mais efetivas no combate a essas práticas, seja no momento do voto ou por meio da criação de novas leis.


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