Há seis meses, as perspectivas para o nascente mercado de remoção de carbono pareciam tão vastas quanto o céu.
Bill Gates e outros investidores anunciavam financiamentos a startups que prometiam sugar dióxido de carbono da atmosfera, ajudando a conter o aquecimento global.
Empresas renomadas como Google, Airbus e Amazon entraram para comprar créditos de remoção de carbono. E a McKinsey projetou que o mercado poderia valer até US$ 1,2 trilhão (R$ 6.68 trilhões) até 2050. Um investidor chamou isso de “a maior oportunidade que vi em 20 anos operando em capital de risco”.
Mas com menos de seis meses do segundo mandato do presidente dos EUA, Donald Trump, no qual ele tem agido para diminuir drasticamente a política climática, a indústria de captura de carbono está decididamente mais contida.
O Departamento de Energia cancelou no mês passado 24 subsídios no valor de US$ 3,7 bilhões (R$ 20,6 bilhões), a maioria dos quais havia sido destinada a projetos de captura e armazenamento de carbono. As solicitações de novas licenças de captura e sequestro de carbono nos Estados Unidos caíram 55% no primeiro trimestre do ano.
E no mês passado, a Climeworks, a empresa de remoção de carbono mais conhecida, cortou 22% de sua equipe em antecipação a um crescimento mais lento. Outras duas startups de captura de carbono, Heirloom e Pachama, também anunciaram demissões nas últimas semanas.
“Há uma nova administração nos EUA”, afirmou Jan Wurzbacher, co-CEO da Climeworks. “Isso é um fato, e a nova administração coloca certas coisas em questão.”
No entanto, não é apenas o cenário político que mudou. Também há novas questões sobre a viabilidade de algumas tecnologias proeminentes de captura de carbono.
A usina principal da Climeworks na Islândia, que usa a chamada captura direta de ar para remover dióxido de carbono do céu, removeu apenas uma pequena fração do dióxido de carbono que esperava durante seus primeiros 10 meses de operação, de acordo com o Heimildin, uma organização de notícias islandesa.
“Leva tempo para aumentar a capacidade”, disse Wurzbacher quando perguntei sobre o relatório. “Estamos apenas no começo, e tem demorado mais do que pensávamos.”
ALCANÇANDO A “SEGURANÇA ENERGÉTICA”
A indústria não está em queda livre completa.
Dois grandes desenvolvimentos de captura direta de ar que foram aprovados pela administração Joe Biden, incluindo um na Louisiana envolvendo a Climeworks, conhecido como Projeto Cypress, não estavam entre os projetos cancelados pelo Departamento de Energia.
Wurzbacher indicou que as interações de sua empresa com a administração Trump têm sido limitadas, mas que, por enquanto, ele espera que o Projeto Cypress avance, embora com alguns atrasos.
Créditos fiscais para projetos de captura de carbono sobreviveram até agora às negociações republicanas sobre seu projeto de lei de política emblemática, ao contrário de alguns outros créditos fiscais de energia limpa. (A capacidade de transferir esses créditos fiscais pode ser limitada, o que poderia prejudicar algumas startups.)
E em abril, a Occidental Petroleum, uma importante empresa de petróleo e gás que também está investindo em tecnologia de captura direta de ar, recebeu aprovação governamental para sequestrar o dióxido de carbono que suga do ar com uma nova instalação gigante que está construindo no Texas, nos EUA.
Vicki Hollub, CEO da Occidental, comentou que o projeto “ajudará os Estados Unidos a alcançar a segurança energética”, uma referência retórica a Trump.
Ela acrescentou que o projeto “ajudará organizações a lidar com suas emissões”, um aceno para empresas que desejam sequestrar permanentemente dióxido de carbono no subsolo em uma tentativa de reduzir o aquecimento global.
Ao mesmo tempo, ela disse que a captura direta de ar poderia ajudar a “produzir recursos e combustíveis vitais”, uma referência à prática de usar dióxido de carbono capturado para extrair mais gás do subsolo.
Defensores retrataram a captura de carbono como necessária para atingir metas climáticas globais de longo prazo, mas a perspectiva de usar carbono capturado para produzir mais combustíveis fósseis leva alguns ativistas climáticos a vê-la como pouco mais que um ardil projetado para ajudar a perpetuar o negócio de petróleo e gás.
“UM GRANDE PASSO ATRÁS”
O mercado de remoção de carbono depende de empresas que compram voluntariamente créditos de startups que prometem remover o gás de efeito estufa da atmosfera, uma dinâmica que deixa a indústria vulnerável às prioridades mutáveis do mundo corporativo.
Por enquanto, grandes empresas ainda estão se alinhando para comprar créditos de remoção de carbono de uma série de startups. O CDR.fyi, um site que acompanha a indústria, relatou que Bain & Co., Microsoft e JPMorgan estavam entre as empresas que assinaram acordos com empresas de remoção de carbono neste ano.
No entanto, mesmo Alexander Rink, CEO da CDR.fyi, fez uma observação cautelosa quando questionado sobre o futuro da indústria. Rink espera que as vendas de créditos de carbono vinculados à captura direta de ar continuem crescendo, mas também prevê que mais empresas do setor irão à falência.
A Carbon Capture Coalition, um grupo da indústria, chamou a decisão do Departamento de Energia de cancelar os 24 subsídios de “um grande passo atrás na implantação nacional de tecnologias de gestão de carbono”.
E Wurzbacher disse que, embora a Climeworks ainda espere construir sua primeira usina nos EUA na Louisiana, a empresa está se retraindo. Em vez de tentar escalar rapidamente e construir novas usinas, a empresa agora se concentrará em melhorar a eficiência de sua tecnologia em um esforço para reduzir custos.
“Olhando para o mundo ao nosso redor, decidimos que precisamos de um pouco de solidez”, finalizou.