A Toyota e a Daimler Truck, da Alemanha, finalizaram uma fusão estimada em R$ 35,5 bilhões entre suas divisões de veículos pesados no Japão, em resposta à crescente concorrência de rivais chineses que avançam rapidamente nas tecnologias de eletrificação e direção autônoma.
O acordo une a Hino Motors, subsidiária da Toyota, à Mitsubishi Fuso Truck and Bus, da Daimler Truck. A fusão cria uma potência japonesa no setor de veículos comerciais, com vendas anuais superiores a 200 mil unidades e maior escala para investir em caminhões e ônibus movidos a hidrogênio.
A fusão ocorre num momento em que a indústria global de veículos comerciais passa por uma rápida transição para motores elétricos e a hidrogênio, além da direção autônoma —áreas nas quais a China lidera o avanço.
Caracterizado por longas distâncias, cargas pesadas e tempos curtos de reabastecimento, o transporte rodoviário de cargas é visto como setor crucial para a Toyota desenvolver um mercado significativo para suas células de combustível de hidrogênio, já que o transporte de passageiros mais limpo vem sendo dominado pelos veículos elétricos a bateria.
Robin Zeng, bilionário fundador da gigante chinesa de baterias CATL, previu no mês passado que metade dos caminhões vendidos na China dentro de três anos será elétrica —sinalizando a transformação iminente no mercado de veículos pesados.
“Unindo dois parceiros fortes, criaremos uma empresa ainda mais poderosa e vamos avançar na descarbonização do transporte”, disse Karin Rådström, CEO da Daimler Truck. “Escala é a chave para vencer a transformação tecnológica da nossa indústria.”
A nova empresa —liderada pelo CEO da Mitsubishi Fuso, Karl Deppen— divide o setor de fabricação de veículos comerciais no Japão em dois grandes grupos, sendo o outro dominado pela Isuzu Motors.
A Toyota e a Daimler Truck, maior fabricante de caminhões do mundo, deterão participações iguais de 25% na holding, mas os direitos de voto da montadora japonesa serão menores, de 19,9%. Analistas do Jefferies estimam que o valor de mercado da nova entidade seja de R$ 32 bilhões, com base em 11 vezes o lucro operacional.
Após um acordo preliminar em maio de 2023, a fusão foi adiada em fevereiro de 2024 devido a um escândalo de falsificação de dados de motores na Hino.
No início deste ano, a Hino fechou um acordo de R$ 6,67 bilhões com autoridades dos EUA, o que levou a empresa a registrar um prejuízo líquido recorde, mas abriu caminho para a concretização da fusão.
Desde o anúncio inicial da fusão, ambas as empresas perderam espaço no mercado de caminhões, e tarifas dos EUA sobre importações agravaram os desafios enfrentados pelos fabricantes de veículos comerciais.
A conclusão do acordo ocorre em meio a grandes mudanças para a Toyota, que se prepara para participar da operação de fechamento de capital de R$ 183,5 bilhões da Toyota Industries, uma de suas principais fornecedoras.
Como parte do acordo, a Hino transferirá a propriedade da planta de Hamura para a Toyota Motor por R$ 834 bilhões. A maior montadora do mundo fabrica ali seus modelos Hilux e Land Cruiser 250.
A fusão também reforça a crescente cooperação entre Japão e Alemanha no setor de hidrogênio. As duas empresas planejam listar a holding no Japão e iniciar as operações até abril do próximo ano.